As alianças para votações são formalizadas priorizando interesses particulares, em detrimento às reais necessidades dos brasileiros.
Desafios e perspectivas do Governo de Michel Temer figuram entre os assuntos mais comentados na repercussão logo após a consolidação do impeachment de Dilma Rousseff. Nada mais natural que, diante das inúmeras críticas e defeitos apontados em relação à gestão petista, adotem-se medidas capazes de reverter o colapso nas finanças que levam a estagnação de investimentos e desemprego recorde.
A tarefa de Temer, porém, não deve ser fácil. Sabe-se que prepara medidas impopulares como forma de recuperar as contas públicas, com a reforma na Previdência e alterações nas leis trabalhistas. Inclusive, ajustes fiscais são avaliados. Para promover essas mudanças estruturais, o apoio do Congresso será imprescindível, mas a primeira crise na base aliada já apareceu em decorrência da aprovação da manutenção dos direitos políticos de Dilma.
PSDB e DEM já ameaçam deixar a base aliada, sustentando que houve “acordão” entre PMDB e PT. Evidente as preocupações com as pretensões eleitorais, já que Dilma foi clara em seu recado de que os petistas terão oposição firme e pretendem voltar.
Fala-se que essa decisão terá repercussões para beneficiar o deputado federal afastado Eduardo Cunha, em processo de cassação, separando a votação da perda do mandato da inegibilidade, nos mesmos moldes do que foi feito na votação relacionada à Dilma no Senado. O tempo irá ajudar a sanar as dúvidas acerca desse novo imbróglio. Fica, porém, a certeza de que nossos representantes continuam a se pautar pelos interesses políticos.
As alianças para votações são formalizadas priorizando interesses particulares, em detrimento às reais necessidades dos brasileiros. Em tese, as ameaças de romper com a base de Temer podem enfraquecê-lo na aprovação de medidas amargas para sanar problemas econômicos do País. Os planos que os aliados de agora ajudaram a elaborar não podem simplesmente ser desconsiderados ou refutados em nome de parcerias políticas. Infelizmente, o desfecho do impeachment parece não ter deixado lições suficientes para banir tais comportamentos.
O PT está hoje enfraquecido. Nessas eleições municipais, reduziu consideravelmente o número de candidatos em todo País, que chega ao menor patamar dos últimos 20 anos. Dilma Rousseff amarga o “peso” da decepção por não ter conseguido cumprir grande parte de suas promessas e ter mascarado durante a campanha eleitoral o fracasso de sua política econômica que, aos poucos, revelou-se na gravíssima crise que enfrentamos.
Os planos eleitorais, porém, ainda dependem do desempenho de Temer. Resultados ruins nesses dois anos e quatro meses de gestão podem comprometer as metas de aliados que, hoje, participam da gestão. Nessa mesma linha, poderia ser garantida uma sobrevida aos petistas, que não vão desistir de voltar à Presidência e tentar fortalecer o partido. Há, portanto, até mesmo preocupações políticas nas consequências para que a gestão de Temer tenha resultados positivos.
Enquanto o presidente recém empossado está na China, tentando firmar parcerias e resgatar a confiança de investidores estrangeiros abalada pela recessão econômica, terá voltar suas preocupações para outra crise interna, fomentada por motivações intrinsecamente políticas. Infelizmente, alguns políticos continuam a criar motivos para manter o clima de instabilidade no País, algo que só agrava os problemas herdados e não contribui para reverter as dificuldades. Enquanto cada um estiver apenas focado nos interesses pessoais, a meta de “colocar o Brasil nos trilhos” jamais será concretizada.


