Artigos e Opinião

OPINIÃO

Antonio Carlos Siufi Hindo: "Por que Francisco não discursa na ONU"

Promotor de Justiça aposentado

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O Tratado de Latrão, firmado em 1929 entre Benito Mussolini e o papa Pio XI, criou um Estado para a Igreja Católica. O Estado do Vaticano. A partir da assinatura desse documento histórico, a pessoa do papa passou a exercer também a chefia de Estado. Com todas as prerrogativas conferidas aos seus iguais, e que são membros integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas não está incluído no rol de Estado membro dessa organização; participa apenas como observador. Nessa mesma linha está a Palestina. 

Inobstante essa circunstância, o Vaticano e a Palestina têm seus pavilhões hasteados no perímetro daquele órgão colegiado internacional. Esse é apenas um detalhe. A figura do papa no curso da história da humanidade sempre foi reconhecida como chefe da igreja católica, político e guerreiro. Nenhum mandatário europeu abria uma ação de guerra sem consultá-lo. Aí reside a grandeza da sua autoridade temporal e espiritual. Mas aqui existe um ponto a ser enfrentado. Um detalhe interessante. A ONU convidou o líder Yasser Arafat, que à época representava a OLP, para assomar a tribunal da assembleia-geral das Nações Unidas. Esse fato histórico ocorreu no dia 13 de novembro de 1974. Arafat proferiu um discurso histórico, surpreendente e emocionante na defesa da criação do Estado da Palestina. Dentro desse contexto histórico nasce o nosso propósito consubstanciado no título que emoldura o presente artigo. Desde o advento da criação do Estado do Vaticano, nenhum papa foi convidado para discursar da tribuna daquele colegiado. Não existe nenhum outro registro anterior à criação do Estado do Vaticano.

Esse ano, o convite seria um indicativo precioso. As queimadas da região amazônica que preocuparam as lideranças mundiais poderiam ser a grande vertente. Francisco não se furtaria em atender a um reclamo mundial. Seria uma ocasião memorável. Mostraria, com a sua voz firme, suas ideias para o enfrentamento do preocupante tema. As conclusões do sínodo teriam outra força e importância. As peculiaridades para esse entendimento são próprias. Sua essência, distinta. Com essa ação inovadora, a ONU marcaria um tento precioso. Francisco sensibilizaria melhor as inteligências que cuidam das questões ambientais e outras tantas que preocupam o homem.

O papa não cuida de reformas trabalhista, fiscal, previdenciária, tributária e administrativa. Não tem nenhuma preocupação com as políticas monetária e cambial. Esses temas não constam de seus despachos diários. Outros, sim, formatam a sua pauta administrativa. Religiosa, em especial. A questão sempre delicada dos direitos humanos, as matanças de crianças, a intolerância religiosa, os crimes de ódio, as ações dos ditadores sanguinários, os direitos das minorias e a defesa intransigente da democracia e da liberdade de expressão podem ser temas relevantes para o seu enfrentamento. Nessa mesma linha de entendimento seguem a fome, a miséria, as injustiças, a ganancia desenfreada, a corrupção e as atrocidades e selvagerias que sempre embrutecem as ações humanas. Mas não é só. A preciosidade da vida, a esperança, a verdade, a fé, o perdão e o amor podem estar incluídos nesse salutar proposito. 

Francisco poderia oferecer essa luz que nos separa da escuridão. Todos receberiam bem suas mensagens. Nenhuma delegação abandonaria o plenário durante a sua sustentação oral. Seus discursos estariam acompanhados dos indicativos técnicos e espirituais. Todos esses temas são atualíssimos. Tem relação direta com os ensinamentos preciosos deixados pelo Cristo. Não há necessidade de se tecer maiores comentários. A humanidade inteira é a sua principal protagonista. Estão esculpidos no texto sagrado. Não tem como borrá-los. Com o seu discurso conciliador, o papa poderia mitigar as dores, evitar os sofrimentos e oferecer o diálogo como instrumento garantidor desses propósitos. Francisco é demais! Sabe reunir, unir e congraçar as pessoas. Esse é o seu grande diferencial. Já deu provas robustas nesse sentido durante o seu virtuoso pontificado. Esses avanços são corajosos. Muitos deles no âmbito da Igreja. Todos cobertos com os princípios dos dogmas. Tem de ser essa a ação papal.

A Igreja não pode ser uma instituição estática. Precisa acompanhar atentamente a evolução da humanidade, especialmente seus usos e costumes. Essa é a grandeza do Sumo Pontífice. Dificilmente os católicos terão um novo papa com tamanho carisma. Vale a pena essa recomendação à ONU. Não custa nada suplicar. A omissão é que resulta imperdoável. Não a desejamos como nosso carrasco.

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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