Artigos e Opinião

ARTIGO

Gilberto Verardo: "O paradoxo da criação"

Psicólogo

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Se a estrutura de uma dada sociedade cria obstáculos ao amadurecimento das personalidades de seus cidadãos poderá ser chamada de neurótica, pois cerca o desenvolvimento pessoal. Se uma pessoa é capaz de desempenhar o papel social que lhe cabe, mesmo se diluindo individualmente como parte de uma imensa máquina econômica, exercendo papéis ocupacionais cada vez mais especializados, ou seja, tarefas cada vez mais localizadas e restritas como instrumento para o crescimento dos potenciais da pessoa, com uma evolução crescente do poder do capital monopolista, crises econômicas intermináveis provocadas pelo capital especulativo, desemprego e conflitos variados, é possível levantar uma questão crucial. O modelo social continua adequado ao processo civilizatório saudável?

Não se pode negar que o capitalismo não só libertou o homem dos grilhões tradicionais como igualmente contribuiu para o incremento da liberdade positiva, para a ampliação de ego ativo, critico e responsável. No entanto, se bem que esse fosse um dos efeitos do capitalismo sobre a marcha da liberdade em expansão, ao mesmo tempo tornou o indivíduo cada vez mais isolado, solitário e imbuído de uma sensação de insignificância e impotência. No capitalismo, a atividade econômica, o sucesso, as vantagens materiais passam a ser fins em si mesmos. O destino do homem torna-se contribuir para o crescimento do sistema econômico, ajuntar capital, não tendo em vista sua própria felicidade, mas como uma finalidade última. Converteu-se em um dente da engrenagem da vasta máquina econômica. O homem construiu seu mundo: ergue fábricas e casas, produz automóveis e roupas, cultiva grãos e frutos. Porém, alienou-se do produto de suas próprias mãos, não é mais, de fato, o senhor do mundo que construiu.  Tornou-se um instrumento para fins da própria máquina concebida por suas mãos. A concentração de capital (não de riqueza) em certos setores do nosso sistema econômico restringiu as possibilidades de êxito da iniciativa, coragem e inteligência individuais. Ter um emprego, qualquer que seja, parece a muitos ser tudo o que podem desejar da vida e devem ser gratos por isso. O homem foi engolido por sua criação. Mas ele precisa de um significado, de uma identidade pessoal e de um pouco de autoestima. Sua sensação de pertencimento foi absorvida pelo sistema. As principais rotas sociais de fuga do isolamento, solidão e desamparo é submeter-se a uma liderança religiosa, política ou econômica, além do conformismo compulsivo que prevalece em nossa própria democracia pelas dificuldades de efetivamente participar da vida social. Em um esforço para escapar à solidão e à impotência cidadã, estamos dispostos a nos descartar do nosso EU, seja se submetendo a novas formas de autoridade, seja nos conformando compulsivamente com padrões aceitos e ditados pelo sistema. Estamos prontos a aceitar um “auxiliar mágico” a que se refere Erich Fromm em seu livro “O Medo à Liberdade”, diante da incapacidade de expressar plenamente as próprias potencialidades. Tudo é ditado pelo mercado, até seu estilo de vida.

Temos realmente liberdade de escolher nosso próprio modo de vida? A internet e seus graciosos brinquedos amenizam a solidão e o desamparo pessoal, que termina por ser um lugar interior que a pessoa encontra para dar um tempo e ver se encontra seu EU, sua autenticidade, sua originalidade de volta, pois até isso lhe foi tirado pela máquina. Reproduzimos tudo. Nossas ideias originais foram sufocadas em nome do bom funcionamento do sistema que reina absoluto sobre todos os destinos. Sinais de profundas mudanças incluem a insatisfação generalizada nas instituições porta-vozes do sistema. As coisas velhas ainda não morreram e coisas novas começam a surgir, algumas com alma retrô. Mas já é um movimento para sair do conformismo sufocante. As mudanças climáticas podem funcionar como uma catarse global em direção às mudanças que todos querem. Não pode o caos climático ser a vacina que despertará consciências?

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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