Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta sexta-feira: "Provas do descaso"

Confira o editorial desta sexta-feira: "Provas do descaso"

Redação

02/12/2016 - 03h00
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Há os prejuízos ocasionados pela sonegação e contrabando de mercadorias. Em tempos de crise, os gestores pagam o preço pela negligência.

O descontrole da fiscalização na fronteira atinge níveis assustadores, diante de tolerância e até cumplicidade inaceitáveis. Traficantes travam guerra pelo controle das drogas e armas que chegam a diferentes estados brasileiros, muitas vezes trazidas do Paraguai e Bolívia e tendo Mato Grosso do Sul como porta de entrada. Além dessa face danosa da criminalidade, conhecida por todos e ignorada pelo poder público, há os prejuízos financeiros ocasionados pela sonegação e contrabando de diversas mercadorias. 

    Em tempos de crise, os gestores pagam o preço pela negligência que ocorre há anos. Deixam de arrecadar milhões com tributos sonegados e impõem concorrência desleal às indústrias e comércios que agem dentro da legalidade. Recentemente, o Ministério Público Federal denunciou 32 envolvidos em esquema de fraude para facilitar crimes de descaminho e contrabando por meio da fronteira do Brasil com a Bolívia. Uma das quadrilhas era formada por servidores da Receita Federal de Corumbá, que recebiam vantagens indevidas para fazerem “vistas grossas” e liberarem as mercadorias de integrantes das organizações criminosas. 

    Aqueles que tinham o dever de fiscalizar, acabaram transformando a Inspetoria de Corumbá em “balcão de negócios”, aumentando consideravelmente seus rendimentos e bens. As investigações da Operação Vulcano demoraram dez anos até que fosse apurada a participação de cada integrante. A suspeita é que o grupo tenha causado prejuízos de R$ 600 milhões com impostos que deixaram de ser recolhidos. Além de importações fraudulentas, para sonegação de tributos, o esquema incluía exportações fictícias para que os envolvidos se beneficiassem com isenções de tributos. 

    Mesmo com esse lapso temporal, é importante que as irregularidades, se devidamente comprovadas, não acabem sem punições, indo além das exonerações já feitas. Só assim caminharemos para o devido combate à corrupção, ainda rodeado de falhas, incoerências e resistências. De alguma forma, essas perdas precisam ser ressarcidas ao poder público e, consequentemente, a toda população. Hoje, o Governo vem apelando frequentemente ao aumento de impostos, como medida para tentar aumentar a arrecadação numa época em que os cofres públicos são dilacerados pela crise econômica. Fica a sensação de que esse “peso ao contribuinte”  poderia ser menor caso as empresas não apelassem a tentativas para burlar às imposições legais e houvesse essa vistoria. 

     É lamentável que a irresponsabilidade de gestores no direcionamento de recursos para segurança continue contribuindo para aumentar a fragilidade na fronteira, resultando em aumento da criminalidade em todo o País e em perdas financeiras. Investimentos, como scanners veiculares, continuam esquecidos e o policiamento nas cidades é insuficiente diante do aparato das quadrilhas. Sem fiscalização eficiente, fica a insegurança sobre as reais mercadorias transportadas por caminhões que atravessam a fronteira e circulam livremente pelas estradas do País. 

    A quantidade de cocaína, maconha, armas e produtos contrabandeados em território brasileiro serve como prova contundente do descaso, que parece estar longe de terminar. A fronteira continua como território livre para atuação de criminosos.  
 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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