Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste sábado: "Revirando o lixo"

Editorial deste sábado: "Revirando o lixo"

Redação

12/09/2015 - 00h00
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Saber quais os critérios do processo de coleta de lixo da Capital é essencial para entender a atual paralisação dos serviços da Solurb

A paralisação do serviço de coleta de lixo e limpeza urbana de Campo Grande tem tirado muita sujeita que estava escondida embaixo do tapete. E também tem levantado muitas dúvidas sobre a quantidade de lixo que de fato é retirada das ruas da Capital todos os dias.

A concessionária CG Solurb, que reivindica da prefeitura o pagamento de uma dívida R$ 23 milhões, alega que recolhe 800 toneladas de resíduos por dia na cidade. A questão é que, passados três dias da suspensão da coleta, há muita quantidade de lixo na cidade, mas aparentemente, não chega à 2,4 mil toneladas que estariam jogadas nas calçadas com a paralisação do serviço.

A quantidade informada pela Solurb, de 800 toneladas diárias, é um dos parâmetros para o repasse mensal à concessionária ultrapassar os R$ 10 milhões em alguns meses. É a própria empresa quem faz o relatório da quantidade coletada mensalmente e o encaminha à Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação (Seinthra), solicitando como contraprestação o repasse em dinheiro.

As dúvidas estão lançadas sobre o critério de pesagem dos caminhões. A concessionária informa que os veículos com lixo são submetidos a uma pesagem na entrada do aterro sanitário, e que a balança é fiscalizada por um servidor público da Seinthra. Os que lançam suspeitas sobre a lisura no processo de pesagem, questionam o aumento de 23% na quantidade de lixo produzida nos últimos dois anos, que foi de 650 por dia para 800.

Diga-se de passagem, saber quais os critérios do processo de coleta de lixo da Capital é essencial para entender a atual paralisação dos serviços da Solurb. A prefeitura revelou que o último pagamento à empresa foi efetuado em 24 de agosto último e que só neste ano já repassou R$ 56 milhões à ela, e por isso tem insistido em uma “conferência minunciosa dos relatórios” dos resíduos recolhidos diariamente.

Enquanto a atual administração municipal e a concessionária do serviço de coleta de lixo e limpeza urbano não chegam a um acordo, quem mais sofre são os 853 mil moradores de Campo Grande, que têm de conviver diariamente com toneladas de lixo espalhadas nas calçadas e nos quintais.

A resolução do impasse pode demorar ainda mais, pois a concessão que teve início em 2012 é contestada pelo Ministério Público Estadual e também por cidadãos na Justiça e não há expectativa de decisões para os próximos dias. Para piorar ainda mais, o município enfrenta dificuldades financeiras, com queda na arrecadação e aumento das despesas e o repasse à Solurb, que começou em menos de R$ 4 milhões por mês e agora supera os R$ 10 milhões, compromete outras áreas da administração como, por exemplo, o pagamento de salários de servidores.

É necessário, neste momento, que os representantes da Solurb e do município tenham muita prudência ao negociar não somente o destino do lixo produzido em Campo Grande, mas a manutenção da saúde pública e da saúde financeira da cidade. 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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