Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste domingo: "Poupança cada vez menor"

Editorial deste domingo: "Poupança cada vez menor"

Redação

13/09/2015 - 00h00
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Mais uma consequência da crise econômica que, além de prejudicar o cotidiano da população, também afeta os planos dela.

Como se não bastasse a inflação, que reduz o poder de compra do consumidor, o cidadão brasileiro também é atacado com a perda do rendimento da aplicação mais tradicional do país: a caderneta de poupança. Mais uma consequência da crise econômica que, além de prejudicar o cotidiano da população, também afeta os planos de quem trabalha.

Conforme reportagem publicada na edição de ontem do Correio do Estado, só neste ano de 2015 houve um decréscimo de R$ 17,5 bilhões nas aplicações na caderneta de poupança. As explicações para este resultado são muitas, e vão desde as dificuldades financeiras dos cidadãos, que aumenta a frequência dos saques, até o desinteresse pelo investimento, cujo rendimento é inferior ao da inflação.

Por causa da desvalorização - não somente na conotação financeira - da poupança, o brasileiro deixa cada vez mais de lado a modalidade. De um investimento, a caderneta tem se tornado na prática, uma espécie de conta corrente remunerada. A explicação para esta característica está na frequência dos depósitos, que ocorrem normalmente no início do mês, e dos saques, acontecem em maior número a partir da segunda quinzena.

A regra que o Banco Central do Brasil estabeleceu para a caderneta de poupança prejudica muito o investimento, cujo rendimento é de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (TR): 6,17% ao ano. O porcentual está muito abaixo da inflação acumulada nos últimos 12 meses até agosto último, 9,56%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O último mês de agosto, diga-se de passagem, foi o pior mês para a caderneta de poupança dos últimos 20 anos. Os depósitos foram de R$ 1,9 bilhão, quando a média dos últimos anos foi de R$ 4 bilhões/mês.

A redução da carteira da caderneta de poupança no Brasil (todo o valor depositado em todos os bancos do País) contribui, dentro de um círculo vicioso, a prejudicar ainda mais a economia brasileira e deixar, ainda mais distante, sua recuperação da crise. Isto porque ela financia setores estratégicos, como o da construção civil, uma vez que 65% dos depósitos da caderneta de poupança são destinados à financiamentos imobiliários.

Outro fator de preocupação gerado pelo encolhimento da caderneta de poupança é a vulnerabilidade da população menos esclarecida ao sistema financeiro. O grupo dos mais desfavorecidos, o que mais sofre com a crise, fica mais exposto a ela quando o investimento mais comum desta camada da população, é o mais prejudicado pela conjuntura econômica: com rendimento abaixo da inflação.

Mais um problema para o governo federal é que a recuperação da caderneta de poupança deve demorar, sobretudo porque o governo federal, no momento atual, de queda no grau de investimento e perda da confiança dos investidores internacionais, não tem força política para impor perdas aos bancos.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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