Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta sexta-feira: "Interesses desvirtuados"

Confira o editorial desta sexta-feira: "Interesses desvirtuados"

Redação

02/09/2016 - 03h00
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As alianças para votações são formalizadas priorizando interesses particulares, em detrimento às reais necessidades dos brasileiros. 

Desafios e perspectivas do Governo de Michel Temer figuram entre os assuntos mais comentados na repercussão logo após a consolidação do impeachment de Dilma Rousseff. Nada mais natural que, diante das inúmeras críticas e defeitos apontados em relação à gestão petista, adotem-se medidas capazes de reverter o colapso nas finanças que levam a estagnação de investimentos e desemprego recorde.

A tarefa de Temer, porém, não deve ser fácil. Sabe-se que prepara medidas impopulares como forma de recuperar as contas públicas, com a reforma na Previdência e alterações nas leis trabalhistas. Inclusive, ajustes fiscais são avaliados. Para promover essas mudanças estruturais, o apoio do Congresso será imprescindível, mas a primeira crise na base aliada já apareceu em decorrência da aprovação da manutenção dos direitos políticos de Dilma.

PSDB e DEM já ameaçam deixar a base aliada, sustentando que houve “acordão” entre PMDB e PT. Evidente as preocupações com as pretensões eleitorais, já que Dilma foi clara em seu recado de que os petistas terão oposição firme e pretendem voltar. 

 Fala-se que essa decisão terá repercussões para beneficiar o deputado federal afastado Eduardo Cunha, em processo de cassação, separando a votação da perda do mandato da inegibilidade, nos mesmos moldes do que foi feito na votação relacionada à Dilma no Senado.  O tempo irá ajudar a sanar as dúvidas acerca desse novo imbróglio. Fica, porém, a certeza de que nossos representantes continuam a se pautar pelos interesses políticos.

As alianças para votações são formalizadas priorizando interesses particulares, em detrimento às reais necessidades dos brasileiros. Em tese, as ameaças de romper com a base de Temer podem enfraquecê-lo na aprovação de medidas  amargas para sanar problemas econômicos do País. Os planos que os aliados de agora ajudaram a elaborar não podem simplesmente ser desconsiderados ou refutados em nome de parcerias políticas. Infelizmente, o desfecho do impeachment parece não ter deixado lições suficientes para banir tais comportamentos. 

 O PT está hoje enfraquecido. Nessas eleições municipais, reduziu consideravelmente o número de candidatos em todo País, que chega ao menor patamar dos últimos  20 anos. Dilma Rousseff amarga o “peso” da decepção por não ter conseguido cumprir grande parte de suas promessas e ter mascarado durante a campanha eleitoral o fracasso de sua política econômica que, aos poucos, revelou-se na gravíssima crise que enfrentamos.

Os planos eleitorais, porém, ainda dependem do desempenho de Temer. Resultados ruins nesses dois anos e quatro meses de gestão podem comprometer as metas de aliados que, hoje, participam da gestão. Nessa mesma linha, poderia ser garantida uma sobrevida aos petistas, que não vão desistir de voltar à Presidência e tentar fortalecer o partido.   Há, portanto, até mesmo preocupações políticas nas consequências para que a gestão de Temer tenha resultados positivos. 

 Enquanto o presidente recém empossado está na China, tentando firmar parcerias e resgatar a confiança de investidores estrangeiros abalada pela recessão econômica, terá voltar suas preocupações para outra crise interna, fomentada por motivações intrinsecamente políticas. Infelizmente, alguns políticos continuam a criar motivos para manter o clima de instabilidade no País, algo que só agrava os problemas herdados e não contribui para reverter as dificuldades. Enquanto cada um estiver apenas focado nos interesses pessoais, a meta de “colocar o Brasil nos trilhos” jamais será concretizada.
 

EDITORIAL

O paralelo entre o consórcio e a Enel

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar os salários de seus empregados, é o fundo do poço de um contrato problemático

18/12/2025 07h15

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A população de Campo Grande caminha para viver uma semana lamentável na prestação de serviços essenciais, em especial no transporte público.

A iminência de paralisações, a insegurança sobre a continuidade das linhas e o desgaste cotidiano enfrentado pelos usuários expõem, de forma escancarada, um sistema que já vinha dando sinais claros de esgotamento. O que se vê agora não é um episódio isolado, mas o ápice de uma crise que se arrasta há anos.

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar o pagamento dos salários de seus empregados, representa o fundo do poço de um contrato problemático.

Um contrato que resulta em um serviço aquém do esperado, marcado por frota envelhecida, atrasos constantes, superlotação e uma satisfação baixíssima da população. Quando trabalhadores deixam de receber e usuários ficam sem transporte, fica evidente que o modelo fracassou.

