Artigos e Opinião

EDITORIAL

Contra o crime, mais inteligência do estado

A crise no Rio expõe a urgência de unificar sistemas, fortalecer investigações e garantir que as leis sejam aplicadas e cumpridas, uniformemente, em todo o País

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O que se passou ontem no Rio de Janeiro deve servir de alerta a todos os Estados brasileiros. O episódio de violência que tomou as ruas da capital fluminense expõe, mais uma vez, a vulnerabilidade do sistema de segurança pública do País e a urgência de uma política nacional mais coordenada.

A Constituição Federal é clara ao atribuir aos Estados a responsabilidade de organizar, planejar e financiar a maior parte das instituições encarregadas da segurança direta ao cidadão. Mas o que se vê, na prática, é um sistema fragmentado, desigual e muitas vezes despreparado para enfrentar o crime organizado com a eficiência que a sociedade exige.

O Brasil tem avançado pouco naquilo que mais importa: a inteligência policial. A ênfase ainda recai sobre o uso ostensivo da força, em vez do uso estratégico da informação. É preciso investir mais em investigação, em tecnologia e no compartilhamento de dados entre os Estados.

As polícias precisam ampliar sua capacidade de infiltração nas organizações criminosas, entender suas dinâmicas e agir de forma preventiva. A criminalidade organizada já opera de maneira integrada nacionalmente – com ramificações no tráfico, nas milícias e nas fraudes –, enquanto o Estado ainda age de forma desarticulada.

Dentro dos próprios Estados, persiste outro obstáculo: a separação quase burocrática entre as polícias Civil e Militar. Embora sejam corporações com naturezas distintas, o que se espera é cooperação e não competição.

A falta de integração entre as duas forças é um dos grandes gargalos do combate ao crime. Ainda que a unificação total não seja viável ou desejável neste momento, é urgente que ambas compartilhem informações, atuem de maneira coordenada e com protocolos comuns. O crime não distingue fardas – o Estado também não deveria.

Nesse contexto, a proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata da padronização da segurança pública nacional ganha importância. Um dos pilares da PEC é justamente a criação de um sistema unificado de dados e procedimentos.

Se o Brasil é capaz de operar cadastros nacionais como o CPF ou o cartão do SUS, não há justificativa plausível para que existam 27 sistemas distintos de informações criminais, cada um com suas bases e metodologias. A ausência de integração só favorece os criminosos, que sabem se mover entre fronteiras estaduais com facilidade.

Outro ponto essencial é a credibilidade do sistema penal. As penas precisam ser cumpridas com rigor e celeridade. Quando a punição é incerta ou tardia, instala-se a sensação de impunidade – e esta, por sua vez, alimenta o ciclo da violência.

É preciso garantir que o Estado tenha condições de aplicar a lei em sua plenitude, sem exceções nem brechas que sirvam de incentivo à reincidência.

O episódio no Rio de Janeiro é, portanto, um espelho que reflete falhas estruturais de todo o País. Não se trata apenas de uma crise localizada, mas de um sintoma nacional. Investir em inteligência, integração e efetividade penal não é mais uma escolha política: é uma exigência de sobrevivência institucional.

O Brasil precisa, com urgência, de um sistema de segurança que fale a mesma língua – e que finalmente esteja à altura da criminalidade que enfrenta.

Editorial

Estado acelera no etanol: energia verde

Basta circular pelas rodovias de MS para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra

24/12/2025 07h15

Arquivo

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Talvez ainda não tenhamos nos dado conta da dimensão do que está acontecendo. Mas a produção de bioenergia está, literalmente, em pleno vapor no Brasil – e, de forma muito particular, em Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma transformação silenciosa, que não costuma ganhar manchetes diárias, mas que pode ser decisiva para o futuro econômico, ambiental e estratégico do Estado e do País.

Basta circular pelas rodovias sul-mato-grossenses para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra. Eles cruzam o Estado carregados de etanol anidro ou etanol hidratado, destinados para distribuidoras de todas as regiões do Brasil. É o retrato de uma cadeia produtiva em franca expansão, impulsionada por demanda crescente e por decisões estruturais que reposicionam o Brasil no mapa da transição energética.

Essa verdadeira revolução verde está acontecendo, de forma concreta, nos tanques de combustível. O consumo de etanol cresce, a produção acompanha esse ritmo e se diversifica, especialmente com o avanço do etanol de milho, no qual Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente. Soma-se a isso uma política energética relevante: a exigência de 30% de etanol anidro misturado a gasolina comercializada no País. Trata-se de uma regra estratégica, que reduz a emissão de poluentes, diminui a dependência do petróleo e fortalece uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Não é pouca coisa. Em um mundo que busca, ainda de forma desigual, caminhos para a descarbonização, o Brasil dispõe de uma vantagem comparativa rara: a capacidade de produzir energia renovável em larga escala, com tecnologia, competitividade e menor impacto ambiental. Mato Grosso do Sul, nesse contexto, consolida-se como peça-chave. O Estado deixou de ser apenas um grande produtor agropecuário para se firmar como polo industrial de bioenergia, com usinas modernas, investimentos robustos e geração de empregos diretos e indiretos.

