O engenheiro Israel Klabin, ex-prefeito do Rio de Janeiro, ex-presidente do grupo Klabin e um dos principais protagonistas da Rio+20, é um dos defensores do meio ambiente de maior expressão no mundo contemporâneo. Seu interesse pelo assunto não decorre de oportunismo modista, mas iniciou na juventude quando participou do processo de nacionalização da famosa companhia inglesa The Miranda Estacia Company Limited, com sede em Londres, e negócios aqui no sul do antigo Mato Grosso (1950-1952). Certa vez, conversamos, uma tarde inteira, na sala da presidência da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, que se localizava na Rua Golfe Clube, no Rio de Janeiro. Israel foi grande amigo do embaixador Roberto Campos e ambos fizeram juntos inúmeras viagens internacionais.
Em uma delas encontraram, inesperadamente, o notável historiador inglês Arnold Toynbee que também tinha muito respeito pela mãe natureza. Toynbee por sua vez se tornou amigo do Dr. Daisaku Ikeda, atualmente o maior estadista da paz mundial e também defensor do meio ambiente com sucessivas propostas apresentadas na Organização das Nações Unidas. Em seu livro A urgência do presente: biografia da crise ambiental Editora Campus, 2012, Israel examina, entre outros temas relevantes, várias dimensões da questão ambiental no planeta Terra. Entre as questões ressalta que “discute-se a real necessidade da hidrovia Paraguai-Paraná para o desenvolvimento sustentável, pela grande região que atinge”. Sempre equilibrado e com os pés no chão chama a atenção para a complexidade do processo estabelecendo relações entre os vários domínios do assunto e buscando uma visão integrada e global da questão ambiental.
Ele não é contra a hidrovia, mas defende o casamento entre economia e sustentabilidade ressaltando que eram desconhecidos os impactos ambientais diretos e indiretos e os estudos não eram satisfatórios. O prefácio é do professor Fernando Henrique Cardoso que esteve em Corumbá como Presidente da República para inaugurar o gasoduto Brasil-Bolívia. Na ocasião fiz parte da comitiva de recepção ao lado do professor Peró, Reitor da UFMS e do deputado federal Derzi, já falecido. O presidente foi muito feliz ao tratar a questão ambiental evitando qualquer proposta catastrófica.
Assim quando li agora neste Correio do Estado (24/08/2014) “As exportações pela hidrovia do Paraguai aumentam 27% e minério é destaque nos portos de Corumbá e Ladário” conclui mais uma vez que Israel Klabin tinha toda razão quando levantou o problema no início dos anos 90 do século XX. Ele sempre defendeu uma relação equilibrada entre crescimento e meio ambiente.
Deduzi também que o talentoso economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e futuro ministro da Fazenda no caso de uma vitória do candidato Aécio Neves nas eleições de outubro leu a urgência do presente: biografia da crise ambiental, pois afirmou que “crescimento não é tudo, mas um país como o nosso precisa crescer, para melhorar o padrão da vida das pessoas” (Veja, 22/08/2014 pág. 15). É exatamente o que o engenheiro Israel Klabin sempre defendeu desde que foi prefeito do Rio de Janeiro nos anos 70 do século passado, quando o Brasil ainda era governado pelo general João Batista de Figueiredo. Pena que Israel não tenha completado um ano no cargo. Como técnico competente, ético e sensato ele estava e está muito a frente do seu tempo.


