Artigos e Opinião

CENAS

Leia a crônica de Oswaldo Barbosa de Almeida: "A primeira TV"

Leia a crônica de Oswaldo Barbosa de Almeida: "A primeira TV"

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A televisão no antigo estado de Mato Grosso veio pelas mãos dos pioneiros irmãos Zahran, com a instalação da TV Morena em Campo Grande e a TV Centro América em Cuiabá. Aqui a inauguração se deu no mês de dezembro de 1965. Alguns anos antes eles, também pioneiramente, haviam trazido o gás de cozinha e os fogões alimentados por esse combustível, através da Copagaz. 

Exatamente um ano depois da chegada da televisão a esta morena cidade, pude adquirir nosso primeiro aparelho receptor dos sinais mágicos, um modesto modelo com tela de 15 polegadas, com suas imagens em preto e branco. Comprei-o em São Paulo, na antiga loja de departamentos Mappin, situada no centro daquela metrópole, vez que o preço era inferior aos então praticados em Campo Grande. 

Foi quando estive na Paulicéia, em dezembro de 1966, para rescindir meu contrato de trabalho com o laboratório farmacêutico onde exerci, por minguados três meses, a frustrante (para mim) atividade de vendedor-viajante, e apresentar-me ao Banco do Estado de São Paulo a fim de tomar posse no cargo de Escriturário naquela instituição bancária, como narrei em texto anterior, publicado aqui nesta página.

Porém, a vinda desse aparelho para Campo Grande tornou-se uma verdadeira epopeia. Por essa época, nossos raros deslocamentos até São Paulo (onde moravam parentes), se davam através dos trens da Noroeste do Brasil até Bauru, e dali pela Cia. Paulista até a capital, uma vez que não havia asfalto nas estradas de Mato Grosso, e o avião estava fora do alcance de nossos bolsos.

Como eu voltaria de trem, pedi ao meu sogro, que lá passava uma temporada nacasa de uma das filhas, que despachasse o aparelho, na embalagem original, por uma das empresas aéreas que pousavam em Campo Grande. Voltei para casa e ele foi ao aeroporto de Congonhas, não conseguindo fazê-lo, porém: todas as empresas se recusaram a aceitar o transporte da encomenda, devido ao elevado risco de danos. Resultado: ele acabou vindo de trem e trazendo o volume, escondido na cabine do vagão de passageiros em que viajava (teria de despachá-lo como bagagem, mas os riscos de dano seriam grandes). 

O estratagema quase desandou: um fiscal do vagão em que viajava entrou na cabine para conferir o bilhete de passagem e se deparou com a caixa, exigindo que ela fosse despachada, alegando ser proibido o transporte de volumes na cabine. Foi preciso muita insistência e, ao final, um “agrado” ao funcionário para permitir o transporte na cabine. Mas, avisou ele, meu sogro teria de disfarçar muito bem ao desembarcar, para que o chefe não percebesse a irregularidade. No fim, tudo deu certo, e pudemos ver em casa a programação da hoje extinta TV Excelsior, de São Paulo, retransmitida pela TV Morena. A vantagem no preço desapareceu com o custo da cabine que meu sogro teve de tomar, além da “gorjeta” ao fiscal. Era o único aparelho nas vizinhanças de onde morávamos, despertando a curiosidade de alguns vizinhos que, desagradavelmente, vinham à nossa janela para assistir aos programas exibidos.

*Integrante da Academia Sul-mato-grossense de Letras e da UBE-MS

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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