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CENAS

Leia a crônica de Lucilene Machado: "Amores impossíveis"

Leia a crônica de Lucilene Machado: "Amores impossíveis"

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É inteligente reconhecer que a vida está pontuada por amores impossíveis, no entanto, a mais avançada inteligência humana pode se enamorar deles. Uma conversa, um olhar, um sorriso e todo o azul do céu caem sobre a sua alma. Algumas tentativas e você desconfia que não haverá maneira de acasalar sua vida com a daquela pessoa, contudo, não é raro um vento poético embriagar nossos ouvidos com promessas clichês de que não há barreiras para o amor, bíblicas de que a fé remove montanhas, ou literárias de que seremos “felizes para sempre”, como nos contos de fada. 

Convém reconhecer que o amor impossível é um tanto ridículo, cheio de coincidências, de déjà vus e sinais que justificam o nosso especial apreço pela pessoa elegida. E, não sei se por carência ou outro disparate, lutamos com afinco para manter vivas as fantasias na qual estamos arraigados. De fato, não é fácil aceitar que há amores que vão nos tirar o fôlego, que vão dar sentido à nossa história e que nos serão definitivamente arrancados. Um tremor sísmico abalará nossa estrutura e a consequência será o nosso emocional sobre raízes secas. Passamos a viver na gangorra do sobe e desce, do posso-não-posso, do quero e não entendo, do quero-e-não-aceito... até subirmos numa montanha-russa de emoções desenfreadas que nos deixará aturdidos. 

O amor impossível é um dropes envenenado. E muitas vezes não há justificativa plausível para sua ruína. Atribuem-se às circunstâncias de tempo e lugar; à falta da química incapaz de fluir nas duas direções e ativar a desejada reciprocidade; ao medo; à palavra não dita, ou dita e mal interpretada, ou até aos astros que não se alinharam para nos beneficiar. Certo é que o diagnóstico de amor impossível é mesmo difícil de suportar. É como uma doença incurável que passa por vários estágios até ser decretada sua morte. E a prescrição é deixar de beber a esperança desse amor, deixar de fumá-la, de alimentá-la, de pensá-la... ou seja, abstinência total. 

Esperança minguada, a primeira etapa se resume a lágrimas. Chora-se vendo filmes, ouvindo música, no teatro e até no circo somos capazes de nos emocionar ao ver o elefante solitário fingindo-se de estátua sobre um banquinho minúsculo, encenando uma realidade que não é a dele. Depois, vem o silêncio. Somos transformados também em estátuas silenciosas transpirando dores pelos poros. Nessa fase, nos convertemos em covardes suicidas. Queremos morrer, evaporar, qualquer coisa que encurte o período de sofrimento, nos embebedamos no álcool da tristeza, já que, teoricamente, não conseguimos matar o amor enraizado em nós. 

Passamos para a fase da morte inventada, espalhamos a notícia pelo continente, quiçá outras instâncias, tentando salvar nosso orgulho nessa fogueira da vaidade que é o mundo. Por fora, distribuímos sorrisos, mas por dentro continuará a arder a fogueira do amor queimado por tempo não definido.

Mas, retomando o lugar comum, tudo um dia passa. O tempo dobra-se sobre si mesmo e encobre a nossa dor. Tomamos distanciamento de nossas ações e tudo nos parecerá irreal. Constatamos que como protagonistas fomos péssimos atores de um drama arcaico no pior dos sentidos. Porém, não foi em vão. Devemos supor que existam algumas lições a serem tiradas da cura do amor impossível. Não sei se há alguma verdade básica a ser apreendida que possa impedir a recorrência desse amargo desapontamento e oferecer alguma proteção. Por enquanto, nos anais dos sentimentos irrealizáveis, só encontro perguntas. 

 *Professora de Literatura da UFMS

EDITORIAL

Crises de fim de ano expõem falha na gestão

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa

19/12/2025 07h15

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A virada para 2026 entra para a história recente de Campo Grande como uma das mais conturbadas dos últimos anos. Talvez desde meados da década passada não se via uma sucessão tão clara de crises financeiras e falhas na engrenagem dos serviços públicos locais justamente no momento em que a cidade deveria buscar estabilidade para atravessar o novo ano.

O problema não é pontual tampouco isolado: ele se repete em áreas essenciais e expõe fragilidades estruturais que vêm sendo empurradas com a barriga.

A greve do transporte coletivo, encerrada apenas no início da noite de ontem, é um retrato fiel desse cenário. Durante quatro dias, a população ficou refém de um sistema que parou porque o Consórcio Guaicurus não tinha recursos para pagar salários.

