Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste sábado: "A negociação do lixo"

Editorial deste sábado: "A negociação do lixo"

Redação

19/09/2015 - 00h00
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Mesmo com retorno dos trabalhos, a pendência ainda não acabou, pois ainda existe a dívida da prefeitura com a concessionária e, com isso, o fantasma da paralisação da coleta de lixo 

Desde o dia 8 deste mês, a população em Campo Grande começou a conviver com a incômoda situação de ver o lixo espalhado pelas ruas da cidade. Infelizmente, este é resultado visível a todos do que a ingerência da administração pública e a inoperância judicial acarretam negativamente e, ainda, prolongaram a paralisação da coleta na Capital.

Sem receber salários, funcionários da CG Solurb - Soluções Ambientais SPE-Ltda, concessionária de limpeza urbana e coleta iniciaram paralisação na semana passada. A empresa rebate alegando que não recebeu pelos serviços prestados nos meses de julho, julho e agosto, totalizando valor que já supera os R$ 23 milhões. O prefeito Alcides Bernal chegou a dizer que os valores já tinham sido pagos, mas, eis que resolve depositar, em juízo, valor de R$ 1,578 milhão, destinados ao pagamento dos 1,1 mil funcionários. O gesto demonstra que existe uma dívida, o que até agora não tinha sido admitido pela administração pública.

O problema é que este valor cobre apenas o salário dos funcionários. Ontem, na reunião de conciliação entre prefeitura, funcionários e a CG Solurb, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), representantes da concessionária comprometeram-se que a coleta seria retormada à noite, mas não atestaram a continuidade pois não teriam combustível para a frota de caminhões  e nem a quantia necessária para pagar o leasing de 35 dos 50 veículos. A folha de pagamento é só parte de custeio que engloba gastos que não podem ser ignorados. Sem entrar no questionamento sobre o fato da empresa ser alvo de investigação e como sagrou-se vencedora na licitação, a justificativa de falta de recursos para manutenção dos serviços deve ser levada em conta pela prefeitura.

Também por isso, a decisão judicial que havia imposto retorno imediato, sob pena de multa diária de R$ 50 mil, é risível. Não se vê praticidade em decisão que certamente a concessionária não teria como cumprir, já que o serviço essencial a que foi contratada deixou de ser feito justamente por inexistência de recursos. Não é o primeiro exemplo de decisão da Justiça que foi ignorada por grevistas; este ano tivemos o caso dos médicos nos postos de saúde da Capital, em que a multa imposta diariamente não impediu a manutenção da greve.

Mesmo com retorno dos trabalhos, a pendência ainda não acabou, pois ainda existe a dívida da prefeitura com a concessionária e, com isso, o fantasma da paralisação da coleta de lixo por falta de recursos da concessionária. A forma como a negociação está sendo feita pela prefeitura é equivocada. Recorrer mensalmente ao depósito judicial é manter a negociação em patamar de rigidez e falta de diálogo permanente, já que funciona somente por meio da intervenção da Justiça. Para a população, a lembrança de montanhas de sacos de lixo pelas ruas do centro e dos bairros da cidade será cenário difícil de esquecer e que ainda vai assombrar pelos próximos meses.

 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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