O Brasil é, sem sombra de dúvida, o país mais financeiramente digitalizado do mundo. Essa condição não nasceu por acaso, mas é fruto direto de uma das mais bem-sucedidas inovações já promovidas pelo setor público nacional: o Pix. Criado e implementado pelo Banco Central no início da década, esse meio de pagamento eletrônico tornou-se parte essencial da vida do brasileiro. Hoje, mais da metade das transações financeiras realizadas no País são feitas via Pix, tornando obsoletos antigos hábitos relacionados ao uso de dinheiro em papel ou mesmo de cartões.
Esse avanço é inegável. A rapidez, a gratuidade e a praticidade do Pix revolucionaram a forma como o dinheiro circula entre as pessoas, as empresas e o poder público. Pagamentos instantâneos a qualquer hora do dia ou da noite, inclusive em fins de semana e feriados, são uma realidade que aproximou o Brasil do futuro financeiro. E, nesse processo, o cidadão ganhou: abrir uma conta se tornou mais fácil; as chamadas fintechs floresceram, a população antes desbancarizada hoje movimenta dinheiro digital com o toque de um dedo.
No entanto, é hora de o Estado brasileiro – em todas as suas esferas – olhar para os efeitos colaterais dessa revolução. Com o dinheiro cada vez mais virtual, e os celulares funcionando como verdadeiras carteiras digitais, surgem novos riscos que exigem respostas igualmente inovadoras. Não basta celebrar o avanço: é necessário proteger seus frutos. Isso passa por uma reconfiguração da segurança pública no Brasil.
O que se vê nas ruas, especialmente nas grandes cidades, é um crescimento preocupante dos furtos e roubos de celulares. Os criminosos já entenderam que, ao tomar um telefone, não estão apenas levando um bem material, mas potencialmente acessando contas bancárias, senhas, cartões e chaves Pix. O telefone celular, antes instrumento de comunicação e depois ferramenta de trabalho, hoje é também a principal forma de acesso ao sistema financeiro e, portanto, precisa ser tratado como um bem de altíssimo valor.
Além disso, a criminalidade também migrou para o ambiente digital. Golpes financeiros aplicados por meio de aplicativos de mensagens, redes sociais e e-mails falsos se multiplicaram. Clonagens de contas, fraudes com Pix, falsos boletos, engenharia social – tudo isso se tornou rotina, colocando em risco o patrimônio de milhões de brasileiros. As polícias precisam, urgentemente, dedicar mais esforços e recursos à investigação e à prevenção de crimes cibernéticos.
É necessário que a proteção ao cidadão acompanhe a inovação tecnológica. Isso significa capacitar agentes públicos, investir em tecnologia para rastrear transações e, principalmente, criar mecanismos de resposta rápida para vítimas de crimes digitais. Quando uma pessoa tem o celular roubado ou cai em um golpe, a reversão dos danos precisa ser célere e eficaz. E o sistema bancário, inclusive as fintechs, tem papel essencial nesse processo, pois hoje são parte integrante da estrutura de segurança financeira da população.
O Pix nos colocou à frente do mundo. Mas para que essa liderança seja mantida de forma segura, é preciso garantir que o dinheiro digital não vire moeda fácil para criminosos. O telefone celular deve ser visto como um cofre portátil e sua proteção, uma prioridade de Estado. O futuro do dinheiro já chegou. Agora, falta garantir que ele continue sendo um avanço – e não um novo motivo de medo.




