Artigos e Opinião

ARTIGO

''Avaliação educacional no Brasil''

Cipriano Carlos Luckesi Doutor em Educação e colaborador da Fundação Santillana

Redação

10/06/2015 - 00h00
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O sucesso nos resultados de qualquer atividade depende da gestão de recursos materiais e humanos. A avaliação é uma aliada do gestor, capaz de oferecer-lhe diagnósticos da realidade e subsidiar suas decisões e investimentos. Essa análise exige o uso de instrumentos adequados de coleta de dados elaborados com o rigor metodológico necessário, pois, uma distorção nesse processo inicial e na consequente qualificação da realidade, poderá levar o gestor a tomar decisões inadequadas e insatisfatórias. 

No caso da educação, existem três objetos principais da prática avaliativa: a aprendizagem do educando, levando em conta as necessidades individuais de cada aluno; a instituição escolar onde o estudante está inserido e que lhe oferece as condições de aprender, por meio de todas as atividades de ensino; e, por último, o próprio sistema de ensino, que pode ter a abrangência de um município, de um estado ou do país.

Até aproximadamente os anos 1980, acreditava-se que o único responsável pelo fracasso escolar era o aluno. Vagarosamente, estamos aprendendo a compreender que todo o sistema está comprometido com o sucesso ou com o fracasso das crianças e dos jovens nas escolas. Desde então, em vários lugares do mundo e também no Brasil, observamos investimentos não só na avalição da aprendizagem dos alunos considerados individualmente nas salas de aula, mas também da instituição escolar e do sistema de ensino.

Hoje, no Brasil, temos várias atividades avaliativas, denominadas de larga escala, que analisam o desempenho das instituições escolares e do sistema de ensino, tendo por base os resultados da aprendizagem dos estudantes. Nesse contexto, podemos citar o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a Prova Brasil e, mais recentemente, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), estabelecida em 2012.

Permanece, então, a necessidade da avaliação da aprendizagem do educando individualmente, dentro da sala de aula, uma vez que essa avaliação subsidia, em primeiro lugar, o professor a tomar decisões que possam viabilizar o sucesso em suas atividades de ensino; além disso, é o resultado da aprendizagem dos estudantes que orienta todas as outras práticas avaliativas em educação, à medida que o aprendizado satisfatório dos alunos é a finalidade principal tanto das instituições escolares como do sistema de ensino. 

]Dessa forma, nas atividades cotidianas em sala de aula, a avaliação precisa ser praticada com um pouco mais de rigor metodológico, com instrumentos de coleta de dados que não sejam aleatórios, e com critérios determinados para avaliar a satisfatoriedade ou não do desempenho dos estudantes da instituição. 

O sistema de ensino e as instituições escolares podem apresentar todos os requisitos institucionais necessários, tais como estrutura física, mobiliário, equipamentos, mas não terão cumprido sua finalidade caso os estudantes não aprendam efetivamente. 

Para se alcançar os resultados desejados e expressos nos planejamentos, a avaliação é uma boa aliada do gestor, revelando-lhe constantemente se suas ações têm sido satisfatórias ou não. Caberá a ele, subsidiado pela avaliação, investir na construção de boas práticas. Se assim acontecer, nosso país será bem-sucedido em seus projetos educativos; caso contrário, não teremos o êxito que desejamos nos resultados da educação nacional.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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