Existe uma informação, que sinceramente não sei se é verdadeira ou não, dizendo que o orgasmo do porco tem a duração aproximada de 30 minutos. Por outro lado, é fato que o espirro humano dura menos de um segundo.
Nessa sequência de raciocínio, tenho a sensação de que, na linha de evolução da natureza, fomos nós, humanos, injustiçados. Injustiça talvez somente nesse aspecto da duração de um prazer e outro, se comparado a questão do tempo, na relação homens/porcos. Somente isso. Poderia ser pior, pois alguns bichos morrem logo após o ato sexual, uns, inclusive, assassinados pelas fêmeas.
Talvez a compensação da natureza, para nosso benefício, em relação a essas diferenças, dê-se em outros aspectos. Somos, afinal de contas, na evolução da natureza, seres dominantes sobre todos os animais, embora muitos de nós poderemos morrer vitimados por microscópicos organismos, como bactérias, fungos ou vírus potentes que se alastrarão famintos pelos nossos corpos.
Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, comecei com uma comparação estranha para tentar nos situar em relação aos prazeres da vida que estão ligados intimamente à conquista de nossos bens de consumo. O espirro está em nossa vida desde o nosso nascimento e nos acompanha até a morte, diferentemente de outros prazeres, por isso que ele surge metaforicamente nesse texto. Mas e aí?
Aí, que trabalhamos e lutamos muito, para finalmente comprar os objetos que nos darão outro tipo de prazer. Carro, casa, viagens, celular, sapatos, chocolates, cervejas. Ao tê-los, vivenciamos micro-orgasmos até o primeiro uso que deles fazemos, logo após a inserção do cartão de plástico nas maquininhas digitais, em um viciante exercício de consumo. Depois de saciados os pequenos ou grandes desejos, continuamos as buscas por outras conquistas, sucessivamente, eternamente, que só acabam após nossos últimos suspiros.
Quem, passando por duas grandes guerras mundiais, resistindo às pestes, à AIDS, ao sarampo e ao “homem do saco”, diria que toda a luta de sobrevivência humana sucumbiria diante do que os olhos veem, a alma deseja e o coração decide, nessa eterna ilusão de satisfazer desejos, apenas comprando? Talvez nem Karl Marx, em seus agonizantes momentos vividos na miséria financeira e das coisas produzidas pelos homens, tivesse imaginado esse destino coletivo, também da classe operária, motivado pelo nosso individualismo.
A nossa relação com o trabalho, para a maioria, é de dor. Poucas vezes encontramos sujeitos delirantemente apaixonados, fazendo o que gostam ou, no mínimo, suportando suas dores e gostando de algumas poucas coisas que fazem. Daí, talvez, o desejo ardente por ter a posse das coisas que minimizam a torturante saga de sobreviver aos longos dias que vêm depois dos sábados, domingos e feriados, nesse intervalo de vida que se dá entre a entrada no mercado de trabalho e a sua saída, já na aposentadoria, em busca de um sofá para se deitar em frente à televisão (ambos comprados em 36 parcelas), esperando a morte chegar, entre um espirro alérgico e outro.
Que destino, irmãos, nessa sociedade líquida de que fala Bauman, estarmos tão presos e apequenados em nossos desejos? Felizes foram os porcos e as porcas, antes da descoberta das ceias e dos natais, dos sanduíches e do torresmo. E, quando você espirrar; saúde!


