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OPINIÃO

Cirilo Tissot: "Prevenção às drogas passa pelos familiares, não pelos filhos"

Psiquiatra, especialista em dependência química

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Houve uma época em que eu fazia parte de um trabalho de prevenção às drogas, realizado a partir da campanha de uma rádio em São Paulo, e visitava escolas levando comigo ex-pacientes reabilitados. E o que eu descobri, na prática, foi que a prevenção nesse formato não funcionava. Ao falarmos sobre drogas, despertávamos nos adolescentes a curiosidade, e não uma visão crítica sobre a situação que envolvia o seu uso e os problemas a ele relacionados. Acredito que, bem ou mal, todos nós já sabemos dos malefícios das drogas. Mas a prevenção passa pela postura dos familiares e não pelos filhos.

Me formei médico muito cedo e, quando comecei a atuar como psiquiatra na clínica da qual depois viria a ser sócio, minha meta era fazer com que as pessoas que viessem a se internar ficassem abstinentes por seis meses após sua saída. Para alcançar essa meta, tinha equipe qualificada e toda estrutura necessária para tratar pacientes involuntários graves, viciados em cocaína e injetáveis (ainda não havia a disseminação do crack), que não queriam se internar.

E por que seis meses? Porque os estudos já mostravam que quem fica seis meses sem usar drogas, fica um ano. A primeira coisa que aprendi nessa jornada é que certos mitos que trazemos caem por terra. A ideia de que para a pessoa não usar drogas ela precisa praticar esporte, por exemplo, é uma bobagem. Assim como também que a pessoa, para sair do vício, precisa arrumar um (a) namorado (a) que possa se transformar em um relacionamento afetivamente sério. Tudo isso não servia.

Demoramos 20 anos para aprender quais, entre tantas variáveis, nos faziam alcançar nossa meta. Era o tipo de terapia? Era a terapia em família? Eram as diferenças entre os tipos de famílias? Era a ajuda de uma atividade física? De uma terapia com música, de uma massagem? Eram tantas possibilidades que levou tempo para sentirmos que estávamos no controle da reabilitação.

Mas, definitivamente, a primeira coisa que descobri e a única, durante uma internação, que faz toda diferença do mundo, em qualquer dos pacientes que lá estejam, é aquilo que chamamos de função paterna, papel que pode ser assumido por qualquer pessoa: pai, mãe, filho, irmão, professor. Se não tem função paterna, não existe reabilitação.

Se existe função paterna, quando a pessoa sai da instituição fica anos sem registro de recaídas. Mas percebemos que uma parcela dos pacientes voltava a usar drogas após cinco anos ou mais de abstinência, como se nunca tivessem feito tratamento na vida. Isso porque aquilo que fazia a pessoa ficar longe das drogas era se o projeto de vida dela tinha tido êxito ou não. Se a vida pós ou antes das drogas fazia ou não sentido. Quando cheguei nesse ponto, como médico, pensei: “como vou dar sentido à vida do meu paciente? ”.

É como a preocupação sobre de que forma vamos criar nossos filhos para a vida. Que pressupostos teremos como linha e bússola para que enfrentem a vida de um jeito melhor? Vamos treinar nossos filhos para que fiquem craques na diversão ou vamos prepará-los para a satisfação? São duas coisas diferentes que existirão na vida deles, queiramos ou não.

Para melhor explicar: posso, de repente, vivenciar uma situação e ficar alegre. Eu não controlo quando vou ou não ficar alegre. Não controlo quando vou ficar eufórico ou o que vai me fazer ficar eufórico. Mas a ideia da satisfação é algo sobre o que, teoricamente, nós temos controle. É como se criássemos uma filosofia de vida. Algo que faço hoje e pretendo repetir para a vida. Que me dá satisfação e dá sentido à minha vida. 

Diante de tantas opções e dúvidas que a convivência pode despertar, o exercício da função paterna se realiza na presença do não, do estabelecimento claro dos limites. Do adulto assumir a responsabilidade da criação da pessoa e ter consciência de que é a prática do não, de fixar limites, que vai fazer a pessoa (seu filho) se frustrar, ir contra você.

A reação psicológica de uma pessoa ao receber o não sempre é a mesma e já está descrita em cinco fases emocionais: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Se você consegue superar esse processo, seu filho entenderá e aceitará o que vier pela frente para sempre, mesmo quando estiver sozinho, autônomo.

É preciso ter firmeza, o que nem sempre acontece. Porque, na realidade, são inúmeras batalhas desse nível para conseguir dar vivências aos filhos, para que possam escolher o seu projeto de vida. É de responsabilidade dos pais, e não da escola, entender que tipo de vivência os filhos precisam ter, o que se precisa negar a eles, o que liberar, para que eles comecem a ter essa visão. E para darem sentido à própria vida.

Editorial

Estado acelera no etanol: energia verde

Basta circular pelas rodovias de MS para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra

24/12/2025 07h15

Arquivo

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Talvez ainda não tenhamos nos dado conta da dimensão do que está acontecendo. Mas a produção de bioenergia está, literalmente, em pleno vapor no Brasil – e, de forma muito particular, em Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma transformação silenciosa, que não costuma ganhar manchetes diárias, mas que pode ser decisiva para o futuro econômico, ambiental e estratégico do Estado e do País.

Basta circular pelas rodovias sul-mato-grossenses para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra. Eles cruzam o Estado carregados de etanol anidro ou etanol hidratado, destinados para distribuidoras de todas as regiões do Brasil. É o retrato de uma cadeia produtiva em franca expansão, impulsionada por demanda crescente e por decisões estruturais que reposicionam o Brasil no mapa da transição energética.

