O agronegócio de Mato Grosso do Sul vive um momento de atenção redobrada. O aumento expressivo no número de Recuperações Judiciais (RJs) registradas recentemente é um sinal claro de que algo precisa mudar na forma como o setor, tão pujante e relevante para a economia do Estado, organiza suas finanças.
A pujança do agro não pode ser confundida com imunidade às crises, e os acontecimentos dos últimos dois anos deixam evidente que, sem gestão adequada, até mesmo atividades robustas podem enfrentar sérias dificuldades.
É preciso lembrar que o setor atravessou um choque inesperado com a queda substancial dos preços agrícolas em duas safras recentes. Muitos produtores, acostumados a uma realidade favorável, foram pegos de surpresa e não conseguiram absorver o impacto. A consequência direta foi o aumento das dificuldades de caixa e, em muitos casos, a necessidade de recorrer à RJ como tentativa de manter a atividade em pé.
Esse movimento fica ainda mais claro quando recordamos que até o ano de 2022 o agro operava em um ambiente de juros historicamente baixos, combinado a margens elevadas. Isso fez com que parte dos produtores acreditasse que a bonança seria permanente.
Quem não se preparou com uma estratégia sólida de gestão financeira, apostando no improviso ou em práticas ultrapassadas, viu o cenário se inverter rapidamente. A lição é penosa, mas necessária: bons tempos não duram para sempre, e administrar com responsabilidade é obrigação de qualquer negócio.
As entidades patronais do setor precisam estar atentas a esse quadro. Mais do que apontar culpados, é hora de estimular o debate sobre gestão eficiente, uso responsável do crédito e práticas modernas de mitigação de riscos.
O modelo antigo, de concentrar o patrimônio quase exclusivamente no caixa da safra, pode parecer seguro, mas deixa de lado a necessidade de equilíbrio e planejamento.
O crédito, por sua vez, não pode ser encarado como instrumento para “pedalar” produções, mas sim como recurso estratégico para ampliar a produtividade de forma sustentável.
Outro ponto essencial é o seguro rural. Ainda subutilizado por muitos, ele é um instrumento que oferece proteção contra perdas inesperadas e, ao mesmo tempo, funciona como elemento de credibilidade unido às instituições financeiras.
Com seguros mais difundidos, o custo do crédito tende a cair, facilitando o planejamento do produtor e reduzindo os riscos de desequilíbrio.
É inegável que o agronegócio de Mato Grosso do Sul continuará como um dos pilares da economia estadual. Mas para que essa vocação permaneça sólida, será preciso que os produtores aprendam com a realidade que se impõe. Recuperações Judiciais não podem ser vistas como solução recorrente, e sim como alerta de que a gestão precisa evoluir.
Cabe ao setor aproveitar este momento para ajustar práticas, modernizar instrumentos e, sobretudo, compreender que a sustentabilidade financeira é tão importante quanto a produtividade no campo.


