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A saúde mental no ambiente de trabalho e o Setembro Amarelo

Uma realidade cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras que veem suas vidas serem engolidas pelo trabalho

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Milhões de brasileiros enfrentam jornadas exaustivas, pressões excessivas e vínculos cada vez mais frágeis. Os dados recentes confirmam a gravidade da situação. Levantamento feito pela VR, que reúne informações de quase 30 mil empresas e 1,2 milhão de trabalhadores, mostra que os afastamentos por transtornos de saúde mental cresceram 143% entre janeiro e julho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Foram 4.819 casos, o que equivale a uma média mensal de 688 afastamentos, contra 283 em 2024. Entre os jovens da geração Z, a ansiedade é a principal causa, enquanto a depressão predomina nas gerações anteriores.

Esse fenômeno não é isolado. Ele reflete uma realidade cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras que veem suas vidas serem engolidas pelo trabalho. Antes mesmo do expediente começar, o celular já vibra com mensagens de chefia.

O tempo para lazer e convivência desaparece. As metas se tornam inalcançáveis e o clima de desconfiança corrói a cooperação. As consequências são crises de identidade, transtornos como ansiedade e depressão, esgotamento e estresse crônico.

Em 2024, mais de 472 mil brasileiros precisaram se afastar de seus postos por problemas de saúde mental, segundo o Ministério da Previdência Social.

E o Setembro Amarelo, campanha voltada à prevenção do suicídio e à valorização da vida, não pode ser compreendido sem levar em conta o ambiente de trabalho. A precarização das relações de trabalho é um dos elementos centrais dessa crise.

Jornadas intensas, contratações fraudulentas (pejotização e uberização), salários insuficientes, insegurança e vínculos frágeis fazem parte de uma lógica que privilegia a redução de custos em detrimento da saúde. O trabalho, que deveria ser fonte de identidade e sustento, torna-se causa de sofrimento e adoecimento.

Importante destacar que, diante desse cenário preocupante, o Direito do Trabalho vem incorporando respostas importantes. No fim de 2023, a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho passou a incluir ansiedade, burnout, depressão e até tentativa de suicídio.

Na prática, o reconhecimento assegura que o trabalhador afastado por mais de 15 dias em razão dessas condições tenha direito a estabilidade no emprego por 12 meses após o retorno, conforme previsto na Lei 8.213/1991.

Além disso, a Norma Regulamentadora nº 1, atualizada este ano, exige que empresas passem a identificar e a prevenir riscos psicossociais em seus programas de gerenciamento de riscos, como já fazem com riscos físicos, químicos e biológicos. Trata-se de um avanço jurídico, que obriga empregadores a enfrentar fatores subjetivos, como assédio moral, excesso de pressão e ausência de reconhecimento.

A Justiça do Trabalho também tem sido palco desse debate. Após o Supremo Tribunal Federal derrubar, em 2021, a regra da reforma trabalhista que impunha custas até a trabalhadores de baixa renda que perdiam ações, houve uma retomada no número de processos.

A judicialização, sobretudo no setor de serviços, revela não apenas maior acesso à Justiça, mas também a dificuldade das empresas em adotar práticas preventivas. Muitas ainda preferem lidar com o problema apenas quando ele explode em forma de litígio.

A urgência é evidente. Se o trabalho está se tornando causa de afastamento, o problema não pode ser resolvido apenas com psicoterapia ou medicação, mas com melhores condições laborais. Reduzir jornadas, combater práticas abusivas e garantir segurança e propósito são medidas indispensáveis.

Campanhas como o Setembro Amarelo e o Abril Verde cumprem um papel relevante ao iluminar o debate, mas é no dia a dia das empresas, na fiscalização do Estado e nas decisões do Judiciário que se definirá se o trabalho será fonte de vida ou de adoecimento.

O desafio jurídico e social é reconstruir um mundo do trabalho que valorize a saúde mental como um direito fundamental. Mais do que uma questão de compliance ou de reputação, trata-se de uma exigência legal, ética e humana.

Editorial

Estado acelera no etanol: energia verde

Basta circular pelas rodovias de MS para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra

24/12/2025 07h15

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Talvez ainda não tenhamos nos dado conta da dimensão do que está acontecendo. Mas a produção de bioenergia está, literalmente, em pleno vapor no Brasil – e, de forma muito particular, em Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma transformação silenciosa, que não costuma ganhar manchetes diárias, mas que pode ser decisiva para o futuro econômico, ambiental e estratégico do Estado e do País.

Basta circular pelas rodovias sul-mato-grossenses para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra. Eles cruzam o Estado carregados de etanol anidro ou etanol hidratado, destinados para distribuidoras de todas as regiões do Brasil. É o retrato de uma cadeia produtiva em franca expansão, impulsionada por demanda crescente e por decisões estruturais que reposicionam o Brasil no mapa da transição energética.

