Artigos e Opinião

Editorial

A farsa no aumento de vagas de deputado

Criar 18 novas cadeiras de deputado significa criar 18 novas máquinas de gasto público recorrente em meio a um país com deficit, teto de gastos e problemas fiscais

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O Brasil não precisa de mais gastos, muito menos de medidas que desrespeitam a lógica federativa, o bom senso orçamentário e o princípio republicano de representação proporcional. Mas é exatamente isso que está prestes a acontecer no Congresso Nacional, com a aprovação de uma das maiores aberrações legislativas desde a redemocratização: a criação de mais 18 cadeiras na Câmara dos Deputados sem que se corte nenhuma das atuais.

A justificativa da proposta até parece razoável à primeira vista: atualizar o número de parlamentares de cada estado de acordo com a evolução populacional captada pelo Censo de 2022. De fato, o ideal seria que os estados mais populosos tivessem mais representantes, enquanto os que perderam população – ou cresceram menos – tivessem reduzida sua participação na Casa. Afinal, a Câmara dos Deputados é, por definição constitucional, a Casa do Povo, e o povo deve estar ali representado na medida de sua presença nos estados.

O que a Câmara faz, no entanto, é um drible grotesco no espírito da lei. A proposta aumenta o número de cadeiras para os estados que cresceram, mas não reduz nenhuma cadeira dos estados que ficaram para trás na proporcionalidade. O resultado é uma distorção dupla: um aumento irresponsável de gastos públicos e o agravamento da desigualdade entre os cidadãos brasileiros, dependendo de onde eles vivem.

A representatividade proporcional, premissa básica da democracia, será ferida de morte. Estados com menor peso populacional continuarão com o mesmo número de deputados, enquanto outros, de maior densidade, ganharão mais, criando uma assimetria ainda maior no valor do voto de cada cidadão.

O eleitor de Roraima ou do Amapá continuará valendo mais que o de São Paulo ou de Minas Gerais no cálculo político do Congresso.

Além disso, é preciso destacar o impacto fiscal da medida. Cada gabinete parlamentar custa caro ao erário: salários, assessores, cotas, estruturas de apoio, passagens e verbas indenizatórias. 

Criar 18 novas cadeiras significa criar 18 novas máquinas de gasto público recorrente em meio a um país com deficit, teto de gastos e uma população que já não suporta mais pagar pela ineficiência do Estado.

Diante desse cenário, é necessário reconhecer a coerência e a responsabilidade da bancada federal de Mato Grosso do Sul, que se posicionou contra essa manobra populista e distorcida. 

O Estado não será beneficiado pela redistribuição, e seus parlamentares agem com sobriedade ao rejeitarem o aumento injustificável da estrutura legislativa.

Se a representação popular deve ser respeitada, que o seja com coragem, revisando para valer a composição da Câmara – com reajustes para mais e para menos. Qualquer outra solução é covardia política, inchaço administrativo e traição ao pacto federativo. O Brasil não precisa de mais deputados. Precisa de mais respeito à sua Constituição e à sua população.

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EDITORIAL

Crises de fim de ano expõem falha na gestão

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa

19/12/2025 07h15

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A virada para 2026 entra para a história recente de Campo Grande como uma das mais conturbadas dos últimos anos. Talvez desde meados da década passada não se via uma sucessão tão clara de crises financeiras e falhas na engrenagem dos serviços públicos locais justamente no momento em que a cidade deveria buscar estabilidade para atravessar o novo ano.

O problema não é pontual tampouco isolado: ele se repete em áreas essenciais e expõe fragilidades estruturais que vêm sendo empurradas com a barriga.

A greve do transporte coletivo, encerrada apenas no início da noite de ontem, é um retrato fiel desse cenário. Durante quatro dias, a população ficou refém de um sistema que parou porque o Consórcio Guaicurus não tinha recursos para pagar salários.

A solução não veio de uma gestão eficiente ou de um planejamento responsável, mas de um socorro emergencial do governo do Estado, que antecipou mais de R$ 3 milhões referentes a uma das parcelas do subsídio ao passe do estudante. Ou seja, o serviço só voltou a funcionar quando o dinheiro público entrou para tapar mais um buraco.

