A liberdade certamente é um dos valores supremos ocidentais, um dos ideais de nosso estilo de vida, sobretudo em uma sociedade democrática. Ela também pode ser entendida como a capacidade que cada indivíduo tem de optar e opinar, com autonomia, dentro de um espaço em que há condicionamentos naturais. É também por meio dela que o ser humano realiza sua autodeterminação.
Para explicar a liberdade de uma forma simples: ser livre é não ter limitações. Mas ser livre, também, é ser responsável. Não existe liberdade sem responsabilidade. Boa parte dos brasileiros já cantou o caminho para se chegar à liberdade com a música “Há Tempos”, de Renato Russo e da Legião Urbana, em que ele diz que “disciplina é liberdade”.
A frase é curta, mas afirma que a liberdade pode ser quase tudo, menos inconsequente. Podemos ser livres para dizer o que quisermos. Isso é a liberdade de expressão, como garante a Constituição. Mas temos, sempre, de arcar com as consequências do que dizemos.
Depois do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que transferiu às big techs o dever de moderar o conteúdo de suas redes, o deputado federal pelo PL de Mato Grosso do Sul Marcos Pollon ingressou com um projeto de lei na Câmara que estabelece o que chama de “liberdade absoluta” no Brasil.
Mas, como diz o ditado, na casa de ferreiro o espeto muitas vezes é de pau. Enquanto propõe liberdade absoluta, Pollon, que entrou para a política sendo liderança do movimento ProArmas, o que mais fez foi processar jornais e jornalistas.
Nesta edição, o leitor terá mais detalhes de alguns desses processos, mas o que o deputado faz diante da tribuna ou do plenário e o que ele faz nos tribunais são atitudes minimamente antagônicas.
Ele e o movimento ProArmas já processaram, no passado, veículos como a TV Globo e a Folha de S. Paulo, além de jornalistas conhecidos em todo o Brasil, como Eduardo Bueno, por exemplo. No caso deste último, o processo continua ativo.
É uma pena que o mundo da prática do deputado do PL seja diferente do que ele propõe. Aliás, como ele alega nos processos contra jornalistas, o que é publicado pode ter consequências – e é verdade mesmo. O que não faz sentido é a liberdade inconsequente que ele prega. Para ser coerente, deveria desistir de processar jornalistas e pedir desculpas públicas a todos.



