As aulas presenciais nas escolas públicas de Mato Grosso do Sul, tanto municipais quanto estaduais, serão retomadas no segundo semestre deste ano letivo, após um ano e meio sendo realizadas de forma remota.
Por causa desse período longe do convívio diário, especialistas ouvidos pelo Correio do Estado avaliam que o retorno trará grandes dificuldades, principalmente para os alunos mais pobres.
Desde a chegada da pandemia de Covid-19 no Estado, em março de 2020, os ambientes escolares foram substituídos pelo ensino remoto, implementado no País com o objetivo de amenizar os efeitos que o isolamento social impôs à educação.
Na prática, a realidade de um ensino desigual foi potencializada e se transformou em um abismo, em que as oportunidades se distanciam dos mais vulneráveis.
As consequências diretas da pandemia serão sentidas dos prejuízos na alfabetização até o abandono escolar.
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Para o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, serão necessários muitos investimentos no setor para que os danos educacionais sejam reparados a longo prazo.
“Prevemos grandes dificuldades na retomada das aulas nas séries iniciais, haverá muita defasagem de aprendizagem.
Esta, inclusive, será a nossa grande dívida com essa geração de alunos”, ponderou.
A pesquisa mais recente do Instituto Datafolha apresentou um cenário em que 40% dos estudantes da Educação Básica no Brasil não estão evoluindo na aprendizagem.
Conforme relatado pelos pais ou responsáveis, desmotivados, grande parcela dos estudantes consideram abandonar os estudos.
Em relação ao impacto da pandemia na alfabetização, a pesquisa apontou que mais da metade das crianças, por volta de 51%, estacionou na aprendizagem.
Em 22% dos casos, os pais alegam que houve retrocesso, ou seja, as crianças desaprenderam conteúdos com os quais já estavam familiarizadas.
Desafios
Segundo a pedagoga Kátia Araújo, o período de volta às aulas será muito difícil, por conta de todos os meses em que as crianças ficaram fora da sala de aula.
Conforme a professora, a primeira etapa será de readaptação ao ambiente escolar. Por outro lado, as escolas particulares retomaram as atividades ainda em 2020.
Para crianças menores, será necessário utilizar recursos lúdicos para que a volta ao ensino seja possível, por meio de trabalhos com música, jogos e ferramentas que façam a escola ser atrativa e interessante novamente.
Araújo ponderou que as atividades diagnósticas serão importantes para detectar o que de fato ficou defasado no aprendizado.
“Teremos que contar com professores de reforço, haja vista que muitas crianças terão dificuldades.
Será necessário buscar, ainda, uma nova metodologia de ensino atrelada ao ainda recorrente cenário de pandemia”, ressaltou Kátia.
Retorno
Com aulas remotas há 14 meses, MS se prepara para retomar as aulas na Rede Estadual de Ensino (REE) em 2 de agosto.
A nova data foi definida em reunião conduzida pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).
Segundo a Secretaria de Estado de Educação (SED), o retorno será gradual para os mais de 200 mil alunos matriculados nas 345 escolas da rede e deve obedecer aos critérios definidos pelo Prosseguir.
O município que estiver na bandeira cinza, grau extremo de contágio por Covid-19, só poderá ter 30% dos estudantes em sala de aula, com o restante no sistema remoto.
Incertezas
Mãe de oito crianças e adolescentes, a cuidadora de idosos Ericka Ferreira da Silva, 35 anos, relatou ao Correio do Estado que, por ora, não pretende mandar os filhos de volta para o ensino presencial nas escolas públicas de Campo Grande.
“Prefiro esperar para que eles se vacinem primeiro, aqui em casa só eu estou imunizada”, afirmou.
Com a rotina intensa de trabalho no hospital, Silva afirmou que as filhas mais velhas se transformaram em tutoras em casa.
“Agora ficou melhor aqui em casa, conseguimos colocar internet para facilitar o ensino”, ponderou.
Para conter o avanço da doença atrelada às aulas presenciais na Capital, a Rede Municipal de Ensino (Reme) fará o ensino escalonado.
Com uma série de mudanças na rotina escolar, a retomada está prevista para o dia 26.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Semed), haverá limite de ocupação das salas de aula de 30% a 50%.
Por esta razão, para o revezamento, uma turma poderá ser dividida três.


Crédito: Gerson Oliveira / Correio do Estado


