Artigos e Opinião

Artigo

Francisco Forbes: "A crise não está no sistema"

Francisco é CEO e Fundador da Seed, empresa de inteligência para o varejo

DA REDAÇÃO

11/01/2016 - 00h00
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Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, o varejo  registrou a 8ª queda consecutiva em vendas, o que resulta em cerca de  6,8% de perdas, a maior sequência de taxas negativas desde 2000. Esse é um dado assustador, que tem preocupado desde os pequenos comerciantes até grande grupos de varejo ultimamente  no  Brasil. 

No entanto, o mercado digital é mais otimista e dá impressão de ser menos impactado pela crise que assola nosso país em diversos setores. Será que isso é uma impressão ou uma realidade diferente para o meio digital? De acordo com a Pesquisa Profissional de E-commerce, 49% dos negócios registraram queda nas vendas em 2015 e, segundo a IDC, alguns meses chegaram a apresentar resultado 16% inferior ao mesmo período comparativamente ao ano anterior.

A crise afeta todos os canais, pois a origem dela é no consumidor, que tem seu poder de compra comprometido, independente do canal. Difícil é ainda pensar nesses dois mundos - online e off-line - como separados e quase concorrentes. As lojas físicas e o e-commerce deveriam ser complementares e dificilmente sobreviverão separadamente; tanto no serviço e atendimento ao cliente quando na gestão interna, estratégia e mensuração. Há raros exemplos remanescentes estruturas 100% online ou 100% físicas – os modelos híbridos já são a maioria.

Mesmo com a explosão de canais; sites, apps, lojas, flagships, venda direta, etc - a grande maioria ainda não adotou um pensamento Omnichannel e mantém uma separação entre as equipes que gerenciam o e-commerce e as lojas em shoppings e ruas. Pode-se dizer que os sistemas já são mais integrados do que as equipes. Se não existe um alinhamento estratégico e um pensamento de articulação interno, a eficiência será comprometida, mesmo com os melhores sistemas e tecnologias mais avançadas.

O conceito de  Omnichannel, por enquanto, é quase só aplicado onde o varejista ganha dinheiro, mas ainda não está presente onde ele gasta. Explico: as preocupações mais frequentes são operacionais e comerciais, por exemplo: “Como meu cliente pode comprar online e trocar na loja? Posso ter um terminal do meu e-commerce na minha loja?” Enquanto o alinhamento estratégico de comunicação, precificação, produto, não são trazidos para discussão com a mesma frequência.

O consumidor já está acostumado a transitar entre os diferentes canais; escolher online e comprar na loja e vice-versa. Mas isso não deveria ser imponderável – o varejista pode ter controle sobre isso e dosar a interpenetração dos canais.

Se a crise afeta seus canais de maneira diferente significa que eles não estão integrados de fato. O consumidor é o mesmo e a origem da retração éno potencial de consumo, independente do canal. Sistemas são automáticos, mas dependem de gestão e estratégia humana e as organizações devem permitir e promover esse fator, se desvencilhando de burocracias que inibem inovação e tomada de decisão rápida. Nesse sentido, a crise exige que o varejista se arrisque mais e se reinvente com menos recursos.

Eficiência é a palavra-chave do momento e pode ser entendida como enxugamento de equipes e revisão de gastos. É um momento em que serão discutidas integrações de áreas, acúmulos de função; que podem ser vistas por uma ótica positiva por proporcionar uma gestão horizontal, mais abrangente e menos burocrática. O momento anterior à crise, de maior abundância de recursos, gerou uma onda de fragmentação, muitas “áreas e subáreas” que agora começam a desaparecer junto com profissionais menos qualificados, menos eficientes.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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