Artigos e Opinião

OPINIÃO

Carlos Lopes dos Santos: "Por trás de uma (grande) fortuna há um crime"

Advogado

Redação

31/10/2015 - 00h00
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O título é uma frase do grande escritor francês Honoré de Balzac. Sempre tive a impressão de que essa máxima de Balzac poderia conter algum pequeno equívoco em seu bojo, inobstante, concordar com sua essência. Afinal, como pode alguém que nasceu em 1799 e viveu em outra época, delimitar pelo seu tempo e pressagiar com precisão uma tese para um distante futuro, considerando que até ele mesmo concordava que muitas obras suas não tiveram lá muito brilhantismo?

Como diria um amigo: “pior”. Balzac estava certíssimo.  Sem receio de que possa ferir algum rico afortunado por aí, endosso a teoria balzaquiana, rogando ao ilustre escritor “in memorian”, que me conceda a permissão para acrescentar à frase o complemento “... com maior ou menor intensidade de prática”. Pode ser qualquer um dos crimes caracterizados no código penal ou dispostos nos códigos civil, tributário, eleitoral, etc.

Sempre há um crime nas riquezas. Os tempos atuais são férteis de criminosos detentores de fortunas mais ou menos magníficas. A ganância, a frenética busca pelo poder, a conquista da fama sob qualquer pretexto, a falta de caráter e escrúpulos, sempre foram combustíveis que moveram o ser humano na caça ao dinheiro.

Nada contra o vil metal. Não se vive nem se pode prescindir da moeda nesse mundo. Nem o filho de Deus foi contra o dinheiro, em que pese, Ele afirmar que seria mais fácil um camelo atravessar o fundo de uma agulha do que um rico entrar nos reinos dos céus.  O que ocorre no mundo de hoje é que o valor que tem o “ter” superou anos luz o valor do “ser”.  Mais triste ainda é que o “ter” tem que ser a qualquer custo, sem o homem medir conseqüências para isso.

O que então pode explicar os recentes acontecimentos que nos chegam através da mídia, onde muitas pessoas, políticos, artistas, atletas, empresários, religiosos, funcionários públicos, pecuaristas, etc. se deixam levar pela cobiça desenfreada e praticam os mais diversos tipos de crimes possíveis. Atualmente o mais popular deles é a corrupção.

É óbvio que estão atrás da fortuna. Uns cometem o crime para consegui-la. Outros, os atletas, artistas, por exemplo, geralmente, depois de a tê-la. Senadores, deputados, vereadores, padres, jogadores, empreiteiros, servidores públicos, etc., enfim, qualquer um de nós bem informado, sabe citar um nome para um desses em nosso país. 

Alguém então poderia dizer, em contraponto, que existem pessoas nesse mundo imenso com fortunas que não contém em sua substância nenhum tipo de crime. Obviamente. Toda regra contém exceção. Todavia, parafraseando o divino mestre Jesus Cristo e Honoré de Balsac, com todo o respeito, eu diria que “é mais fácil passar um dinossauro pelo fundo de uma agulha do que existir fortunas que não tenham por detrás de sua consecução um crime por menor ou maior que seja. Eu não conheço ninguém.

Se o dinheiro é poder, só o poder não é dinheiro. Mas como disse também o insigne inspirador desse humilde artigo, “o dinheiro só é poder quando existente em quantidades desproporcionadas”, quem sabe então, possamos fragilmente teorizar que isso explica o porquê de tantos políticos ladrões em nosso país e o porquê de tanta gente famosa, que tem dinheiro e fama, querer se transformar em políticos. 

Hipoteticamente, o político tem o poder, mas às vezes não tem o dinheiro. Dê-lhe corrupção. O famoso, não político, às vezes, tem o dinheiro, mas nem tanto que lhe conceda o poder. Aí então, o grande negócio é entrar para a política. Fama e política é o caminho da fortuna. Com um povo que, infelizmente, ainda não possui a cultura suficiente para escolher bem seus representantes políticos, nem definir o que é uma boa música, valorizar o teatro e leitura e vive endeusando jogador de futebol, o campo está propício para grandes fortunas e crimes e mais crimes. 

O que me motivou a escrever este artigo foi o sentimento de indignação que assola a todas as pessoas de bem desse país com as barbáries que fazem com o dinheiro público e também a lembrança de que há pouco tempo, um político “famoso” de M.S, hoje acusado de receber propinas na “lava jato”, teria gasto em torno de 1 milhão de reais na festa de 15 anos de uma de suas filhas, conforme escreveu um colunista social. Hoje sabemos de onde veio o dinheiro.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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