Com os eventos que se sucederam nos últimos dias, a greve dos caminhoneiros, suas reivindicações para o governo e a concessão por parte do mesmo, é impossível não tentar entender os motivos que nos levaram a uma situação caótica em poucos dias. É bastante claro que o movimento de se organizar e exigir do Estado que suas demandas sejam atendidas é direito de quem sustenta uma imensa máquina pública e quer o seu retorno.
O principal motivo levantado pelos grevistas se refere ao preço do diesel, considerado demasiadamente alto pelos mesmos, e suas constantes flutuações de preço. Em um ato desesperado por mudanças, dessa vez, o lado da demanda, ou seja, de quem consome o diesel diariamente, tomou medidas drásticas para comunicar sua insatisfação para o lado dos fornecedores. A Petrobras, maior empresa estatal do nosso País, é, por consequência, o grande alvo das reclamações, já que é a responsável pela política de preços dos combustíveis.
Mas, se analisarmos um pouco mais profundamente, como é de conhecimento geral no mundo da economia, preços nada mais são do que o reflexo das várias condições do mercado. Não quero entrar no detalhe de como o preço do combustível é formado no Brasil ou qual é a política de preços da Petrobras e quem está por trás da mesma. Gostaria que refletíssemos sobre o que significa esse movimento e por que ele está tão relacionado a esse tal de preço.
Um grande economista e filósofo austríaco, Friederich Hayek trouxe uma brilhante contribuição para o real problema que enfrentamos nas ciências sociais na atualidade. Por mais que pareça um paradoxo nessa sociedade constantemente bombardeada por informações, o real problema é o uso do conhecimento. Em um brilhante artigo chamado “The Use of Knowledge in Society”, Hayek demonstra como é impossível que um único ponto central, seja uma pessoa, uma instituição ou mesmo uma máquina, reúnam todo o conhecimento do mundo. Buscando uma solução para esse dilema, o economista encontra em um velho conhecido da sociedade a resposta para agir da melhor forma, sem a necessidade de se saber tudo: o sistema de preços.
Para ele, os preços refletem um somatório de eventos e tem o grande mérito de passar informação, de dirigir a ação das pessoas de forma que elas não precisem saber tudo o que aconteceu para impactar o preço, mas que seus reflexos devem orientar a tomada de decisões. No nosso dia a dia, por exemplo, não precisamos saber exatamente todos os fatos que levaram o preço do tomate a subir, mas sabemos que, se ele está mais caro, precisamos economizar o seu uso e talvez procurar substitutos.
A meu ver, na greve dos caminhoneiros, faltou um questionamento: se não estamos satisfeitos com os preços, o que está por trás deles? Não vamos partir para a ingenuidade de que, de repente, todos vamos nos tornar economistas e entender os pormenores da dinâmica do mercado. Mas falta aprender e estudar mais sobre o que nos trouxe até essa situação, para poder criticar com conteúdo. Congelar preços significa tapar os olhos para todos os problemas que nos trouxeram até o dia de hoje. Está na hora de o brasileiro dar um passo para trás e entender o cenário como um todo. Insatisfação com preços é só um sintoma do desconforto e insatisfação com a forma como o País vem sendo dirigido como um todo.
Criticar com conteúdo é a única saída para melhorar todos os fatores que influenciam o preço não só do Diesel, mas da comida, do aluguel, do remédio etc. Como disse Hayek: utilizar o conhecimento prático das pessoas, que está espalhado por todos os cantos, é o caminho para a rápida adaptação com os recursos que temos em mãos. Não podemos mais esperar que todas as informações sejam reunidas em um só ponto, como o governo, o presidente ou qualquer outra figura, para agir e encontrar a nossa solução. Dessa forma, a greve dos caminhoneiros não é problema nem tampouco solução: é sintoma.


