Artigos e Opinião

OPINIÃO

Carlos Roberto Merlin Júnior: "Cola, ética e escola"

Graduado em Filosofia, Sociologia, História e especialista em Ética.

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Muitos profissionais da psicologia afirmam que é comum observarmos, entre jovens e adolescentes, o comportamento transgressor. Não seguir completamente as regras estabelecidas socialmente e questionar a autoridade imposta é tido como um ponto presente no desenvolvimento e na formação da personalidade. Estudo recente, publicado no periódico Psychological and Personality Science, confirma essa tese ao constatar que o indivíduo, no ato de desrespeitar regras estabelecidas, se sente empoderado e aqueles que com ele convivem também enxergam, nessa ação, uma demonstração de poder. Se levarmos em conta o quanto é importante para um adolescente ser aceito pelo grupo, ser visto como alguém com poder é muito atrativo. Por tudo isso, podemos considerar o ato de “colar” em avaliações algo bastante comum, desde que seja  pontual, ocasional. A situação muda de figura quando o fenômeno da “cola” se torna quase que endêmico, conforme sugere pesquisa realizada nos Estados Unidos: 51% dos alunos de escolas de elite praticam o ato de “colar” em avaliações, por conta das facilidades que novas tecnologias promovem e motivados pela alta concorrência a ser enfrentada.

Quando o ato de “colar” ganha proporções que afetam e comprometem todo sistema avaliativo de uma instituição de ensino,  penso termos diante de nós um problema atingindo pelo menos três aspectos da prática educativa: pedagógico, teleológico e axiológico. No que se refere ao aspecto pedagógico, identifico duas situações como problemas a serem enfrentados:  a estrutura da avaliação e a significação da aprendizagem. As avaliações que cobram do aluno apenas sua capacidade de memorização em detrimento de sua capacidade global de raciocínio, são avaliações que permitem a identificação da “cola” como possibilidade de sucesso; já uma avaliação construída de modo inteligente, em que a memorização não seja o único elemento presente, desestimula o ato de “colar”. Outro elemento pedagógico a ser considerado é o fato de que o aluno praticante da “cola” não observe naquele conteúdo algo significativo para ele - algo que, na tomada de  sua posse, o fará alguém melhor, trará capacidades, auxiliará no seu desenvolvimento e aperfeiçoamento. Esse aluno pode ceder mais facilmente à tentação de substituir a aquisição do conhecimento por uma “aparência de aquisição”.

Pensando no aspecto teleológico (causafinal, perspectiva futura), o aluno, ao tentar fraudar em uma avaliação, não possui a devida consciência de que precisará dominar aquele conteúdo em um exame vestibular, em um concurso público ou em qualquer tipo de processo seletivo futuro. Trata-se de uma percepção prática que lhe falta. A fraude resolve o problema por agora e cria um problema maior no futuro. Finalmente, mas não menos importante, temos a dimensão axiológica (valores, ética, moral). Ao praticar a “cola” em uma avaliação, o educando pode não ter a consciência de que está cometendo um ato infracional e também antiético. A ética, nesse caso, é tomada não como parte inerente ao corpo da reflexão filosófica e sim em seu sentido mais amplo de busca pela ação correta, pela ação coberta por valores que a dignificam. A situação pode ser ainda pior se o educando possui a consciência de estar cometendo um ato antiético (em que é prejudicado alguém que se esforçou e agiu corretamente) e não se importar com isso; nesse caso, o programa de formação humana e ética do educando apresenta grande falha, pois o estudante não está valorizando o aspecto da justiça e o valor inerente ao espírito de sacrifício e dedicação.

Dentro do contexto de combate ao fenômeno da “cola” em avaliações, uma instituição de ensino deve promover um bom programa de formação humana e ética; desenvolver no educando a consciência e a valorização da ação correta; despertar o aluno para o valor do conhecimento e sua relação com o desenvolvimento humano; criar avaliações capazes de desafiar a inteligência do estudante e não apenas seu poder de memorização; fazer com que todos os envolvidos no processo pedagógico entendam o imenso valor de se viver a justiça e se combater a corrupção. Desse modo, o fenômeno da “cola” não será endêmico, mas apenas pontual.

EDITORIAL

Crises de fim de ano expõem falha na gestão

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa

19/12/2025 07h15

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A virada para 2026 entra para a história recente de Campo Grande como uma das mais conturbadas dos últimos anos. Talvez desde meados da década passada não se via uma sucessão tão clara de crises financeiras e falhas na engrenagem dos serviços públicos locais justamente no momento em que a cidade deveria buscar estabilidade para atravessar o novo ano.

O problema não é pontual tampouco isolado: ele se repete em áreas essenciais e expõe fragilidades estruturais que vêm sendo empurradas com a barriga.

