“Ostentar” significa mostrar-se, exibir-se com aparato.
É comum depararmos com cidadãos que mudaram de classe social (seja o dinheiro de origem lícita ou ilícita) ostentarem alto padrão de vida, exibirem riqueza mediante aquisição de mansões, carros luxuosos, uso de joias raras e caras, roupas de “grife”, etc.
Segundo a coluna “Giba Um” (Correio do Estado, edição de 21.10.2015), “a polêmica Val Marchiori deu uma entrevista e garantiu que está gastando menos. ‘Fui para a Itália e gastei muito menos. Agora, compro três bolsas Chanel em vez de seis. Se antes comprava três malas Louis Vuitton, agora compro uma’”.
Ainda que esse tipo de comportamento agrida o cidadão honesto e trabalhador deste país, verdade é que, até prova em contrário, o dinheiro pertence ao exibidor (segundo publicação do jornal Folha de São Paulo, contrariando normas internas, o Banco do Brasil emprestou R$ 2,7 milhões a essa cidadã, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDS).
Agora, preocupante é a ostentação no Poder Público, onde o exibicionismo e o abuso chegam a ser ofensivos (senão ímprobos), na medida em que o dinheiro é público (pertence ao Estado).
Recentemente, o assunto ganhou os telejornais com a ex-prefeita da cidade de Bom Jardim, Lidiane Leite da Silva (conhecida como “prefeita ostentação”), presa preventivamente (depois liberada pela Justiça Federal) pela prática, em tese, de atos de improbidade administrativa consistentes em desviar vultosos recursos destinados à educação no município do interior do Maranhão.
Consta que, após a eleição, a Prefeita passou a ostentar uma vida de luxo na internet, incompatível com o salário que recebia do Município, conduta esta que chamou a atenção do Ministério Público Federal, que passou a apurar fraudes em licitações.
Em todos os rincões brasileiros (principalmente no Distrito Federal, onde o cortejo de carrões pretos são vistos atravessando a porta do Palácio da Alvorada), a ostentação de alguns administradores públicos, “chefes de poder”, tribunais, etc. é fato notório. A utilização de carros oficiais luxuosos, com motorista para o deslocamento do “chefe” – alguns até utilizam, desnecessariamente, outros veículos com motorista e seguranças pagos com recursos públicos para acompanhá-los – com alto custo para o contribuinte, exterioriza a demonstração de poder.
Segundo Roberto Pompeu de Toledo, essas autoridades pensam que estão passando a seguinte mensagem: “Vejam como somos importantes”, quando, na realidade, passam a seguinte: “Vejam como somos subdesenvolvidos” (Revista Veja, edição 30.9.2015).
Na administração pública federal direta, autárquica e fundacional existe até um ato normativo – Decreto nº 6.403/2008 – dispondo sobre a classificação dos veículos utilizados pelo poder público (veículos de representação, veículos especiais, veículos de transporte institucional, veículos de serviços comuns e veículos de serviços especiais), um luxo só (com o dinheiro do povo).
Lamentavelmente, a cultura brasileira da ostentação de poder impede as instituições de frearem os abusos no uso de veículos oficiais.
Em um país em que muitas autoridades se comprazem em ostentar um motorista exclusivo para abrir-lhes a porta do carro, e onde políticos usam o transporte coletivo apenas nas filmagens para propaganda eleitoral, a existência de uma frota de luxo para servi-las, por si só, não quer dizer muita coisa.
Pessoas públicas que usam e abusam do uso indiscriminado de veículos oficiais (notadamente aquelas que ainda utilizam outro veículo para servir como “batedor”, contando, sem qualquer motivação, com serviços de segurança), ostentando publicamente “poder”, podem estar acometidas de “transtorno de personalidade histriônica”, caracterizado por um padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para si.
Segundo estudo realizado pela Associação Americana de Psiquiatria, pessoas com esse transtorno apresentam, dentre outros, sintomas de “comportamento exibicionista”, “busca constante por apoio ou aprovação”, “orgulho da própria personalidade”, “necessidade de ser o centro das atenções”, “baixa tolerância à frustração”, “angústia provocada pela alternância de crença nas próprias mentiras insustentáveis (mitomania)”, “rápida variação de estados emocionais” e “difamação de pessoas que competem com sua atenção”.
A ostentação pode ser a materialização do transtorno de personalidade histriônica.


