A certificação ISO 37001, voltada ao sistema de gestão antissuborno, é hoje um dos marcos mais relevantes para empresas que querem demonstrar compromisso com a integridade. Trata-se de um passo importante para a melhoria da organização e do controle dos processos, com potencial ganho em otimização de custos e imagem. Mas, ao mesmo tempo, é preciso dizer com clareza: o selo, sozinho, não resolve.
Em muitos casos, a ISO 37001 virou vitrine. Está no site, no relatório institucional, na apresentação de vendas, mas não chega ao “chão da fábrica”: às pessoas, aos processos internos, às áreas de compras, aos relacionamentos com parceiros e, sobretudo, ao trato com o setor público. O resultado é uma certificação que, no papel, impressiona; na prática, pouco transforma comportamento.
Esse risco aumenta em mercados cada vez mais regulados, como os contratos públicos. Com a Lei Anticorrupção, a nova Lei de Licitações e programas de integridade em Estados e municípios, não basta mostrar certificados.
Governos, pressionados por Tribunais de Contas e Ministérios Públicos, cobrarão cada vez mais evidências concretas de mudança de comportamento por parte de seus fornecedores. Como bem diz uma das principais autoridade mundiais no tema, “la certificación no resulta un factor decisivo” (Adán Nieto Martín).
Portanto, mais do que papéis, a régua agora é outra: medir não apenas se existe um sistema de compliance, mas se esse sistema gera comportamento diferente: se os colaboradores entendem os dilemas éticos do dia a dia; se a área de compras consegue recusar propostas com risco de integridade; se líderes dão o exemplo quando enfrentam pressões; se o relacionamento com entes públicos é pautado pela transparência. Esses são os sinais que validam o selo.
Isso não significa diminuir a importância da certificação. Ao contrário, ela é um marco que deve ser celebrado. O problema surge quando a empresa se acomoda no certificado, acreditando que ele é garantia de confiança eterna. É aqui que muitas organizações perdem o timing da transformação cultural e se expõem a riscos que a própria ISO pretendia mitigar.
Empresas que realmente extraem valor da 37001 são aquelas que entendem o selo como ponto de partida, não de chegada. Elas tiram o certificado da vitrine e o colocam em movimento: em treinamentos que engajam de verdade, em processos claros de tomada de decisão, em canais de denúncia que funcionam, em lideranças que reforçam os valores pelo exemplo e presença junto aos colaboradores.
Aliás, pesquisas mostram que 70% da percepção dos funcionários sobre o clima organizacional é atribuída às ações dos líderes, o que deixa claro que efetividade se constrói com presença, exemplo e cultura viva.
No fim, a pergunta que fica é simples: sua empresa tem uma ISO para mostrar ou para transformar? Porque, no ambiente atual, apenas a segunda opção protege contratos, receita e reputação. O resto é vitrine – e vitrine, sozinha, não sustenta negócios por muito tempo.
O verdadeiro valor nasce no chão de fábrica, onde pessoas e processos mostram se a ética está viva na prática, e não apenas estampada no certificado.