Essa verdadeira revolução verde está acontecendo, de forma concreta, nos tanques de combustível. O consumo de etanol cresce, a produção acompanha esse ritmo e se diversifica, especialmente com o avanço do etanol de milho, no qual Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente. Soma-se a isso uma política energética relevante: a exigência de 30% de etanol anidro misturado a gasolina comercializada no País. Trata-se de uma regra estratégica, que reduz a emissão de poluentes, diminui a dependência do petróleo e fortalece uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Não é pouca coisa. Em um mundo que busca, ainda de forma desigual, caminhos para a descarbonização, o Brasil dispõe de uma vantagem comparativa rara: a capacidade de produzir energia renovável em larga escala, com tecnologia, competitividade e menor impacto ambiental. Mato Grosso do Sul, nesse contexto, consolida-se como peça-chave. O Estado deixou de ser apenas um grande produtor agropecuário para se firmar como polo industrial de bioenergia, com usinas modernas, investimentos robustos e geração de empregos diretos e indiretos.

O Correio do Estado tem mostrado, ao longo dos últimos anos, a força crescente da indústria de etanol sul-mato-grossense. Não se trata apenas de números de produção ou de novos empreendimentos, mas de um reposicionamento econômico que altera a lógica de desenvolvimento regional. A bioenergia gera renda, movimenta cadeias logísticas, estimula inovação e amplia a arrecadação, ao mesmo tempo em que responde a uma das maiores urgências do nosso tempo: a necessidade de reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas.

É claro que desafios permanecem. Infraestrutura, logística, regulação e planejamento de longo prazo precisam acompanhar esse crescimento para que ele seja sustentável em todos os sentidos. Mas o caminho está posto. O Estado já é, na prática, uma grande usina de energia verde a céu aberto, capaz de produzir combustível limpo, reduzir a pegada de carbono e contribuir para a segurança energética nacional.

Mais do que um ativo econômico, essa vocação representa uma responsabilidade. Mato Grosso do Sul pode – e deve – ser exemplo para o Brasil e para o mundo. A bioenergia não é promessa distante: ela já está nas estradas, nos tanques, nas usinas e no cotidiano da população. Cabe agora reconhecer essa realidade, valorizá-la e transformá-la em política de Estado, para que o desenvolvimento caminhe lado a lado com a sustentabilidade.

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O passado desafia a ciência

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies, mas alguns pontos ainda intrigam

23/12/2025 07h45

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Ao longo da história, parece que nosso planeta foi palco de diferentes “camadas” de civilizações. Cada uma deixou marcas, enigmas e realizações que ainda hoje nos desafiam. Na camada atual, buscamos organizar o passado em linhas cronológicas, tentando conectar datas e teorias de evolução. Nem sempre, porém, essas conexões se sustentam de forma linear.

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies. Mas alguns pontos ainda intrigam.

Há saltos inesperados e caminhos surpreendentes, como o caso do polvo – um animal com características biológicas únicas – ou o fator Rh negativo em humanos, cuja origem permanece pouco clara.

Esses exemplos alimentam a imaginação e levantam hipóteses sobre a Terra como possível “laboratório de experiências”.

Outro enigma fascinante é o surgimento e desaparecimento dos dinossauros. Eles habitaram todos os continentes e dominaram o planeta por milhões de anos. O fim abrupto, atribuído ao impacto de um meteoro na região do atual Golfo do México, teria desencadeado um inverno global que durou anos.

Para alguns, esse evento sugere não apenas um acidente cósmico, mas uma intervenção programada na história da vida.

Seguindo a linha do tempo, chegamos às primeiras civilizações humanas. Povos antigos demonstraram capacidades impressionantes: ergueram blocos de pedra de dezenas e até centenas de toneladas, como o monumental bloco de cerca de 570 toneladas na base da muralha em Jerusalém.

Além disso, desenvolveram conhecimentos científicos notáveis. Eratóstenes, físico e matemático grego, calculou a circunferência da Terra com precisão admirável há mais de dois milênios – e pensar que hoje ainda há quem defenda que o planeta seja plano.

Diante desse mosaico de enigmas, que vai dos saltos evolutivos às obras monumentais deixadas por povos antigos, o que realmente se evidencia é nossa inquietação ancestral. Cada hipótese, seja científica ou imaginativa, revela menos sobre o passado em si e mais sobre o desejo humano de construir sentido e reconhecer seu lugar na história do planeta.

É nesse espírito de investigação curiosa que em “Vale do Silêncio – O Enigma do Lago” não trago respostas, mas um convite, recriando, pela ficção, o impulso que sempre nos moveu: olhar para o inexplicável e ousar formular novas perguntas.

Ao final, não importa quão sólida seja uma teoria ou quão fantástica seja outra, o que permanece é a importância de continuar explorando e ampliando as possibilidades do que entendemos como origem.

Ao observar tantos pontos obscuros em nossa trajetória, fica claro que a humanidade ainda está longe de compreender completamente de onde veio. A ciência avança, corrige rumos, descarta teorias e propõe outras, mas deixa brechas que alimentam nosso impulso de investigar.

Cada lacuna é um convite para reexaminar certezas e assumir que parte do passado permanece fora do alcance. Especular não é apenas um exercício de imaginação, mas uma necessidade intelectual. Permite explorar caminhos improváveis, levantar hipóteses e reconhecer que a história humana é maior do que qualquer narrativa linear.

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