Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Acabar com o lixo da cidade"

Editorial desta quinta-feira: "Acabar com o lixo da cidade"

Redação

10/09/2015 - 00h00
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O protesto dos funcionários da Solurb tornou real uma comparação que vinha sendo feita às últimas administrações municipais de Campo Grande, a de que a cidade está um lixo

Reconduzido recentemente ao gabinete de prefeito, Alcides Bernal terá seu primeiro desafio pela frente nesta segunda etapa da gestão. A missão dele será normalizar o serviço de coleta de lixo de Campo Grande, cujas atividades foram paralisadas na noite de terça-feira (8). Os 1.080 trabalhadores da CG Solurb queixaram-se de, até a tarde de ontem, não terem recebido o salário do mês passado. O resultado do impasse: mais de 800 toneladas de lixo espalhadas pelas ruas da Capital.

O protesto dos funcionários tornou real comparação que vinha sendo feita às últimas administrações municipais de Campo Grande, a de que a cidade está um lixo. Os sacos pretos espalhados pela rua são nada menos que o retrato dos últimos governantes que passaram pela prefeitura.

O lixo acumulado nas vias exemplifica a desorganização, o descaso e a falta de cuidado com que os campo-grandenses têm sido tratados por seus últimos prefeitos. A julgar pelo resultado de investigações policiais, a praxe nos últimos anos tem sido o privilégio a empreiteiras e fornecedores de índole duvidosa, em detrimento da valorização do serviço público prestado.

No momento, o prefeito Alcides Bernal deve se preocupar em fazer a cidade funcionar, o que não parece que tem sido realizado. Ao lidar ontem com a paralisação dos trabalhadores da Solurb, Bernal demonstrou mais preocupação em procurar os culpados do problema do que, efetivamente, concentrar-se na solução dele.

A Operação Lama Asfáltica da Polícia Federal já demonstrou de forma ampla e detalhada o envolvimento dos proprietários da prestadora de serviço (uma sociedade entre a LD Construções e a Anfer Construções) em esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, desvio de verba pública e formação de quadrilha. A mesma investigação da PF também revelou suposto esquema de compra de votos para cassar Bernal, no ano passado, com o envolvimento de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à Solurb.

Todo este caso, no entanto, já está sendo amplamente investigado pelas instituições responsáveis, como a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Para o atual prefeito, o que existe, na prática, é um contrato de concessão firmado entre o município de Campo Grande e uma empresa prestadora de serviços, e o cumprimento dele é que deve ser fiscalizado por sua administração. Os crimes verificados nas investigações devem ser apreciados pelo Poder Judiciário.

O que o campo-grandense espera, em  curto prazo, é ver a fachada de sua casa limpa, sem lixo jogado nas ruas, e, no médio prazo, que sejam sanadas eventuais irregularidades do contrato. A polêmica que envolve a coleta de lixo na Capital existe desde que a Solurb venceu a licitação, ainda no mandato de Nelson Trad Filho, no fim de 2012. A prestação de serviço, que começou com um repasse mensal de R$ 4,8 milhões, hoje é de mais de R$ 10 milhões. O cofre da prefeitura não aguenta tal peso. 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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