Situação semelhante se repete na Saúde. A Santa Casa, há anos em crise, agora está sob determinação judicial para apresentar um plano capaz de enfrentar um deficit que parece não ter fim. No transporte coletivo, a Justiça foi além e determinou uma intervenção no consórcio responsável pelo serviço.

Quando decisões judiciais passam a ditar os rumos da gestão, fica evidente que algo falhou muito antes, seja na formulação dos contratos, seja na fiscalização ou na condução cotidiana desses serviços.

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa e, principalmente, de quem deveria fiscalizar contratos milionários. Não se trata apenas de escassez de recursos.

Trata-se de como esses recursos são utilizados, de modelos que se mostram esgotados e de contratos que não resistem ao primeiro choque mais sério.

O mais preocupante é que, mesmo após a injeção de milhões de reais do poder público na Santa Casa e no Consórcio Guaicurus, o dinheiro continua insuficiente. Isso deixa claro que o problema é estrutural.

As verbas estão, de fato, mais apertadas neste ano, mas a crise não nasceu agora. Ela é fruto de anos de escolhas erradas, de ausência de transparência e de tolerância com resultados ruins.

A virada de ano conturbada serve, portanto, como um alerta. Não basta apagar incêndios com aportes emergenciais, é preciso rever modelos, refazer contas, cobrar responsabilidades e, sobretudo, planejar com seriedade.

Caso contrário, Campo Grande corre o risco de transformar crises excepcionais em rotina permanente, e isso, definitivamente, a cidade não pode mais aceitar.

ARTIGOS

O combalido Congresso Nacional

A prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um "orçamento secreto" que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite

18/12/2025 07h45

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Para falar sobre o tema, não poderia deixar de citar uma frase célebre do ilustre brasileiro Ruy Barbosa, que foi político, jurista, advogado, diplomata e jornalista, nascido em 1849 e falecido em 1923.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Uma frase com cerca de um século de sua criação nunca foi tão atual, se comparada com os mórbidos acontecimentos vividos neste último período pela Câmara dos Deputados.

Fica evidente a prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um “orçamento secreto” que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite, propiciando a prática de atos ilícitos e imorais, travestidos de legalidade.

Deputados processados pelos mais variados tipos de crime, inclusive de lesa-pátria, incitando nação poderosa a invadir nosso país e a causar enormes prejuízos às classes produtoras e trabalhadoras, que geram as receitas que proporcionam a força necessária ao bom funcionamento da roda da economia.

Pior: parece que tudo o que vem acontecendo é encarado como fato corriqueiro pelo comandante da Câmara dos Deputados, que até chegou a ser deposto de sua cadeira por um grupo de parlamentares desordeiros e, até o momento, sem qualquer punição.

As telecomunicações alcançaram níveis impensáveis em termos de transmissão de dados, como imagens e sons de alta precisão, e, com isso, o planeta Terra tem assistido às barbáries ocorridas no plenário da Casa de Leis, habitada por um seleto grupo de homens e mulheres escolhidos pelo voto e que lhes proporciona os mais variados tipos de privilégios, consumindo recursos bilionários oriundos de pessoas físicas e jurídicas pagadoras de impostos, que não veem o necessário retorno em obras e serviços essenciais, como saúde, segurança pública e transportes.

Um fator preponderante para a continuidade desses desmandos é a hereditariedade nos cargos políticos, em que os ungidos não precisam provar capacidade técnica ou profissional para exercer um mandato.

Basta ter QI de força para manter em cabrestos os seus apaniguados, com nomeações que os tornam fiéis aos seus patrões e que, quase sempre, só deixam o cargo aposentados, com gordos salários, diferentemente do trabalhador brasileiro aposentado pelo famigerado INSS.

No ano que vem, teremos eleições majoritárias. É evidente que quem está lá não quer sair, mas está passando da hora de o cidadão consciente valorizar o poder de sua arma, qual seja, o Título Eleitoral, para promover a varredura necessária no Poder Legislativo, tanto federal como estaduais.

Por uma questão de justiça, a exceção se faz em relação aos parlamentares que reconhecidamente prestam bons serviços à comunidade.

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