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Civilização e inovação: entre a herança moderna e os dilemas contemporâneos

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A Revolução Industrial costuma ser vista como um marco abrupto da história, fruto de avanços tecnológicos e científicos que transformaram estruturas econômicas e sociais. Essa visão simplifica trajetórias históricas complexas que prepararam seu surgimento. O livro “Civilização e Inovação: a Revolução Industrial como um Fenômeno Evolucionário Civilizacional”, de Ademar Ribeiro Romeiro (Editora Annablume, 2024), mostra que a revolução não foi um evento isolado, mas resultado de uma trajetória civilizacional iniciada com o sistema feudal no século 11 e que promoveu uma inédita abertura à inovação. A interação entre inovações culturais, institucionais, organizacionais e tecnológicas criou as condições para uma “explosão” de avanços que impulsionaram o crescimento econômico sustentado.

Romeiro também ressalta que inovação é um processo de longo prazo, resultado de acúmulos históricos, e que as rupturas são, muitas vezes, desdobramentos de tendências preexistentes. O fortalecimento da ciência moderna, a racionalização da produção e o avanço das instituições de mercado foram conquistas graduais. Soma-se a isso o papel crucial do Estado e de elites reformadoras, que, por meio de decisões políticas e projetos estratégicos, viabilizaram a emergência da economia industrial.

O uso do termo “civilizacional” convida a uma reflexão mais ampla sobre os fundamentos da modernidade. Embora no livro ele apareça de forma descritiva, aqui ganha um sentido normativo: civilização como projeto coletivo orientado por valores éticos e políticos, baseado em quatro pilares: a valorização do trabalho produtivo, substituindo a ociosidade aristocrática; a crença no progresso e na razão instrumental, com seus benefícios e riscos; a universalização dos direitos e da cidadania, ainda que de forma desigual e com contradições; e a ideia de civilização como superação da barbárie – que, muitas vezes, também serviu para justificar a dominação de povos sob o pretexto do progresso.

Vivemos hoje uma nova revolução – digital, biotecnológica, algorítmica –, cujos impactos talvez ainda não compreendamos completamente. E o grande dilema é: que tipo de civilização estamos construindo?

O trabalho, que foi eixo da cidadania e do bem-estar, é cada vez mais ameaçado pela automação, gerando desemprego, obsolescência funcional e perda de sentido. Como sustentar o tecido social sem o trabalho como referência?

A razão técnica, antes vista como esperança de emancipação, tornou-se também fonte de risco. A ciência nunca demonstrou tanto seu valor como na resposta à pandemia, nos avanços da inteligência artificial, das vacinas e das energias renováveis – e, ainda assim, nunca foi tão contestada por parcelas significativas da sociedade. Além disso, mesmo quando reconhecemos a ciência, ela não basta. As grandes crises do nosso tempo exigem novos arranjos institucionais, mecanismos de cooperação internacional, formas eficazes de financiamento e, sobretudo, decisões políticas corajosas. Sem uma orientação civilizatória, mesmo as soluções mais sofisticadas podem fracassar – ou agravar os problemas que pretendem resolver.

A cidadania, antes promessa de universalidade, sofre a corrosão das bolhas digitais e dos algoritmos de segmentação. Os direitos tornam-se fragmentados, o acesso à informação é mediado por interesses opacos e a política é capturada por lógicas de mercado e performance. O Estado, que no passado foi motor da inovação civilizacional, aparece agora hesitante – ou mesmo capturado.

Os paradoxos estão postos.

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EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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