Artigos e Opinião

ARTIGO

Carlos Lopes dos Santos: "Nem jacobinos nem girondino, o Brasil é melhor"

Advogado

Redação

12/08/2019 - 01h00
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Qualquer um que se predispor atualmente a fazer uma análise clara e objetiva da situação política que vive o Brasil nesses tempos e se quiser ser franco e correto nessa busca, certamente, deverá levar em conta o que evidencia as duas correntes sobre o conceito de verdade: a verdade absoluta e a verdade relativa. Embora minha humilde opinião sobre o tema é de que existem três vertentes para a verdade: a minha verdade, a verdade do meu próximo e a verdade verdadeira. O Brasil vive a experiência da verdade absoluta e da verdade relativa na política, pois nos milhões dos brasileiros não existe um consenso sobre o que é correto, sobre o que é mentira, sobre o que é certo, sobre o que é errado, politicamente falando, etc. Por exemplo, foi adequada a luta dos que se aventuraram a enfrentar o governo, com armas e violência no passado, apenas por não aceitar a ideologia política da época? E a reação do governo? Foi correta a ação, com morte e torturas desses brasileiros? Nos últimos anos, o País foi governado por pessoas de esquerda e de centro-esquerda, com ideias voltadas para um pretenso socialismo e adoração ao liberalismo extremo e será que era isso que queria o povo? 

O governo atual se revela de direita, em que pese algum o taxar de extrema direita, com pouca tolerância ao que entenda que seja a transgressão aos valores morais e cívicos, em suma, liberalidade controlada, e quem pode garantir que será melhor do que o governo passado? As diferenças entre um governo (o atual) e o outro (passado) são enormes, do tamanho do Brasil. O que é preocupante e perigoso é que essas diferenças não ficam apenas nos governos. O povo brasileiro, ao contrário de muitos europeus e alguns asiáticos, é muito apaixonado pela política e leva isso na “ponta da faca”. Basta relembrar a última campanha eleitoral, em que o candidato Jair foi esfaqueado sem dó, sem piedade e quase morreu.

Menos sorte tiveram algumas pessoas que foram assassinadas apenas pelas suas opções políticas. Na Bahia, o Moa do Katendê e alguns outros que a gente nem sabe. Tudo em nome da verdade política em que cada uma dessas pessoas acreditava ou acredita. Cada uma delas tem sua verdade e isso as leva a matar, a brigar, a abandonar grandes amizades e negócios, amores e até dissenção entre pais e filhos. 

Um país não é só território físico. O maior valor do Brasil é sua gente, seu povo, seus nativos. A riqueza de uma nação se constitui nas riquezas materiais, mas o seu maior tesouro é a cultura e a união de suas pessoas humanas. Quando prevalece a divisão, prevalece o fracasso ou atraso no sucesso de seu desenvolvimento. O Brasil está numa encruzilhada terrível atualmente. O seu espírito está conturbado e não sabe se curva para direita ou à esquerda nem mesmo se o centro é plausível. “Que país é esse”, disse o compositor. Porque não podemos enxergar em todas as direções? Só vemos de um lado ou de outro. Esquerda ou direita.  

Desde criança, aprendi na escola que o Brasil é um país em desenvolvimento. Estou com 66 anos de idade, o Brasil já teve governos de direita, de esquerda, de centro e ainda continua no “desenvolvimento”.  Precisamos saber entender a verdade verdadeira. Esta não é condicionada nem à verdade relativa nem à verdade absoluta, pois em cada situação as duas se aplicam, mas a verdade sempre será só uma. Quando a gente perceber que tanto a esquerda, a direita ou o centro, na política, têm seus méritos e seus fracassos, poderemos sair da encruzilhada em que estamos atualmente e, talvez, sair do eterno “em desenvolvimento”.  

Precisamos deixar de ser “jacobinos” ou “girondinos”. Isso foi lá na França em 1789. O Brasil é maior, mais bonito, mais rico e precisa de união. Se não der de pronto, façamos como os porcos espinhos numa noite fria, aproximando-se uns dos outros devagarzinho para não se machucarem e se aquecerem.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

Arquivo

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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