Anunciada faz 15 anos, a ferrovia de 89 quilômetros ligando a fábrica de celulose Eldorado, em Três Lagoas, à Ferronorte, em Aparecida do Taboado, deu um passo fundamental nesta semana. É que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou na terça-feira (23) e reafirmou nesta quarta-feira (24) a liberação de R$ 1,05 bilhão para a Eldorado Brasil Celulose S.A. construir uma nova ferrovia para escoamento de celulose.
Durante as obras, a estimativa do BNDES é de geração de mais de 3 mil empregos diretos e indiretos. Conforme explicação da instituição, "o apoio do Banco se dá por meio da subscrição de R$ 1 bilhão em debêntures de infraestrutura, com emissão coordenada pela própria instituição, e mais o financiamento de R$ 50 milhões por meio da linha Finem".
“O BNDES mais uma vez é pioneiro no desenvolvimento do mercado de capitais, sendo o primeiro a estruturar uma debênture de infraestrutura nova. O projeto apoiado vai reduzir os custos logísticos e aumentar a competitividade da celulose brasileira, num setor em que o país é um dos maiores produtores do mundo, com cerca de 24,3 milhões de toneladas ano, atrás apenas dos Estados Unidos e da China", afirmou Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.
"A ferrovia também é um modo de transporte mais sustentável, alinhada à política de transição para uma economia mais verde do governo do presidente Lula. Hoje, o transporte por meio rodoviário utiliza 50 mil caminhões por ano. Com a ferrovia, estimativa é reduzir em 87,3% as emissões CO2 por ano, cerca de 105,3 mil toneladas”, estimou Mercadante.
Ativada em 2012, a Eldorado produz em torno de R$ 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano. Porém, os proprietários da indústria, os irmãos Joesley e Wesley Batista, da holding J&F, prometem instalar uma segunda unidade e duplicar a capacidade de produção.
Atualmente, toda a produção é levada por caminhão até Aparecida do Taboado e de lá segue de trem até o porto de Santos, onde a Eldorado ativou em 2023 um terminal exclusivo para a exportação de sua produção.
SONHO ANTIGO
Em julho de 2023, quando da inauguração deste terminal, Joesley Batista afirmou que “ter um terminal no Porto de Santos conectado com a fábrica era um sonho desde quando a gente iniciou o projeto da Eldorado, em 2010. Fomos construindo um maciço florestal, a fábrica e a parte logística. E agora fica faltando só uma linha ferroviária de 90 quilômetros, que deve iniciar as obras daqui um ano, e vai conectar 100% a fábrica ao porto”.
Conforme essa previsão, a construção da ferrovia deveria ter começado há um ano e meio. A Eldorado já tem desde 2022 as autorizações da ANTT para construção do ramal e desde 2024 a licença para desapropriação e indenização de 700 hectares de terras nas quais os trilhos serão instalados.
Agora, ao buscar apoio do BNDES, a empresa está indicando que finalmente vai executar o projeto. O montante liberado pelo banco estatal, porém, será insuficiente para implantação dos quase 90 quilômetros.
Em Inocência, a chilena Arauco anunciou investimento da ordem de R$ 1 bilhão para construção de um ramal ferroviário de 47 quilômetros ligando a futura fábrica à Ferronorte. As obras começaram no final de novembro e devem se estender por quase dois anos.
Isso equivale a quase de R$ 22 milhões por quilômetro. Então, seguindo este parâmetro, os 90 quilômetros que a Eldorado pretende implantar demandarão em torno de R$ 1,9 bilhão.
Além disso, a chilena Arauco anunciou investimento de mais R$ 1,4 bilhão para aquisição de 23 locomotivas e aproximadamente 750 vagões, incluindo reservas, para formar sete comboios de 100 vagões cada.
A previsão é de que diariamente saia um comboio com cem vagões da fábrica de Inocência rumo ao porto de Santos depois da ativação da fábrica, prevista para o final de 2027.
A Arauco terá capacidade para 3,5 milhões de toneladas por ano. Caso tire do papel a promessa de duplicar a produção, a Eldorado terá capacidade semelhante e terá de fazer investimento idêntico ao da Arauco para aquisição de locomotivas e vagões.
No final de novembro os responsáveis pelo setor florestal da Eldorado chegaram a anunciar que a partir de 2026 a empresa elevaria a área anual de plantio de eucaliptos da casa dos 25 mil hectares para até 50 mil hectares, o que seriam os primeiros passos para a instalação da segunda unidade.
Na semana passada, porém, o diretor da área florestal informou que este aumento na área plantada foi adiada. A alegação é de que a empresa já conta com um excedente da ordem de 100 mil hectares de eucaliptos para abastecer esta segunda unidade nos primeiros anos de funcionamento, caso o projeto saia do papel.


