Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta segunda-feira: "Rigor e realidade"

Editorial desta segunda-feira: "Rigor e realidade"

Redação

21/09/2015 - 00h00
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O desrespeito às leis é notório e está ligado ao fato de que muitos não acreditam que serão penalizados pelas infrações no trânsito

Desde o dia 18, a campanha da Semana Nacional do Trânsito está nas ruas em todo o País. Em Campo Grande, foram organizadas palestras, shows, serviço de revisão básica para motos e outros eventos para chamar atenção do público para o tema deste ano: “Seja você a mudança no trânsito”. Neste fim de semana, em Iguatemi e Ponta Porã, houve duas mortes relacionadas ao uso de álcool e excesso de velocidade, justamente as duas principais causas de óbitos relacionados ao trânsito. São apenas dois casos que demonstram que a falta de conscientização do brasileiro ainda é maior do que qualquer receio sobre as consequências da condução imprudente.

O desrespeito às leis é notório e está ligado ao fato de que muitos não acreditam que serão penalizados pelas infrações no trânsito. Em dezembro de 2012, com a entrada em vigor da nova Lei Seca (1175), houve  pequena mudança na conduta de vários motoristas, que deixavam o carro em casa ou adotavam a carona amiga nas noites em que haveria o consumo de álcool. Isso decorreu mais das penalidades impostas do que da conscientização dos condutores. O motorista flagrado depois de consumir álcool paga multa de R$ 955,00, tem o carro apreendido e prisão. Há casos em que, dependendo do entendimento da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual, o responsável por acidente com morte pode ser denunciado por homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar, já que assumiu o risco de provocar colisão ao ingerir bebida. 

Porém, sem ver rigor nas fiscalizações na rua, o receio esvaiu-se com a mesma rapidez com que a imprudência cresceu. Mesmo em casos de prisão, a morosidade judicial permite que muitos responsáveis  por acidentes com morte respondam em liberdade ou, ainda, acabem com pena branda.

Em Campo Grande, de janeiro até agora, foram 57 mortes em acidentes, a maioria envolvendo jovens com idade de 18 a 25 anos. As colisões acontecem principalmente em avenidas largas, infelizmente, verdadeiras pistas de corrida nos fins de semana. No ano passado, em todo o Estado, foram 12,2 mil acidentes. Na Capital, não se veem regularmente blitze perto dos bares na região central da cidade ou mesmo nas conveniências espalhadas pelos bairros. É raro um fim de semana em que não haja notícias sobre acidentes decorrentes da alta velocidade e/ou excesso do uso de álcool.

Apelar somente para a consciência dos condutores é um começo, porém, até agora, não mostrou a esperada eficácia. Quando se atinge o bolso  ou se prevê punição maior é que a maioria muda os hábitos. Foi assim com a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança, instituído a partir de 1997. A falta dele é infração grave e cinco pontos na CNH. Passados 18 anos, há novas gerações que incorporaram a prática. Ainda falta muito a avançar em relação ao comportamento geral do motorista brasileiro. Embora a legislação tenha se tornado mais rigorosa, a fiscalização ainda é deficiente e isso traduz-se nos números de colisões e mortes ainda registrados.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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