A tragédia que atingiu o Paraná no fim de semana, quando um tornado devastou praticamente uma cidade inteira, deixa lições que precisam ser encaradas com seriedade pelos gestores públicos de todo o País. Não se trata de um fenômeno isolado ou imprevisível ao ponto de não merecer planejamento.
Pelo contrário: os eventos climáticos extremos deixaram de ser exceção e se tornaram parte da rotina das últimas décadas. Tempestades severas, ondas de calor, enchentes e vendavais passaram a compor um cenário permanente de risco, exigindo de estados e municípios ações preventivas mais sólidas, contínuas e estruturadas.
A primeira lição é clara: falta muito para que o Brasil, e em especial regiões interioranas, tenha estruturas mínimas de resistência para enfrentar tempestades severas. Ainda há um grande número de casas, prédios públicos e edificações comerciais que não têm padrões construtivos adequados para suportar ventos intensos.
Essa fragilidade estrutural potencializa o impacto de fenômenos como o tornado que atingiu o Paraná, transformando episódios graves em tragédias irreversíveis. É um trabalho de longo prazo, sem dúvida, mas precisa ser iniciado e mantido de forma planejada.
Reforço de telhados, regulamentação mais rígida para novas construções e orientação técnica às famílias de baixa renda são passos urgentes.
A segunda lição diz respeito ao monitoramento climático. Estados e prefeituras precisam investir mais em tecnologia, ampliar suas redes de estações meteorológicas e qualificar equipes responsáveis pelos alertas e pela análise de dados.
O Brasil ainda tem enormes vazios de informação, especialmente em municípios pequenos, que dependem exclusivamente de estações distantes ou de dados defasados. O ideal é que cada cidade tenha ao menos uma estação climatológica própria, e aquelas com perímetros urbanos maiores, mais de uma.
Informação confiável e em tempo real é a base de qualquer política eficaz de prevenção.
O terceiro ponto é justamente transformar dados em ação. Não basta monitorar, é preciso aprimorar os protocolos de alerta e resposta.
Estados e prefeituras devem investir em sistemas mais ágeis de envio de mensagens, em treinamento de equipes da Defesa Civil e em campanhas permanentes de conscientização, para que a população saiba como agir quando um alerta for emitido.
É um ciclo que envolve tecnologia, capacitação e comunicação – três pilares que ainda não estão plenamente consolidados no Brasil.
Os eventos climáticos extremos vieram para ficar, e isso já não é novidade. A década atual tem sido marcada por sucessivas ocorrências semelhantes, de Norte a Sul do País. As mudanças climáticas intensificam tempestades e tornam mais frequentes situações que antes eram consideradas exceções.
Ignorar esse contexto é abrir espaço para que novas tragédias ocorram, principalmente em cidades médias e pequenas, onde a vulnerabilidade é maior.
Para Mato Grosso do Sul, o alerta é ainda mais urgente. O Estado está na rota de tornados e de tempestades severas, especialmente nos meses de transição entre estações. Embora fenômenos assim ainda sejam relativamente raros, o risco existe e tende a aumentar.
Todo cuidado é pouco – e todo planejamento é necessário. O que ocorreu no Paraná poderia ter acontecido em qualquer outra região do sul de MS.
Por isso, a tragédia paranaense deve servir como um marco. Se quisermos evitar que cenas semelhantes se repitam, será preciso investir de forma permanente em estrutura, tecnologia e prevenção.


