Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o nosso editorial deste sábado: "O gás natural que faltava"

Confira o nosso editorial deste sábado: "O gás natural que faltava"

Redação

17/08/2019 - 03h00
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A termelétrica William Arjona marcou o início da operação do Gasoduto Bolívia-Brasil e agora, em um momento de incerteza com a arrecadação, sua reativação também é um marco importante 

Toda mudança gera um certo receio e um pouco de ansiedade. As pessoas temem uma realidade que não conhecem e, à medida que alguma grande mudança se aproxima, as preocupações daqueles mais precavidos aumentam. Não poderia ser diferente. O ser humano só chegou aonde chegou, em termos evolutivos, justamente para tornar o seu cotidiano mais fácil, garantindo mais tranquilidade para enfrentar o inesperado. 

Assim também ocorre em algumas situações envolvendo o setor privado e o poder público. A partir de janeiro do ano que vem, por exemplo, o contrato entre a Petrobras e o governo da Bolívia não terá mais vigência. Assinado em 1999, ele previa a importação mensal de até 30 milhões de metros cúbicos de gás natural, que na época seriam o bastante para abastecer os mercados por onde passa o Gasoduto Bolívia-Brasil: os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O Gasbol, vale destacar, foi muito importante para o fornecimento de energia para o Centro-Sul do Brasil nos últimos trinta anos. Em primeiro lugar, ajudou o governo federal a se livrar do temor do “apagão”. No início da década de 2000, uma estiagem prolongada reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas, e a União deu início a um racionamento de energia e a um plano para reativar termelétricas e diversificar a matriz energética brasileira.

É neste contexto que Mato Grosso do Sul teve uma guinada histórica em sua arrecadação de impostos. Curiosamente, desde que os recursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do gás natural entraram regularmente no caixa do Estado, nunca mais houve atraso de salários de servidores e ainda existiu margem para investimentos em infraestrutura. 

O primeiro grande evento do Gasbol também poderá se tornar o símbolo da segurança que falta ao governo de Mato Grosso do Sul neste momento de incerteza com o fim do contrato da Petrobras. A usina termelétrica William Arjona foi a primeira estrutura brasileira a ser abastecida com o gás natural importado da Bolívia. A estação geradora, que estava desativada há dois anos, voltará a funcionar em breve . É a segurança que faltava para o governo neste momento de incerteza. Serão nada menos que 1,3 milhão de metros cúbicos diários consumidos somente pela usina. 

Para os próximos anos, aí sim, haverá ainda mais segurança financeira com o ICMS do gás natural. Entrará em operação a fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (UFN3) e ainda poderá se concretizar o plano de instalação de outra termelétrica, em Corumbá.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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