Um dos maiores fatores de estabilidade de uma sociedade capitalista é a previdência. Trata-se de uma instituição que cumpre papel essencial na coesão social e no sentimento de segurança coletiva.
Ao longo da vida, o trabalhador contribui com parte de sua renda para um sistema que, em tese, deve lhe garantir tranquilidade e dignidade no momento em que o corpo já não tem o mesmo vigor e o mercado de trabalho se torna um ambiente excludente.
É uma lógica simples e justa: quem ajudou a construir o País com sua força de trabalho não pode ser abandonado à própria sorte na velhice.
Ainda não há consenso, nem no Brasil nem no mundo, sobre a forma ideal de financiamento da previdência. Alguns países optam por modelos públicos e universais; outros, por sistemas mistos, com participação privada e fundos de capitalização; e há ainda os regimes estritamente privados.
Cada um desses modelos tem vantagens e desvantagens, custos e riscos distintos. Mas há algo que se tornou quase um consenso civilizatório: a necessidade de oferecer garantias mínimas aos cidadãos no fim da vida, assegurando o direito básico de envelhecer com dignidade. Esse é o conceito fundamental que sustenta o pacto previdenciário.
No Brasil, a previdência pública – salvo nos casos de servidores estaduais e municipais, que têm regimes próprios – é administrada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A autarquia é responsável por garantir benefícios a milhões de trabalhadores, o que inclui aposentadorias, pensões, auxílios e outros direitos. O problema é que, há muito tempo, o INSS deixou de ser exemplo de eficiência e respeito ao cidadão.
Nesta edição, mostramos um retrato claro dessa ineficiência: a fila crescente de pedidos por benefícios. Em Mato Grosso do Sul, o número de solicitações pendentes triplicou em apenas um ano, conforme dados apurados em reportagem.
Essa é uma realidade que se repete em todo o País, com prazos que se alongam sem justificativa plausível e sem qualquer horizonte de solução.
O mínimo que se espera de um órgão público é a resposta. Ainda que o pedido seja negado, o cidadão precisa saber por que e quando terá um desfecho.
O que o INSS faz, no entanto, é justamente o oposto: mantém milhões de brasileiros à espera, sem previsão, sem explicação e sem perspectiva. Trata-se de um descaso que agride não apenas o bolso, mas a dignidade de quem depende do benefício para sobreviver.
Não é apenas a lentidão que preocupa. O escândalo recente dos descontos indevidos em aposentadorias revelou outro lado da mesma moeda: a falta de controle interno e de responsabilidade administrativa. O que deveria ser uma estrutura confiável, capaz de proteger o trabalhador, tem se mostrado vulnerável a falhas, fraudes e desorganização.
O que se espera, portanto, é mais eficiência e mais seriedade na gestão da previdência. Isso significa investir em pessoal, tecnologia, auditoria e, acima de tudo, em compromisso com o cidadão. A previdência não é um favor, é um direito adquirido com décadas de contribuição.
Fazer justiça nesse setor é mais do que corrigir falhas administrativas. É reafirmar o valor do trabalho humano e a promessa que o Estado fez a quem ajudou a construí-lo.
O trabalhador não quer privilégios – quer apenas que se cumpra o pacto social básico: trabalhar, contribuir e, no tempo certo, receber o que lhe é devido, sem precisar esperar indefinidamente por aquilo que é seu por direito.


