É inegável o quanto os municípios do interior de Mato Grosso do Sul evoluíram na última década. As pequenas e médias cidades sul-mato-grossenses viveram um ciclo de expansão raro, com ruas pavimentadas, praças novas, escolas reformadas e investimentos em saúde e infraestrutura que transformaram a vida de milhares de pessoas.
Esse salto de desenvolvimento foi impulsionado, em grande parte, por um período de bonança financeira do Estado e por repasses volumosos que chegaram aos cofres municipais.
Esse cenário favorável produziu um efeito político imediato. Prefeitos e lideranças locais, fortalecidos pela prosperidade, consolidaram grupos poderosos em suas regiões. Surgiu então um conceito que se espalhou como bandeira de gestão e orgulho: o municipalismo.
Em tese, a valorização das cidades e o empoderamento dos gestores locais representariam um avanço democrático e administrativo. E, de fato, por um tempo representaram.
Mas, como ocorre em tantos outros capítulos da vida pública brasileira, o excesso cobrou seu preço. A fartura de recursos, combinada com a fragilidade de mecanismos de controle e fiscalização, fez com que parte dos gestores perdesse a noção dos limites legais e morais do uso do dinheiro público.
A falta de zelo na execução de contratos, a displicência com licitações e a confusão entre o que é público e o que é político abriram espaço para irregularidades.
Hoje, o Estado colhe os efeitos colaterais desse período. Neste ano, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), por meio de seus grupos especializados – o Gaeco e o Gecoc –, vem desnudando uma sucessão de escândalos.
Prefeitos, secretários e servidores estão sendo investigados e presos por corrupção, fraudes em licitações e pagamento de propinas. O caso recente de Terenos foi um marco e, agora, Bonito entra para a lista das cidades atingidas por operações que, embora duras, são absolutamente necessárias.
As ações do Gecoc e do Gaeco merecem reconhecimento. Elas demonstram que o combate à corrupção não se limita às grandes cidades e que o interior também precisa de vigilância permanente.
Mas a lição que se impõe é clara: desenvolvimento sem controle é convite à desordem. É papel dos prefeitos e gestores municipais compreender que prosperidade e transparência devem caminhar juntas.
O municipalismo que se deseja para o futuro de Mato Grosso do Sul é aquele que faz crescer o interior, mas com responsabilidade e ética. Porque só assim o avanço conquistado nos últimos anos deixará de ser uma lembrança e se tornará uma conquista duradoura.


