Artigos e Opinião

ARTIGO

Luci Carlos de Andrade: "Como poderei viver sem a sua companhia..."

Doutora em Educação pela UFMS

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Este trecho da canção folclórica infantil – Peixe Vivo vem ilustrar a fase marcada pela infância, carente de cuidados e educação. Como pode um peixe vivo viver fora d’água fria? Como poderei viver sem a tua companhia? Como pode a criança viver sem a atenção e companhia do adulto? Como pode a criança ser desconsiderada na sua história e nos encantamentos da infância?

Como pode a criança ser vítima das irresponsabilidades, negligências e insensibilidade da família, da sociedade, do governo, etc e tal? Como pode a criança ter os laços maternos tão insanamente rompidos? A criança, hoje, em grande parte, vive ou sobrevive em ambientes poluídos de desafetos, crueldade e violência psicológica, física, desamparada nas suas necessidades, sem a ternura, o carinho, o respeito e a educação, necessários para os primeiros anos de vida. 

Os pais espalham sem medida, suas “crias”, e mergulham-nas em um faz de conta literalmente mentiroso, confuso e tóxico em todos os sentidos, impensadamente. Submetendo-as em um troca-troca de pais, mães, padrastos, avós e tias/os, vizinhos ou até desconhecidos. Todos coletivamente responsáveis pela criança, perdida em meio a uma miscelânea de hábitos, ou maus hábitos, vícios, pornografias, regras, na maior parte ausência delas.... Como poderá a criança viver assim? E suas potencialidades? E o respeito às suas particularidades/necessidades? A criança possui uma riqueza inesgotável de possibilidades, desde o nascimento até ao longo de toda infância, necessitando de referências, atenção, orientações, educação. “A criança absorve a total agudez das palavras, dos gestos, da agressividade dos adultos, incorporando no seu “eu” os sentimentos alheios”. 

Esse é um pensamento do Francês Merleau Ponty, que ainda acrescenta: “a relação humana e parental vai garantir, de forma tanto positiva quanto negativa, de forma saudável ou nociva, à construção do “eu”, na criança”. Essas relações é que serão a base, o alicerce da criança, futuro cidadão. Ainda lembrando dos pensadores da Educação, destacamos o que Jean-Jacques Rosseau dizia, que “a criança será o que fazermos dela. 

A criança é um ser em condição única, à espera de orientação, carinho e formação”. Nos lares, as vivências, as relações, o cotidiano imerso em um emaranhado de conflitos, distorções, contradições e descasos com as necessidades da criança, só nos faz lamentar que hoje, não é o boi da cara preta, ou a cuca, que amedrontam as crianças. 

Os desajustes familiares, a inconstância das relações, os abusos e maus tratos, o desrespeito e a falta de educação e amor aos filhos, é que retratam o bicho papão a arruinar a docilidade e inocência próprias da infância. Não é o anel que era de vidro e se quebrou...é a família que se desmantelou. 
A impaciência e a desatenção que sufocou, ou o amor que era pouco, o que nem existiu que se acabou. A canoa...irremediavelmente virou!
 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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