A greve do transporte coletivo, encerrada apenas no início da noite de ontem, é um retrato fiel desse cenário. Durante quatro dias, a população ficou refém de um sistema que parou porque o Consórcio Guaicurus não tinha recursos para pagar salários.

A solução não veio de uma gestão eficiente ou de um planejamento responsável, mas de um socorro emergencial do governo do Estado, que antecipou mais de R$ 3 milhões referentes a uma das parcelas do subsídio ao passe do estudante. Ou seja, o serviço só voltou a funcionar quando o dinheiro público entrou para tapar mais um buraco.

Situação semelhante se repete na Saúde. A Santa Casa, há anos em crise, agora está sob determinação judicial para apresentar um plano capaz de enfrentar um deficit que parece não ter fim. No transporte coletivo, a Justiça foi além e determinou uma intervenção no consórcio responsável pelo serviço.

Quando decisões judiciais passam a ditar os rumos da gestão, fica evidente que algo falhou muito antes, seja na formulação dos contratos, seja na fiscalização ou na condução cotidiana desses serviços.

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa e, principalmente, de quem deveria fiscalizar contratos milionários. Não se trata apenas de escassez de recursos.

Trata-se de como esses recursos são utilizados, de modelos que se mostram esgotados e de contratos que não resistem ao primeiro choque mais sério.

O mais preocupante é que, mesmo após a injeção de milhões de reais do poder público na Santa Casa e no Consórcio Guaicurus, o dinheiro continua insuficiente. Isso deixa claro que o problema é estrutural.

As verbas estão, de fato, mais apertadas neste ano, mas a crise não nasceu agora. Ela é fruto de anos de escolhas erradas, de ausência de transparência e de tolerância com resultados ruins.

A virada de ano conturbada serve, portanto, como um alerta. Não basta apagar incêndios com aportes emergenciais, é preciso rever modelos, refazer contas, cobrar responsabilidades e, sobretudo, planejar com seriedade.

Caso contrário, Campo Grande corre o risco de transformar crises excepcionais em rotina permanente, e isso, definitivamente, a cidade não pode mais aceitar.

ARTIGOS

O combalido Congresso Nacional

A prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um "orçamento secreto" que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite

18/12/2025 07h45

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Para falar sobre o tema, não poderia deixar de citar uma frase célebre do ilustre brasileiro Ruy Barbosa, que foi político, jurista, advogado, diplomata e jornalista, nascido em 1849 e falecido em 1923.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Uma frase com cerca de um século de sua criação nunca foi tão atual, se comparada com os mórbidos acontecimentos vividos neste último período pela Câmara dos Deputados.

Fica evidente a prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um “orçamento secreto” que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite, propiciando a prática de atos ilícitos e imorais, travestidos de legalidade.

Deputados processados pelos mais variados tipos de crime, inclusive de lesa-pátria, incitando nação poderosa a invadir nosso país e a causar enormes prejuízos às classes produtoras e trabalhadoras, que geram as receitas que proporcionam a força necessária ao bom funcionamento da roda da economia.

Pior: parece que tudo o que vem acontecendo é encarado como fato corriqueiro pelo comandante da Câmara dos Deputados, que até chegou a ser deposto de sua cadeira por um grupo de parlamentares desordeiros e, até o momento, sem qualquer punição.

As telecomunicações alcançaram níveis impensáveis em termos de transmissão de dados, como imagens e sons de alta precisão, e, com isso, o planeta Terra tem assistido às barbáries ocorridas no plenário da Casa de Leis, habitada por um seleto grupo de homens e mulheres escolhidos pelo voto e que lhes proporciona os mais variados tipos de privilégios, consumindo recursos bilionários oriundos de pessoas físicas e jurídicas pagadoras de impostos, que não veem o necessário retorno em obras e serviços essenciais, como saúde, segurança pública e transportes.

Um fator preponderante para a continuidade desses desmandos é a hereditariedade nos cargos políticos, em que os ungidos não precisam provar capacidade técnica ou profissional para exercer um mandato.

Basta ter QI de força para manter em cabrestos os seus apaniguados, com nomeações que os tornam fiéis aos seus patrões e que, quase sempre, só deixam o cargo aposentados, com gordos salários, diferentemente do trabalhador brasileiro aposentado pelo famigerado INSS.

No ano que vem, teremos eleições majoritárias. É evidente que quem está lá não quer sair, mas está passando da hora de o cidadão consciente valorizar o poder de sua arma, qual seja, o Título Eleitoral, para promover a varredura necessária no Poder Legislativo, tanto federal como estaduais.

Por uma questão de justiça, a exceção se faz em relação aos parlamentares que reconhecidamente prestam bons serviços à comunidade.

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