Artigos e Opinião

OPINIÃO

Antonio Carlos Siufi Hindo: "Monstro? Nada disso, senador!"

Promotor de Justiça aposentado

Redação

12/08/2015 - 00h00
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Um dia após a Polícia Federal ter cumprido um mandado de busca e apreensão nas propriedades do senador Fernando Collor de Melo, em Alagoas e no Distrito Federal, por ter sido um dos beneficiados pelo mar de lama que serpenteou a Petrobras, o senador subiu à tribuna daquela Casa Legislativa e,  invocando Sepúlveda Pertence, disse que o SNI e o Ministério Público foram dois monstros que o Estado brasileiro criou. 

O Ministério Público nem de longe pode ser comparado com o SNI. Esse órgão foi criado por meio de uma lei simples no limiar do regime militar e serviu para fiscalizar ilegalmente as atividades estudantis,  sindicais, partidos políticos e outras ações nefastas que são a própria fotografia de uma época, que não queremos mais protagonizar. 

O Ministério Público, não. Ele sempre existiu em nossas Cartas Constitucionais e se solidificou na Constituição de 1988, com o respaldo unânime dos constituintes que escreveram, com todas as letras, que é ele uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.  

Só isto bastaria para afastar qualquer pretensão do senador e ex-presidente de igualar o Ministério Público ao SNI.

O seu representante tanto na esfera federal quanto na estadual, investido regularmente nas suas funções constitucionais,  é o titular  da ação penal e também a sentinela mais avançada a defender os interesses da sociedade junto à Justiça. 

Mas enganam-se aqueles que pensam que atuação ministerial está circunscrita ao ato de  investigar, denunciar e pedir a condenação dos agentes envolvidos em ações criminais. Nada disso. Ele está presente em todas as áreas em que houver interesse público e também nas áreas do meio ambiente; da defesa do consumidor; da infortunística; da recuperação judicial das empresas, das fundações; nas ações de estado; e em outras tantas elencadas em nosso ordenamento jurídico. 

A instituição ministerial como se observa defende os interesses da sociedade e não interesses individuais ou de grupos. Os atos levianos, sórdidos e de espertezas provêm da ação humana e nenhuma relação guarda com os princípios que dão sustentação às instituições. Esse tipo de gente existe em todas as instituições públicas ou privadas, desde as mais simples até as de maior respeitabilidade. 

O senador se equivocou ao entender que fora o Ministério Público que determinou à Polícia Federal realizar a medida de  busca e apreensão. Nada disso. O pedido foi deferido pelos ministros do STF, Teori Zavaski, Celso de Melo e Ricardo Lewandowski, e contra os quais  Collor não proferiu nenhuma palavra desrespeitosa. 

Juiz nenhum, em qualquer instância ou tribunal, defere pedido dessa natureza se não vier embasado em provas robustas e que geram confiança. Mas essa decisão isoladamente não aponta para a condenação definitiva de quem recebeu o mandamento estatal. 

Exatamente por essas razões não conseguimos interpretar de uma forma racional as afrontas dirigidas ao chefe do Ministério Público Federal.  

Se ele, no exercício de suas funções ou fora dele, cometeu qualquer ilícito, como salientou o senador, precisa também ser investigado e punido se resultar comprovada a acusação. 

Ninguém está acima da lei. 

Aqui reside o esplendor do regime democrático. O nosso País, com todos os seus tropeços, vive sob a égide desse regime, com instituições fortes e com uma legislação capaz de assegurar a todos a defesa de seus direitos  contra os abusos provenientes do poder econômico, político ou de quem quer que seja e que podem comprometer a paz social.  

Mas, tudo isso, de uma forma civilizada e sempre por meio dos foros consagrados em Lei.

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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