A solução não veio de uma gestão eficiente ou de um planejamento responsável, mas de um socorro emergencial do governo do Estado, que antecipou mais de R$ 3 milhões referentes a uma das parcelas do subsídio ao passe do estudante. Ou seja, o serviço só voltou a funcionar quando o dinheiro público entrou para tapar mais um buraco.

Situação semelhante se repete na Saúde. A Santa Casa, há anos em crise, agora está sob determinação judicial para apresentar um plano capaz de enfrentar um deficit que parece não ter fim. No transporte coletivo, a Justiça foi além e determinou uma intervenção no consórcio responsável pelo serviço.

Quando decisões judiciais passam a ditar os rumos da gestão, fica evidente que algo falhou muito antes, seja na formulação dos contratos, seja na fiscalização ou na condução cotidiana desses serviços.

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa e, principalmente, de quem deveria fiscalizar contratos milionários. Não se trata apenas de escassez de recursos.

Trata-se de como esses recursos são utilizados, de modelos que se mostram esgotados e de contratos que não resistem ao primeiro choque mais sério.

O mais preocupante é que, mesmo após a injeção de milhões de reais do poder público na Santa Casa e no Consórcio Guaicurus, o dinheiro continua insuficiente. Isso deixa claro que o problema é estrutural.

As verbas estão, de fato, mais apertadas neste ano, mas a crise não nasceu agora. Ela é fruto de anos de escolhas erradas, de ausência de transparência e de tolerância com resultados ruins.

A virada de ano conturbada serve, portanto, como um alerta. Não basta apagar incêndios com aportes emergenciais, é preciso rever modelos, refazer contas, cobrar responsabilidades e, sobretudo, planejar com seriedade.

Caso contrário, Campo Grande corre o risco de transformar crises excepcionais em rotina permanente, e isso, definitivamente, a cidade não pode mais aceitar.

ARTIGOS

O combalido Congresso Nacional

A prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um "orçamento secreto" que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite

18/12/2025 07h45

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Para falar sobre o tema, não poderia deixar de citar uma frase célebre do ilustre brasileiro Ruy Barbosa, que foi político, jurista, advogado, diplomata e jornalista, nascido em 1849 e falecido em 1923.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Uma frase com cerca de um século de sua criação nunca foi tão atual, se comparada com os mórbidos acontecimentos vividos neste último período pela Câmara dos Deputados.

Fica evidente a prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um “orçamento secreto” que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite, propiciando a prática de atos ilícitos e imorais, travestidos de legalidade.

Deputados processados pelos mais variados tipos de crime, inclusive de lesa-pátria, incitando nação poderosa a invadir nosso país e a causar enormes prejuízos às classes produtoras e trabalhadoras, que geram as receitas que proporcionam a força necessária ao bom funcionamento da roda da economia.

Pior: parece que tudo o que vem acontecendo é encarado como fato corriqueiro pelo comandante da Câmara dos Deputados, que até chegou a ser deposto de sua cadeira por um grupo de parlamentares desordeiros e, até o momento, sem qualquer punição.

As telecomunicações alcançaram níveis impensáveis em termos de transmissão de dados, como imagens e sons de alta precisão, e, com isso, o planeta Terra tem assistido às barbáries ocorridas no plenário da Casa de Leis, habitada por um seleto grupo de homens e mulheres escolhidos pelo voto e que lhes proporciona os mais variados tipos de privilégios, consumindo recursos bilionários oriundos de pessoas físicas e jurídicas pagadoras de impostos, que não veem o necessário retorno em obras e serviços essenciais, como saúde, segurança pública e transportes.

Um fator preponderante para a continuidade desses desmandos é a hereditariedade nos cargos políticos, em que os ungidos não precisam provar capacidade técnica ou profissional para exercer um mandato.

Basta ter QI de força para manter em cabrestos os seus apaniguados, com nomeações que os tornam fiéis aos seus patrões e que, quase sempre, só deixam o cargo aposentados, com gordos salários, diferentemente do trabalhador brasileiro aposentado pelo famigerado INSS.

No ano que vem, teremos eleições majoritárias. É evidente que quem está lá não quer sair, mas está passando da hora de o cidadão consciente valorizar o poder de sua arma, qual seja, o Título Eleitoral, para promover a varredura necessária no Poder Legislativo, tanto federal como estaduais.

Por uma questão de justiça, a exceção se faz em relação aos parlamentares que reconhecidamente prestam bons serviços à comunidade.

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