Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste domingo: "Mercado estagnado"

Editorial deste domingo: "Mercado estagnado"

Redação

16/08/2015 - 00h00
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O esfriamento do mercado imobiliário é reflexo das consequências da política econômica, que ainda não teve alteração substancial, mesmo após os ajustes fiscais.

A crise na construção civil é uma realidade há meses no País. Projetos foram suspensos, trabalhadores demitidos e o que está à venda, permanece, sem compradores à vista. Com tantos imóveis à disposição, não é de se estranhar que a retração também não tardaria a chegar ao mercado de locação. Reportagem publicada na edição de hoje do Correio do Estado mostra que há estoque de imóveis no mercado em Campo Grande e índice de inadimplência que chega a 10%,  segundo o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul (Sindimóveis-MS), James Antônio Gomes. Embora seja percentual aparentemente baixo, demonstra que muitos estão deixando de pagar contas consideradas prioritárias por falta de condições.

Em Campo Grande, o preço dos aluguéis teve reajuste de 7,5% nos últimos doze meses, índice que fica abaixo da inflação do período, que é de 9,39%. Mesmo assim, o mercado na capital está percebendo redução no fechamento dos contratos e, para evitar que o cenário fique pior, o valor de locação está sendo reduzido, na tentativa de atrair novos inquilinos. Profissionais do setor também citam outra mudança que comprometeu, e muito, as negociações: no segundo semestre do ano, era esperado aumento nas locações, por causa de público específico: estudantes universitários de outras cidades. Cortes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) o fim dos vestibulares de inverno (com cursos no meio do ano), o número estudantes de fora caiu. Os que vem para Campo Grande optam em dividir o imóvel com mais três ou quatro pessoas, para economizar.

A saída é tentar administrar a situação, já que profissionais do ramo imobiliário admitem que não sabem quando haverá mudança no cenário. O esfriamento do mercado é reflexo das consequências da política econômica, que ainda não teve alteração substancial, mesmo após os ajustes fiscais do governo federal. O quadro pessimista abala a confiança dos consumidores, que tendem a não fazer novas dívidas e, pior, aumenta a inadimplência em vários setores. Em outra reportagem do Correio do Estado, divulgada há algumas semanas, foi mostrada a desocupação de imóveis na região central de Campo Grande. Comerciantes não conseguiram pagar pelo valor do aluguel e, com outras dívidas, encerraram as atividades. Para os que conseguiram ainda manter a atividade, a estratégia adotada foi transferir o negócio para bairros, com locação mais barata, além do corte de funcionários e outros gastos.  No caso de compra e venda, as  empresas suspendem lançamento de novos projetos, até que o estoque seja comercializado, o que, a médio prazo, não  deve acontecer.  O governo federal estima que os efeitos do  ajuste comecem apenas em 2016, mas está difícil acompanhar essa estimativa positiva da forma que a economia reage.

No quadro atual, especialistas do setor apontam, uma vantagem, pelo menos, para quem está prestes a encerrar o contrato: é uma boa hora para tentar renegociar valores, desde que tenha histórico favorável de bom pagador e de ter responsabilidade com imóvel. Para o locatário, é alternativa para não ver o inquilino sair e ficar com imóvel desocupado, sem prazo para ser alugado. 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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