Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial desta terça-feira: "A devida importância"

Confira o editorial desta terça-feira: "A devida importância"

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A população ganharia mais se os deputados estaduais e vereadores se preocupassem com temas regionais. Para assuntos de abrangência nacional, já temos deputados federais e senadores.

Nesta década, os temas de abrangência nacional têm ganhado mais relevância no noticiário e também nas discussões familiares. Em rodas de amigos ou parentes, é comum encontrarmos as pessoas debatendo – muitas vezes divergindo, o que é bom e natural, desde que de forma pacífica – temas como a necessidade de se preservar ou não a Amazônia ou sobre os caminhos da operação Lava Jato. É muito importante que a população converse sobre estes temas; isso ajuda todos a ficarem mais politizados, e não há problemas em debatê-los. 

Senadores e deputados federais, por exemplo, que estão diretamente ligados a temas que dizem respeito a suas esferas de atuação, devem se posicionar sempre, e é isso que os órgãos de imprensa cobram. Assim fazemos. Nossa cobrança, porém, é para que todos atuem dentro de sua competência e dediquem seu tempo, seus esforços e o precioso (e um tanto quanto raro) dinheiro público em temas que realmente valem a pena.

Nesta edição, trazemos ao leitor um raio x do que tem sido as sessões da Assembleia Legislativa recentemente. Muitíssimas discussões: partidários do presidente da República saem em defesa dele enquanto os integrantes dos partidos de oposição ao chefe do governo, como era de se esperar, o atacam. A discussão seria válida e salutar se ela ocorresse não na Assembleia Legislativa, mas no Congresso Nacional – no Senado ou na Câmara dos Deputados.

Discussões partidárias em parlamentos estaduais e municipais, que deixam os temas locais e regionais de lado, não passam de desperdício de tempo e dinheiro. Deputados e vereadores nada podem fazer, por exemplo, sobre telefonia. Mas, recentemente, deputado estadual aprovou lei que isenta desempregados da cobrança de multa por fidelização das empresas telefônicas. Atitude nobre, e justa, se a telefonia fosse um setor regulamentado por lei estadual. Para a tristeza dos possíveis beneficiários de tal norma, a chance de ela ser vetada pelo governador é grande, até porque não é da competência do Legislativo Estadual tratar de tal tema. O mesmo se aplica à proposta recente que pretende proibir um brinquedo liberado pelo Inmetro. Chance de veto, ou de a lei não ser aplicada na prática, também é enorme.

A população ganharia mais se os deputados estaduais e vereadores se preocupassem com leis que poderiam ajudar a arrecadação a aumentar ou a levar serviços públicos de excelência ao cidadão; e se ouvissem mais as demandas de suas bases. Para as reivindicações de espectro nacional, Mato Grosso do Sul já conta com oito deputados federais e três senadores.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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