Ontem, celebramos o Dia do Bombeiro, uma data que reconhece o trabalho de quem se dedica a proteger vidas, florestas e comunidades do avanço do fogo e dos danos ao meio ambiente. Mais do que uma homenagem, essa data nos faz lembrar o quanto essa profissão é construída com coragem, preparo e muito coração.
Minha caminhada como brigadista começou em 2016, depois de experiências na colheita e nas Forças Armadas. Sempre me identifiquei com atividades que exigem disciplina, mas foi na brigada que encontrei um propósito maior. No começo, a rotina era basicamente apagar incêndio, um foco aqui, outro ali, e logo surgia mais fogo adiante. Era como correr atrás do prejuízo o tempo todo, “enxugando gelo”.
Com o tempo, a gente entendeu que só o combate não bastava. Era preciso agir antes que o fogo começasse.
Neste pensamento, demos início ao programa Amigos da Floresta, na Bahia, e que hoje está presente também em Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Passamos a visitar comunidades vizinhas, a conversar, a orientar, a distribuir kits e a ouvir. Muitos incêndios começam por falta de informação. Às vezes, é um galho seco queimado no fundo do quintal, uma roçada mal programada, um lixo queimado no fim da tarde.
Quando a gente chega antes, com diálogo e presença, o fogo nem começa.
E quando digo que “a floresta é nossa”, não é força de expressão. Já vivemos situações em que o fogo ameaçava casas, famílias e rebanhos. Lembro de uma ocorrência em Água Clara, em que a dona da fazenda, com criança pequena no colo, ligou-nos desesperada. Já tínhamos passado por lá antes, em uma ação solidária, e ela lembrou da nossa equipe. A gente foi. Chegamos com o fogo praticamente na porta da casa. Fizemos o combate, resgatamos o gado, controlamos a situação. Quando tudo se acalmou, ela chorava de alívio. Esse tipo de experiência a gente não esquece. A gente se solidariza.
O ano passado foi um dos mais desafiadores. Houve combates que duraram mais de 30 horas, sob calor intenso, sem trégua. Mas seguimos, porque sabemos que cada área preservada representa um passo a mais na direção certa.
Só aqui no Estado, nossa equipe é formada por 140 brigadistas, gente das comunidades rurais, jovens que encontram na brigada a primeira oportunidade de trabalho e, também, um caminho de crescimento. Com treinamento, orientação e vivência, muitos se tornam profissionais completos, com certificações e experiência de sobra.
Também levamos educação ambiental para as escolas. Porque a prevenção começa na base. Uma criança que entende os riscos do fogo e conversa com os pais sobre isso já está ajudando a proteger o que é de todos. E isso, para mim, é construir o futuro.
O fogo não respeita cerca, propriedade ou nome. Quando chega, só a união faz a diferença. Brigadistas, produtores, vizinhos, todos do mesmo lado. Ser brigadista é saber que, mesmo exausto, coberto de fuligem, valeu a pena. E quando chego em casa e meu filho diz que sou herói, na verdade sei que somos todos heróis, cada um fazendo a sua parte.
A floresta é nossa. E cuidar dela é cuidar da nossa própria história.


