Artigos e Opinião

OPINIÃO

Lara Pastorello Panachuk: "A ingenuidade de Zadig"

Bacharel em Direito pela UFPR

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Caro leitor, passaram-se alguns meses desde o último artigo que escrevi para este querido jornal. Com as devidas escusas, menciono que o corrente ano apresentou alguns contratempos. Enfim, eis-me aqui para apresentar a “ingenuidade” de Zadig.    

Talvez o leitor não se recorde, mas a minha estreia aqui no jornal foi com o artigo “A construção social do direito: entre avanços e continuísmos”, publicado em 19/1/2015. Naquela ocasião, comentei alguns trechos da obra “Zadig” ou “O Destino” (1747), de Voltaire. De lá para cá, várias primaveras se passaram, mas a obra continua a propiciar reflexões.  

Esclareço que Voltaire, pensador do século 18, escreveu narrativas analisando diversos assuntos, tais como filosofia, política, justiça e religião de sua época, porém, para escapar de censuras, escolheu a Antiguidade Oriental como cenário de algumas obras.

Zadig, personagem-título, é um jovem educado, sábio e íntegro. Tais características originaram diversosinimigos e o levaram a abandonar a sua terra natal, a Babilônia, mesmo sendo um importante ministro real.   

Assim, Zadig percorre vários locais da Ásia, resolvendo, de modo justo, disputas de pessoas comuns e questões régias. Em várias passagens do livro, os atos do protagonista para solucionar os litígios não são compreendidos pelos demais, que o julgam ingênuo, até que os resultados aparecem, surpreendendo os observadores. 

Destacarei aqui a passagem em que o rei Nabussan, de Serendib, pede a ajuda de Zadig para uma importante questão: a escolha do tesoureiro real. O monarca resolveu aconselhar-se, pois, apesar de trocar os administradores, subtrações de bens do erário continuavam ocorrendo.    

Zadig, então, propõe uma estranha prova: que os candidatos dancem diante do rei. Porém, antes que cheguem ao salão, devem atravessar, solitariamente, uma galeria escura, contendo diversos tesouros. Assim, dos 64 inscritos no certame, apenas um não ocultou em suas vestes nenhuma joia, sendo nomeado tesoureiro, enquanto os demais foram condenados. Voltaire ironiza que, em alguns países, os 63 “se justificariam plenamente e fariam cair em descrédito aquele dançarino tão leviano”.

Ocorre que, posteriormente, o rei Nabussan também foi envenenado por intrigas, pois, como ironiza Voltaire, “os serviços prestados ficam muitas vezes na antessala e as suspeitas entram no gabinete, segundo a sentença de Zoroastro: todos os dias, novas acusações; a primeira é repelida, a segunda roça a pele, a terceira fere, a quarta mata”. Assim, Zadig prossegue sua viagem pela Ásia e, após superar todos os empecilhos, retorna à Babilônia, sendo coroado rei.   

A narrativa de Zadig tem um desfecho feliz, sendo mencionada aqui com o escopo de trazer uma mensagem ao caro leitor: a importância da manutenção e do aprimoramento do caráter, mesmo diante dos serpentários.

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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