Artigos e Opinião

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André Luiz Alvez: "Remédios, a bela"

Escritor, publicitário e ator ([email protected])

Redação

26/02/2015 - 00h00
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Entre os tantos livros na minha estante, um deles se destaca: já sonhei que estava nessa história de Gabriel García Márquez, em cores de fim do dia, daqueles amarelados que aos poucos se transformam em cinza, perambulei pelas ruas de Macondo em cenas tão reais que acordei sentindo o cheiro de um rio de águas diáfanas. 

Hoje cedo, assim que olhei para o computador, resolvi fazer nessa crônica um relato sobre a construção de um bom texto, desses que ficam na memória e acabam se transformando em sonhos que parecem reais. Não que eu me considere especialista no assunto, são apenas observações que ouso fazer, mesmo temendo que algum erudito me tome por fanfarrão.

Sei que o bom texto depende inteiramente da inspiração, que se esconde em todos os lugares nos quais possa caminhar a imaginação. E como surgem as personagens? Dessa que quero falar, é provável que tenha acontecido num dia que começou nublado, naquelas primeiras horas da manhã, quando os olhos ainda não acordaram por completo, até o momento sublime no qual a moça, que de tão bela fazia os olhos arder, apareceu diante dele, dissipando o nevoeiro, trazendo a brisa suave, que atingiu gostosa a cabeça do poeta, esparramando os cabelos, abrindo espaço para que a inspiração se fizesse presente, percebendo os movimentos da rua abarrotada de gente, na qual os encantos da moça conseguiam se destacar. 

É provável que o poeta tenha segurado a respiração ao se dar de frente com aquele olhar de soslaio, saída de uma rua qualquer, espalhando pela calçada a chama de fogo que fere sem sentir e fez com que ele nem percebesse quando a beleza da dama divina invadiu-lhe a moldura dos olhos para nunca mais sair. 

Uma criatura assim – Gabo deve ter pensado – vai crescendo sem malícia, enfeitiçando a todos, embora o que ela realmente deseja é viver sossegada, comer, dormir e andar nua pela casa, achando graça dos homens, esses pobres coitados, errantes, possuídos pela fé inexata dos que desejam tocar o que não se pode alcançar.

 Quando enfim formulou o protótipo da perfeição, Gabo pensou em pedi-la em casamento, desejo do qual recuou, convencido que a moça era bela demais, perfeita demais, imprópria ao convívio humano. E como nem sequer fora notado, fez surgir um momento mágico e a eternizou em seu texto. 

A beleza da moça prosseguiu perseguindo os pensamentos do poeta, mas a indiferença foi tão visível que resolveu imaginar que ela juntara as pontas dos lençóis e ascendesse aos céus, completamente nua, levando embora todos os tormentos que provocara, enquanto ele, aqui debaixo, acompanhava a bela se perder no espaço infinito, armado com olhos complacentes de um pássaro sem asas, incapaz de voar, atormentado pelo desprezo de algo que nem sequer conseguiu provar. Resolveu chamá-la de Remédios, embora nunca tenha se curado da ferida que ela lhe causou, entregue num canto enquanto o tempo passava, bastante tempo, algo em torno de cem anos de solidão.

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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