Artigos e Opinião

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A pandemia de Covid-19 transformou radicalmente a sociedade, e a educação foi um dos setores mais impactados. O primeiro caso de coronavírus no Brasil foi registrado em fevereiro de 2020, desencadeando uma série de medidas emergenciais que afetaram diretamente o ensino em todos os níveis. O fechamento de escolas e universidades forçou uma transição abrupta para o ensino remoto, evidenciando desafios estruturais e sociais do sistema educacional brasileiro.

Agora, cinco anos após o início da pandemia, é fundamental refletirmos sobre seu legado e o que aprendemos com ela. No auge da Covid, escolas e universidades enfrentaram a necessidade de adaptar suas metodologias de ensino para a virtualidade. Essa transição trouxe desafios tecnológicos, metodológicos e psicológicos tanto para professores quanto para estudantes. Houve resistência de todos os lados, porém, ao mesmo tempo, escolas e instituições de ensino melhores preparadas tecnologicamente saíram na frente. A falta de capacitação para o ensino remoto, para a utilização das ferramentas tecnológicas, e a sobrecarga emocional dos envolvidos foram alguns dos desafios enfrentados.

Nesse contexto, realizei uma pesquisa com um grupo de pesquisadores de quatro países da América Latina. Esse estudo aborda especificamente o cenário de incertezas, erros e acertos das regulações no ensino superior nos países estudados, destacando que nem mesmo as autoridades educacionais tinham certeza de quais medidas adotar. A ausência de diretrizes claras e as mudanças constantes nas políticas contribuíram para um ambiente de extrema volatilidade e insegurança no Ensino Superior.

A crise sanitária expôs e aprofundou as desigualdades educacionais preexistentes. Dados demonstram que muitos estudantes não tinham acesso adequado à internet e a dispositivos eletrônicos para acompanhar as aulas remotas. Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 4,3 milhões de estudantes brasileiros não tinham acesso à internet em 2020. Além disso, a evasão escolar no Ensino Médio chegou a 10,1% em algumas regiões, um aumento alarmante em relação aos anos anteriores.

No Ensino Superior, a taxa de evasão também cresceu significativamente, atingindo seu maior patamar (20,8%) nas instituições públicas em 2020 e nas instituições particulares (38,8%), de acordo com um estudo publicado pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub). A qualidade da Educação Básica foi duramente afetada, resultado em quedas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e em dificuldades de aprendizado que até hoje impactam o desempenho dos alunos.

A pandemia impulsionou o crescimento da educação a distância (EaD), consolidando esse modelo como uma alternativa viável e acessível. Dados do Censo da Educação Superior mostram que, em 2021, o número de matrículas em cursos EaD superou pela primeira vez as do ensino presencial. Já o último censo, de 2023, revela que 66,4% – ou seja, mais de 3 milhões dos ingressantes – foram nessa modalidade. Esse crescimento reflete uma mudança na percepção sobre o aprendizado digital e resulta na adoção de metodologias mais flexíveis e acessíveis.

O conceito de aprendizado contínuo (lifelong learning) também ganhou força, tanto pela exigência do mercado de trabalho quanto pela popularização das plataformas digitais, de diversas edtechs e dos cursos on-line, que ampliaram sobremaneira o acesso ao conhecimento, impulsionando novas formas de aprendizado.
Com o retorno às atividades presenciais, buscou-se conciliar o melhor do presencial e do remoto, com muitas tendências indicando um modelo híbrido como alternativa. 

A transformação digital forçada pela pandemia acelerou o mercado das tecnologias educacionais, e a inteligência artificial e as metodologias ativas estão protagonizando o cenário, oferecendo novas possibilidades para a personalização do aprendizado.

A pandemia de Covid-19 deixou marcas profundas na educação, mas também acelerou transformações importantes. O desafio agora é consolidar os aprendizados e garantir que o futuro da educação seja mais significativo, inclusivo, acessível e inovador. O tão falado novo normal chegou, e talvez já esteja passando, deixando a lição de se as mudanças são parte permanente da evolução educacional.

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EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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