A situação revelada durante a greve escancara uma verdadeira falência contratual. Não se trata apenas de um colapso financeiro, mas também de uma falência de credibilidade junto aos usuários, às instituições e ao próprio poder concedente.

O paralelo com a crise vivida pela concessionária de energia elétrica Enel, em São Paulo, é inevitável. Assim como ocorreu no setor elétrico paulista, o problema deixou de ser apenas técnico ou pontual e passou a comprometer a confiança no serviço prestado e na capacidade de resposta da concessionária.

A demonstração mais clara desse cenário lamentável foi a intervenção da Justiça no Consórcio Guaicurus, decidida nesta semana. Ainda que se discuta se a intervenção será, de fato, efetivada ou em que moldes ocorrerá, o simples fato de o Judiciário ser chamado a intervir já evidencia a gravidade da situação.

Quando contratos de concessão chegam a esse ponto, é sinal de que todos os mecanismos de fiscalização e correção falharam ao longo do caminho.

Independentemente do desfecho jurídico, o que se impõe é a necessidade urgente de mudar a forma de prestar o serviço de transporte público em Campo Grande. Não se resolve um problema estrutural com medidas improvisadas, paliativos ou decisões baseadas em achismos.

É indispensável uma ampla revisão do modelo, com estudos técnicos consistentes, um desenho financeiro sustentável e metas claras de qualidade e eficiência.

Há cerca de dois anos, o governo do Estado, que tem acumulado experiência em parcerias público-privadas, dispôs-se a auxiliar o Município na busca por soluções. Não está claro, até agora, se essa ajuda foi efetivamente buscada ou aproveitada pela administração municipal.

O fato é que oportunidades de cooperação técnica e institucional não podem ser desperdiçadas quando está em jogo um serviço essencial para a vida urbana.

O que está absolutamente claro é que algo precisa ser feito – e com urgência. Mais do que uma greve de motoristas, a situação vivida nesta semana é um grito coletivo por melhoria do transporte público.

É o clamor de trabalhadores que querem receber em dia, de usuários que exigem dignidade e de uma cidade que não pode continuar refém de um sistema falido. Ignorar esse alerta é condenar Campo Grande a repetir, indefinidamente, os mesmos erros e as mesmas crises.

ARTIGOS

Greve de ônibus em Campo Grande expõe falhas de gestão e fragilidade institucional

Quando um serviço essencial entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população

17/12/2025 07h45

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A greve de ônibus em Campo Grande vai além de um impasse pontual entre trabalhadores, empresas e poder público, ela escancara a precariedade da gestão atual e a fragilidade das instituições responsáveis por garantir a prestação adequada dos serviços públicos.

Quando o transporte coletivo – um serviço essencial – entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população.

As instituições que deveriam zelar pela entrega de valor à sociedade falham ao permitir que conflitos previsíveis cheguem a esse nível. A gestão pública, ao não exercer seu papel regulador com firmeza e transparência, transfere para o cidadão o custo da ineficiência administrativa.

A falta de diálogo estruturado, de contratos bem fiscalizados e de políticas de mobilidade consistentes cria um ambiente de instabilidade permanente, no qual greves se tornam recorrentes e quase naturalizadas.

O impacto econômico é imediato e amplo. Trabalhadores enfrentam dificuldades para chegar aos seus empregos, empresas perdem produtividade, o comércio registra queda no movimento e serviços essenciais operam de forma precária.

A economia como um todo sai perdendo, pois a interrupção do transporte coletivo afeta cadeias produtivas inteiras e aprofunda desigualdades, penalizando principalmente quem depende exclusivamente do ônibus para se deslocar.

Além disso, a paralisação traz consequências diretas para a saúde e o bem-estar de todos. Com a dificuldade de deslocamento, equipes responsáveis pelos serviços de asseio e conservação também são prejudicadas, resultando em deterioração das condições sanitárias em diversos ambientes, como escolas, supermercados, condomínios, etc.

Esse cenário favorece a proliferação de doenças, aumenta riscos ambientais e compromete a qualidade de vida.

Mais grave ainda é o prejuízo à cidadania. O direito de ir e vir é comprometido, assim como o acesso a serviços básicos, e a população passa a perceber o Estado como incapaz de cumprir sua função básica de garantir serviços públicos de qualidade.

Isso corrói a confiança nas instituições e reforça a sensação de abandono e descrédito na gestão pública.

A greve de ônibus, portanto, não deve ser vista apenas como um problema trabalhista ou operacional, mas como um sintoma de falhas estruturais.

Superar esse cenário exige uma gestão mais profissional, instituições fortalecidas, transparência nos contratos e um compromisso real com a entrega de valor ao cidadão. Sem isso, crises semelhantes continuarão a se repetir, com custos sociais, econômicos e sanitários cada vez mais elevados.

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