O Correio do Estado tem mostrado, ao longo dos últimos anos, a força crescente da indústria de etanol sul-mato-grossense. Não se trata apenas de números de produção ou de novos empreendimentos, mas de um reposicionamento econômico que altera a lógica de desenvolvimento regional. A bioenergia gera renda, movimenta cadeias logísticas, estimula inovação e amplia a arrecadação, ao mesmo tempo em que responde a uma das maiores urgências do nosso tempo: a necessidade de reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas.

É claro que desafios permanecem. Infraestrutura, logística, regulação e planejamento de longo prazo precisam acompanhar esse crescimento para que ele seja sustentável em todos os sentidos. Mas o caminho está posto. O Estado já é, na prática, uma grande usina de energia verde a céu aberto, capaz de produzir combustível limpo, reduzir a pegada de carbono e contribuir para a segurança energética nacional.

Mais do que um ativo econômico, essa vocação representa uma responsabilidade. Mato Grosso do Sul pode – e deve – ser exemplo para o Brasil e para o mundo. A bioenergia não é promessa distante: ela já está nas estradas, nos tanques, nas usinas e no cotidiano da população. Cabe agora reconhecer essa realidade, valorizá-la e transformá-la em política de Estado, para que o desenvolvimento caminhe lado a lado com a sustentabilidade.

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ARTIGOS

O passado desafia a ciência

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies, mas alguns pontos ainda intrigam

23/12/2025 07h45

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Ao longo da história, parece que nosso planeta foi palco de diferentes “camadas” de civilizações. Cada uma deixou marcas, enigmas e realizações que ainda hoje nos desafiam. Na camada atual, buscamos organizar o passado em linhas cronológicas, tentando conectar datas e teorias de evolução. Nem sempre, porém, essas conexões se sustentam de forma linear.

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies. Mas alguns pontos ainda intrigam.

Há saltos inesperados e caminhos surpreendentes, como o caso do polvo – um animal com características biológicas únicas – ou o fator Rh negativo em humanos, cuja origem permanece pouco clara.

Esses exemplos alimentam a imaginação e levantam hipóteses sobre a Terra como possível “laboratório de experiências”.

Outro enigma fascinante é o surgimento e desaparecimento dos dinossauros. Eles habitaram todos os continentes e dominaram o planeta por milhões de anos. O fim abrupto, atribuído ao impacto de um meteoro na região do atual Golfo do México, teria desencadeado um inverno global que durou anos.

Para alguns, esse evento sugere não apenas um acidente cósmico, mas uma intervenção programada na história da vida.

Seguindo a linha do tempo, chegamos às primeiras civilizações humanas. Povos antigos demonstraram capacidades impressionantes: ergueram blocos de pedra de dezenas e até centenas de toneladas, como o monumental bloco de cerca de 570 toneladas na base da muralha em Jerusalém.

Além disso, desenvolveram conhecimentos científicos notáveis. Eratóstenes, físico e matemático grego, calculou a circunferência da Terra com precisão admirável há mais de dois milênios – e pensar que hoje ainda há quem defenda que o planeta seja plano.

Diante desse mosaico de enigmas, que vai dos saltos evolutivos às obras monumentais deixadas por povos antigos, o que realmente se evidencia é nossa inquietação ancestral. Cada hipótese, seja científica ou imaginativa, revela menos sobre o passado em si e mais sobre o desejo humano de construir sentido e reconhecer seu lugar na história do planeta.

É nesse espírito de investigação curiosa que em “Vale do Silêncio – O Enigma do Lago” não trago respostas, mas um convite, recriando, pela ficção, o impulso que sempre nos moveu: olhar para o inexplicável e ousar formular novas perguntas.

Ao final, não importa quão sólida seja uma teoria ou quão fantástica seja outra, o que permanece é a importância de continuar explorando e ampliando as possibilidades do que entendemos como origem.

Ao observar tantos pontos obscuros em nossa trajetória, fica claro que a humanidade ainda está longe de compreender completamente de onde veio. A ciência avança, corrige rumos, descarta teorias e propõe outras, mas deixa brechas que alimentam nosso impulso de investigar.

Cada lacuna é um convite para reexaminar certezas e assumir que parte do passado permanece fora do alcance. Especular não é apenas um exercício de imaginação, mas uma necessidade intelectual. Permite explorar caminhos improváveis, levantar hipóteses e reconhecer que a história humana é maior do que qualquer narrativa linear.

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