Essa verdadeira revolução verde está acontecendo, de forma concreta, nos tanques de combustível. O consumo de etanol cresce, a produção acompanha esse ritmo e se diversifica, especialmente com o avanço do etanol de milho, no qual Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente. Soma-se a isso uma política energética relevante: a exigência de 30% de etanol anidro misturado a gasolina comercializada no País. Trata-se de uma regra estratégica, que reduz a emissão de poluentes, diminui a dependência do petróleo e fortalece uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Não é pouca coisa. Em um mundo que busca, ainda de forma desigual, caminhos para a descarbonização, o Brasil dispõe de uma vantagem comparativa rara: a capacidade de produzir energia renovável em larga escala, com tecnologia, competitividade e menor impacto ambiental. Mato Grosso do Sul, nesse contexto, consolida-se como peça-chave. O Estado deixou de ser apenas um grande produtor agropecuário para se firmar como polo industrial de bioenergia, com usinas modernas, investimentos robustos e geração de empregos diretos e indiretos.

O Correio do Estado tem mostrado, ao longo dos últimos anos, a força crescente da indústria de etanol sul-mato-grossense. Não se trata apenas de números de produção ou de novos empreendimentos, mas de um reposicionamento econômico que altera a lógica de desenvolvimento regional. A bioenergia gera renda, movimenta cadeias logísticas, estimula inovação e amplia a arrecadação, ao mesmo tempo em que responde a uma das maiores urgências do nosso tempo: a necessidade de reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas.

É claro que desafios permanecem. Infraestrutura, logística, regulação e planejamento de longo prazo precisam acompanhar esse crescimento para que ele seja sustentável em todos os sentidos. Mas o caminho está posto. O Estado já é, na prática, uma grande usina de energia verde a céu aberto, capaz de produzir combustível limpo, reduzir a pegada de carbono e contribuir para a segurança energética nacional.

Mais do que um ativo econômico, essa vocação representa uma responsabilidade. Mato Grosso do Sul pode – e deve – ser exemplo para o Brasil e para o mundo. A bioenergia não é promessa distante: ela já está nas estradas, nos tanques, nas usinas e no cotidiano da população. Cabe agora reconhecer essa realidade, valorizá-la e transformá-la em política de Estado, para que o desenvolvimento caminhe lado a lado com a sustentabilidade.

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ARTIGOS

O passado desafia a ciência

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies, mas alguns pontos ainda intrigam

23/12/2025 07h45

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Ao longo da história, parece que nosso planeta foi palco de diferentes “camadas” de civilizações. Cada uma deixou marcas, enigmas e realizações que ainda hoje nos desafiam. Na camada atual, buscamos organizar o passado em linhas cronológicas, tentando conectar datas e teorias de evolução. Nem sempre, porém, essas conexões se sustentam de forma linear.

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies. Mas alguns pontos ainda intrigam.

Há saltos inesperados e caminhos surpreendentes, como o caso do polvo – um animal com características biológicas únicas – ou o fator Rh negativo em humanos, cuja origem permanece pouco clara.

Esses exemplos alimentam a imaginação e levantam hipóteses sobre a Terra como possível “laboratório de experiências”.

Outro enigma fascinante é o surgimento e desaparecimento dos dinossauros. Eles habitaram todos os continentes e dominaram o planeta por milhões de anos. O fim abrupto, atribuído ao impacto de um meteoro na região do atual Golfo do México, teria desencadeado um inverno global que durou anos.

Para alguns, esse evento sugere não apenas um acidente cósmico, mas uma intervenção programada na história da vida.

Seguindo a linha do tempo, chegamos às primeiras civilizações humanas. Povos antigos demonstraram capacidades impressionantes: ergueram blocos de pedra de dezenas e até centenas de toneladas, como o monumental bloco de cerca de 570 toneladas na base da muralha em Jerusalém.

Além disso, desenvolveram conhecimentos científicos notáveis. Eratóstenes, físico e matemático grego, calculou a circunferência da Terra com precisão admirável há mais de dois milênios – e pensar que hoje ainda há quem defenda que o planeta seja plano.

Diante desse mosaico de enigmas, que vai dos saltos evolutivos às obras monumentais deixadas por povos antigos, o que realmente se evidencia é nossa inquietação ancestral. Cada hipótese, seja científica ou imaginativa, revela menos sobre o passado em si e mais sobre o desejo humano de construir sentido e reconhecer seu lugar na história do planeta.

É nesse espírito de investigação curiosa que em “Vale do Silêncio – O Enigma do Lago” não trago respostas, mas um convite, recriando, pela ficção, o impulso que sempre nos moveu: olhar para o inexplicável e ousar formular novas perguntas.

Ao final, não importa quão sólida seja uma teoria ou quão fantástica seja outra, o que permanece é a importância de continuar explorando e ampliando as possibilidades do que entendemos como origem.

Ao observar tantos pontos obscuros em nossa trajetória, fica claro que a humanidade ainda está longe de compreender completamente de onde veio. A ciência avança, corrige rumos, descarta teorias e propõe outras, mas deixa brechas que alimentam nosso impulso de investigar.

Cada lacuna é um convite para reexaminar certezas e assumir que parte do passado permanece fora do alcance. Especular não é apenas um exercício de imaginação, mas uma necessidade intelectual. Permite explorar caminhos improváveis, levantar hipóteses e reconhecer que a história humana é maior do que qualquer narrativa linear.

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