Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Ressaca política"

Editorial desta quinta-feira: "Ressaca política"

Redação

27/08/2015 - 00h00
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Estamos em campo minado, ao aguardo de como será a gestão que, caso não tenha alteração alguma, terá pouco mais de um ano para tentar “ajeitar a casa” até a próxima eleição

Passada a turbulência dos últimos dias, hoje está prevista a recondução oficial de Alcides Bernal ao cargo de prefeito de Campo Grande. A população ainda se recupera das emoções do dia 25 de agosto, véspera do aniversário da cidade, com o afastamento de Gilmar Olarte e do presidente da Câmara de Vereadores, Mario Cesar, além, claro, do retorno de Bernal ao Executivo. Agora, estamos em campo minado, ao aguardo de como será a gestão que, caso não tenha alteração alguma, terá pouco mais de um ano para tentar “ajeitar a casa” até a próxima eleição municipal.

O prefeito que assume o cargo foi um dos grandes responsáveis pelo caos que a cidade vive atualmente. Na inexperiência e falta de tato, não conseguiu manter diálogo com a Câmara de Vereadores, e os ânimos se acirraram rapidamente. Acusado de irregularidades, foi cassado por 23 votos a 6, em episódio hoje colocado em dúvida e sob investigação na Operação Coffee Break, do Ministério Público Estadual (MPE). Independentemente do esquema de votação, os rumos da gestão de Bernal já eram colocados em dúvida. O prefeito afastado, que teve a chance de consertar os erros do antecessor, contribuiu negativamente para a cidade. Embora também tenha sido atingido pela crise econômica nacional, não conseguiu colocar ordem nas contas e ainda promoveu inexplicável inchaço da máquina, com contratação de 1.044 comissionados. Foi na administração de Olarte que as greves recrudesceram, e os salários começaram a ser pagos em atraso e escalonados, o que não acontecia há mais de duas décadas.

O atual quadro não poderia ser mais desastroso. A queda de repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 22% para 21,4%, representou corte de R$ 100 milhões na receita de 2015. Os gastos com pessoal estão, desde o início do ano, oscilando perigosamente no patamar máximo permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Os médicos continuam em greve, ainda reivindicando reajuste salarial e mudança no número de plantões.

Bernal anunciou que pretende fazer auditoria, mesmo discurso de quando assumiu a prefeitura, em 2013. Porém, desta vez, já ensaiou diálogo com os vereadores, marcando reunião com os parlamentares e com os professores, que encerraram a greve há poucos dias. A estratégia do “novo” prefeito ainda é incógnita; espera-se, desta vez, mais tato e poder de diálogo, para que se permita a retomada do desenvolvimento da cidade, estagnada desde que os embates políticos começaram. Será necessário cautela e avaliação cuidadosa do que se tem a fazer por Campo Grande. 

A prefeitura, hoje, é campo minado para se locomover. Após o afastamento de Olarte, vários comissionados abandonaram o barco, cientes de que o tempo deles, por ora, acabou. Porém, o secretariado ainda é da gestão anterior, e Bernal disse, sucintamente, que não pretende demitir todos, por causa da necessidade de manutenção da máquina. A população aguarda, escaldada, pelos novos capítulos da novela que se tornou o que era para ser a renovação política. Mais sobressaltos e incertezas não são bem-vindos.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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