Caminhando pelo centro da capital numa tarde ensolarada e quente, o que faço apenas em caso de grande necessidade, percebi logo adiante duas mulheres discutindo agressivamente. Aparentavam ser de meia idade e de condição social pertencente à “nova classe média”. Aproximando-me delas, ouvia algumas palavras ásperas dirigidas uma à outra, destacando-se alguns xingamentos.
Ia apressando o passo ao cruzar pela dupla quando fui agarrado pelo braço por uma delas, que, pedindo “por favor”, solicitou-me ajuda para resolver um problema que enfrentavam. Explicou-me ela que estavam de passagem por aqui e não conheciam nada da cidade; vieram do Sul e deveriam seguir para o norte de Mato Grosso, mas a empresa de ônibus que as transportara havia informado que não possuía linha para aquele destino, sugerindo que, chegando em Campo Grande, comprassem passagens em outra empresa para que pudessem prosseguir viagem. Desembarcaram na rodoviária, mas lá ninguém sabia onde ficava a cidade que procuravam, assim como não encontraram nenhuma empresa transportadora que pudesse levá-las ao destino final. Assim, tomaram um táxi e vieram para o centro da cidade, na esperança de conseguir alguma ajuda.
Informaram-me que vinham de Itaqueceraba e pretendiam ir para Itaqueceraba do Norte, em Mato Grosso. Perguntei onde ficava Itaqueceraba, e elas responderam que era “no sul”. “Mas em que estado?”, perguntei. Elas não sabiam! Espantado, pedi para ver o bilhete de passagem do trecho até aqui: fora emitido em Pelotas, RS. Elas disseram que fica perto dessa cidade. Disse-lhes que nunca ouvira falar de nenhuma das duas cidades, e tinha quase certeza de que em Mato Grosso não existe nenhum lugar com esse nome. Insistiram, assegurando que tinham certeza da existência da tal de Itaqueceraba do Norte.
Imploraram para que eu as ajudasse a encontrar um meio para resolver a situação. Desconfiando de algum tipo de golpe, perguntei-lhes se precisavam de dinheiro, mas, nesse quesito, afirmaram que não, tinham o bastante para todas as despesas previstas. Sem saber como ajudar, sugeri encaminhá-las a algum órgão público de assistência social, mas elas recusaram, afirmando que não queriam nada com autoridades; almejavam somente encontrar um meio de transporte para o lugar desejado. Disse-lhes que assim ficava difícil, pois, se já haviam sido informadas da inexistência de ônibus para lá, como solucionar a questão? Sugeri que o melhor seria regressar ao lugar de onde vieram, o que rechaçaram com veemência.
Então, tive uma ideia: fomos até uma livraria bem próxima dali, onde adquiri um mapa dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, um de cada lado do papel, ostentando na parte inferior a relação em ordem alfabética de todos os respectivos municípios de ambas as unidades. Em nenhum dos dois havia a tal cidade por elas procurada. Disse-lhes que, então, eu nada poderia fazer, pedi-lhes desculpas e fui me afastando, quando ouvi uma delas dizer: “Que gente estranha! Ninguém sabe de nada!”
*Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e da UBE-MS


