Artigos e Opinião

ARTIGO

Antonio Carlos Siufi Hindo: "O amor não é conceito, é prática"

Promotor de Justiça aposentado

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O título que ilustra o artigo testemunhei em um culto religioso. Tema precioso para uma reflexão diária. A humanidade segue sua marcha sempre errante. Os avanços da ciência e da tecnologia colocados à sua disposição diariamente e que poderiam melhorar o seu relacionamento social são desconsiderados. Os seus erros, tropeços, equívocos e desacertos despertam a indiferença. Provoca ainda as  reações despropositadas. Não pode ser crível que a insensatez, aliado à selvageria, possam ditar as regras do comportamento das pessoas  na vida em sociedade. Esses fatos empobrecem o ser humano. Desacreditam os propósitos. Agridem as consciências. Essa conclusão que esposamos não está circunscrita apenas às palavras. São os fatos diários que apontam para essa direção anômala, para não dizer esdrúxula. 

As palavras do Cristo que poderiam evitar esses equívocos são  desconsideradas. Não são sequer lidas, meditadas e refletidas. A luta dramática pela sobrevivência material  impede essa conquista. Silenciou o grande espetáculo produzido pela espiritualidade. Esse Deus de misericórdia e de piedade está colocado no último plano da humanidade. Essa é a grande verdade dos fatos. O dinheiro e a soberba falam mais alto. São elas inquestionavelmente que traçam as regras do jogo da vida. Essa conclusão a constatamos diariamente. Os fatos não necessitam de palavras, de testemunhas. Estão à nossa frente todos os dias. 

O assassinato covarde  ocorrido no interior de um cinema na sempre linda e próspera cidade de Dourados é o mais forte indicativo desse tema provocativo. Seu móvel foi uma questão de nonada. Ocorreu numa casa de espetáculo cinematográfico. Estava lotado de criança quese privilegiavam das férias escolares. A surpresa foi desagradável. Ficaram apenas as marcas indeléveis do desamor. 

Na cidade de São Paulo a mais populosa e rica da América Latina testemunhamos outro espetáculo triste. Evidencia do desamor ao próximo. Cinco seres humanos faleceram na sarjeta em decorrência do frio intenso. O fato ocorreu na área central da cidade, no Pátio do Colégio. Um contrasenso. Cidade rica, povo miserável de propósitos. Muitos passaram por elas. Todos mostraram sua indiferença. Não surgiu naquele momento a figura exemplar do bom samaritano para mitigar a dor. Esse amor sincero, sem sofismas desapareceu como proposta principal da sociedade contemporânea. 

Existem as exceções, mas, são raríssimas. O exemplo bíblico atrás retratado já venceu dois milênios. Continua atualíssimo. Aponta a direção correta para o encontro  sagrado com o nosso próximo. Os dois episódios declinados mostram à toda evidencia  a face miserável do homem que tinha que ser por inclinação divina a imagem e a semelhança do seu Criador. Outros tantos poderiam ser declinados. As palavras já disse alhures são bonitas e edificantes e até mesmo surpreendentes para falar do amor. Cada inteligência pode dar o indicativo da sua real grandeza. Mas são apenas  palavras, nada mais. Depois de proferidas se, esboroam. Caem no esquecimento. Os atos e as ações, não. Valem muito mais. 

Não adianta frequentar Igrejas e rezar. Isso resulta em algo salutar. Mas, se desacompanhada de ações concretas, não servem para nada. O nosso próximo continuará desassistido. Esse próximo que precisa da nossa atenção não está apenas nas sarjetas. Está nos asilos, nas penitenciarias, nos hospitais, nos orfanatos, nas escolas das crianças que precisam de um atendimento especial.  São rostos desconhecidos. Não interessa a sua idade, a sua nacionalidade, a sua cor. Pouco importa sua crença religiosa. Estamos diante do nosso próximo. Ele está dentro dos nossos lares. São rostos corriqueiros, sagrados. Precisam da nossa atenção diária. 

Despercebidas resultam em algo deplorável. Causa repugnância. Desafia os princípios morais. Insultam a inteligência. Remetem-nos, por fim, a um estado de indignação intima permanente. Essas ações práticas mas sobretudo pedagógica  podem ser oferecidas pelo ser humano a qualquer momento. Sua prática mostra a linda ação do bom samaritano. É a palavra atualíssima do Cristo. Sempre surpreendente. Indicativo para uma reflexão diária.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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