Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta quinta-feira: "Mais difícil do que parece"

Confira o editorial desta quinta-feira: "Mais difícil do que parece"

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No primeiro semestre, houve quem dissesse que a aprovação da reforma tributária seria mais fácil do que a da Previdência. Não é isso que os fatos indicam.

O ano de 2019 começou com duas desafiadoras reformas em pauta: a da Previdência e a tributária. O primeiro desses desafios, considerado o mais difícil por autoridades e analistas, foi o de reformar o sistema previdenciário brasileiro, tema que vem sendo tratado pelos governantes desde 2015: começou no mandato de Dilma Rousseff, houve tentativa de Michel Temer e tudo indica que Jair Bolsonaro concluirá o propósito de economizar com o pagamento de benefícios, aumentando idades mínimas e alterando os critérios para que as pessoas tenham acesso a aposentadorias, auxílios e pensões. O segundo desafio, à época considerado um pouco mais fácil, seria o de alterar o sistema de cobranças de impostos. 

Por sua abrangência e também pelas perdas de várias categorias, as mudanças na Previdência Social foram extensivamente debatidas na Câmara, o que continuará no Senado. A proposta inicial do governo, que previa até mesmo o regime de capitalização, tem sido bastante alterada. Esse regime, que estima que cada cidadão contribua para uma conta individual ao longo da vida, foi suprimido ainda na Câmara. Recentemente, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, regra que permitia que pensionistas recebessem menos de um salário mínimo também foi retirada do texto. É do jogo democrático e é para isso que o Congresso Nacional existe, para aperfeiçoar as propostas.

Quando o governo federal encaminhou o projeto de reforma da Previdência no primeiro semestre, o comentário que preponderava em Brasília era de que, no segundo semestre, a reforma tributária seria encaminhada e facilmente aprovada. A julgar pelas notícias desta semana, porém, as dificuldades para tratar do tema já começaram a aparecer – o pontapé foi a demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra – e ainda existem muitas por vir. Há quem diga que essa mudança de legislação será muito mais tensa e complexa do que a do regime previdenciário.

Existem muitas demandas em jogo para mudar o sistema tributário. A simplificação dos impostos deve acabar com a guerra fiscal, mas ainda não há mecanismos para que estados menos industrializados sejam compensados pela desvantagem que têm em relação aos grandes centros produtores e consumidores.

É fato que os impostos pesam para todos, sobretudo, para o setor produtivo. Quando todo um sistema muda, há quem ganhe e há quem perca, e todos querem estar do lado dos vencedores. A necessidade da reforma tributária existe e está claríssima, especialmente, com os estados. São eles que sobrevivem, principalmente, do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e que enfrentam mais dificuldades para honrar compromissos como o pagamento de servidores públicos e investir em infraestrutura. Essa reforma, que ainda nem foi oficialmente apresentada pelo governo federal, ao que tudo indica, poderá ser mais complexa do que a da Previdência. A conferir.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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