O apoio que tanto Higor quanto Vaiola sempre receberam estiveram presentes na noite em que a luta contra o preconceito foi coroada. Estudante de Artes Cênicas da UFGD, Higor tem 20 anos e Vaiola, 3. O artista e sua arte não só foram aceitos pelos pais como também aplaudidos no último sábado, quando Higor Cordon Cáceres venceu o Miss Gay 2018 como Vaiola Parker. “Para mim a coisa mais linda do concurso e que mais significou foi ver a presença deles”, disse Vaiola.
De Campo Grande, Higor deixou a Capital para estudar em Dourados e aqui os pais ficaram. A distância de 233 quilômetros que fez com que seu Ramão e dona Sônia só vissem o filho nos palcos como Vaiola no concurso. “Eu fiquei muito orgulhoso”, resumiu o pintor automotivo Ramão Cáceres, de 53 anos. Seu Ramão confessa que no começo não sabia o que era ser uma drag queen. “Foi uma surpresa, mas hoje eu vejo de outra forma, e foi lindo”, completa sobre a disputa que rendeu ao filho o título.
Vaiola Parker no desfile na noite do último sábado, no Miss Gay MS 2018.
Mostrar a identidade de Vaiola foi mais fácil para Higor do que se assumir gay. “Eu já morava em Dourados e comecei a viver com a arte, então veio mais como um trabalho para eles, que entenderam desde o começo que eu continuava sendo a mesma pessoa, não tinha virado uma mulher ainda, e que estava feliz com isso”, conta Higor.
Como o trabalho fixo é lá, a primeira vez que a família de Higor o viu se transformando foi um choque. “Mas não um choque negativo, salvo pela roupa que minha mãe julgou muito curta, mas ela ficou mesmo impressionada com a maquiagem e como eu fiquei diferente”, lembra.
Higor conheceu o mundo drag através do reality show americano “RuPaul’s Drag Race”, que consiste em uma disputa de drags para eleger a “America’s Next Drag Superstar”. “Vi e me encantei por esse mundo”, recorda. Desde então já são três anos se montando como Vaiola Parker. O primeiro nome, Higor explica que veio de uma drag que ele assistia nos tutoriais de maquiagem, já o sobrenome é emprestado da primeira eliminada na história do reality. “Achei um nome forte, marcante e era isso que eu queria passar como imagem da minha drag”, completa.
Vaiola tem familiaridade com o palco, talvez já seja um talento de nascença e que foi aprimorado no curso superior. “Comecei a conhecer a arte drag na faculdade e hoje eu trabalho com isso, com performer, hostess, me apaixonei”, descreve Higor. O convite para participar da 11ª edição do Miss Gay MS veio de supetão, quase como uma obrigação, por parte do organizador do evento durante a Parada Gay em Dourados.
Entre o interior e a Capital, Higor ressalta que em Dourados nunca sofreu o preconceito que passou aqui. “Eu sempre convivi no meio de pessoas que me aceitam e respeitam. Nunca ousei sair fora deste meio, acredito que sofri mais em Campo Grande do que em Dourados. Lá eu tenho minha casa, meu trabalho e sou muito bem recebida, aqui que recebo um pouco de negatividade”, detalha.
Sobre o que é ser drag, Higor se transforma em Vaiola para dizer que pelos cílios e o salto alto consegue trazer a representatividade e transbordar arte. “É tirar lá do fundo da sua alma o que mais te incomoda, trazer a sua luta e transformar isso em algo bonito, que é a arte, que pode ser com maquiagem, se montar, performance. Drag é você libertar o que te prende. As palavras são essas arte e liberdade”.
Na noite de sábado, o Teatro Prosa do Sesc Horto foi palco para a 11ª edição do Miss Gay MS 2018. Há 11 anos o evento é realizado, organizado e praticamente bancado pela mesma pessoa, Frank Rossate. “É na raça, do bolso e na correria. Faço porque eu amo, gosto da arte transformista, gosto de miss, do glamour, de ajudar a colocar um salto, um vestido. Essa é a minha vida, meu hobby é fazer miss”, declara Frank.
Além de Vaiola Parker, foram coroados Tisciany Kamura como Miss Plus Size Diversidade e Adelino Júnior como Mister Gay.
Concurso chegou a 11ª edição no palco do Teatro Prosa do Sesc Horto, em Campo Grande.