Artigos e Opinião

OPINIÃO

Luciana Azambuja Roca: "Mais mulheres na política, mais políticas para as mulheres!"

Subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres de MS

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Na mesma semana em que nossa Constituição Federal completou 30 anos, tivemos eleições para a Presidência e Senado da República, para a Câmara Federal, para as Assembleias Legislativas e Governos em todo o Brasil.

Mas por que esse paralelo? Para lembrar que nossa Carta Magna, nossa Constituição Cidadã, principal símbolo da redemocratização do País, consagrou como princípio fundamental a cidadania e a dignidade da pessoa humana, estabelecendo a igualdade entre homens e mulheres, na forma da lei, em direitos e obrigações (art. 5º, inciso I).

No entanto, nós, mulheres, continuamos vivenciando desigualdades, suportando uma cansativa dupla jornada que nos remunera de forma reduzida no mercado de trabalho e nos impõe a principal responsabilidade pela organização do lar, pelo cuidado com os filhos e com outras pessoas da família.

A mulher ainda tem como reservado para si o ambiente doméstico, o ambiente privado – enquanto o público é para o homem. Os espaços de poder, principalmente na política, ainda são predominantemente masculinos. E essa é uma constatação fácil de se comprovar bem de perto, quando analisamos o resultado eleitoral de domingo (7), aqui em nosso Estado.

Apesar da quota que estabelece um porcentual mínimo de 30% para candidaturas de gênero (e não “de mulheres” como usualmente utilizado) e do registro de mais de 100 candidaturas femininas, não logramos eleger nenhuma mulher para nossa Assembleia Legislativa no Estado de Mato Grosso do Sul.

Esse resultado me incomodou. E incomoda muita gente que se pergunta por que, num Estado onde 52,12% do eleitorado é feminino, nenhuma deputada foi eleita. Pela primeira vez desde 1991, teremos as 24 cadeiras da Assembleia ocupadas por 24 homens. As regras eleitorais impediram a vitória de candidatas com mais votos do que alguns eleitos, é verdade, mas o fato é que não haverá mulheres deputadas na nossa Assembleia a partir de janeiro do ano que vem.

A sub-representação da mulher na política importa, sim. E não só às mulheres, mas a toda a sociedade que se julga democrática e participativa. Quanto menor a participação da mulher na política, maior a desigualdade que se revela nos altos índices de violência contra a mulher, no pagamento de salário desigual para trabalhos iguais, na perpetuação de preconceitos, discriminações e estereótipos de gênero.

E não, não são as mulheres que não se interessam por política. O que percebemos é que, de modo geral, há pouco incentivo às candidaturas femininas e ainda existe grande preconceito do eleitorado, por alguma razão que eu, sinceramente, não consigo entender, uma vez que somos igualmente capazes e competentes para o exercício do cargo. Por isso, é preciso falar sobre igualdade de direitos e de oportunidades entre homens e mulheres, sobre sororidade, sobre empoderamento, sobre espaços de poder, sobre políticas públicas para as mulheres e sobre o efetivo exercício da cidadania.

Mas em que pese essa triste realidade de Mato Grosso do Sul, alegra-nos saber que, na Câmara dos Deputados, a bancada feminina cresceu – de 51 para 77 parlamentares mulheres – e que, na próxima legislatura, teremos duas representantes do Estado: Tereza Cristina (DEM, reeleita) e Rose Modesto (PSDB), eleita com a maior votação entre todos os concorrentes.

Pela primeira vez, teremos também duas senadoras eleitas por Mato Grosso do Sul: Simone Tebet (MDB), que exerce mandato desde 2014 e Soraya Thronicke (PSL), que desbancou nomes tradicionais e favoritos nas pesquisas e se elegeu no domingo (7).

No cenário nacional, uma candidata a deputada estadual bateu o recorde de votação na história brasileira: Janaína Paschoal (PSL) foi eleita com mais de 2 milhões de votos para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Pela primeira vez, tivemos também a eleição de uma deputada indígena: Joenia Wapichana (Rede), que representará Roraima na Câmara Federal. Erica Malunguinho (PSOL) é a primeira pessoa transgênera eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo. Mara Gabrilli (atual deputada federal – PSDB/SP) foi eleita com mais de 6,5 milhões de votos no maior colégio eleitoral do País e representará a todas as mulheres com deficiência no Senado da República. A Bahia, um estado com grande maioria da população declarada parda ou negra, elegeu pela primeira vez uma mulher negra para a Assembleia Legislativa: parabéns a Olivia Santana (PCdoB).

Cada uma de nós, portanto, tem importante papel nessa mudança cultural para que a participação das mulheres na política seja uma prática normal e corriqueira desde a juventude – e, consequentemente, para que tenhamos mais políticas para as mulheres. E mais mulheres de todos os segmentos, porque representatividade importa.

Precisamos, pois, despertar o interesse das mulheres e das meninas para a atividade político-partidária. Precisamos falar sobre direitos sociais e direitos políticos, porque lugar de mulher é na política e onde mais ela quiser.

Acreditamos que o aumento da participação das mulheres nos espaços de poder contribui para a superação das desigualdades de gênero e vamos lutar para a superação das desigualdades – assim, talvez, possamos atingir a igualdade jurídica entre homens e mulheres, estabelecida pela nossa Constituição Cidadã há 30 anos.

E, com esse pensamento, nossa missão é dizer a todas as mulheres que elas não só podem, como devem, ter papel ativo na vida pública em seus municípios e estados, bem como ocupar mais espaços na política partidária.

E que, nas próximas eleições, tenhamos uma grande bancada feminina!

 

EDITORIAL

Crises de fim de ano expõem falha na gestão

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa

19/12/2025 07h15

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A virada para 2026 entra para a história recente de Campo Grande como uma das mais conturbadas dos últimos anos. Talvez desde meados da década passada não se via uma sucessão tão clara de crises financeiras e falhas na engrenagem dos serviços públicos locais justamente no momento em que a cidade deveria buscar estabilidade para atravessar o novo ano.

O problema não é pontual tampouco isolado: ele se repete em áreas essenciais e expõe fragilidades estruturais que vêm sendo empurradas com a barriga.

A greve do transporte coletivo, encerrada apenas no início da noite de ontem, é um retrato fiel desse cenário. Durante quatro dias, a população ficou refém de um sistema que parou porque o Consórcio Guaicurus não tinha recursos para pagar salários.

A solução não veio de uma gestão eficiente ou de um planejamento responsável, mas de um socorro emergencial do governo do Estado, que antecipou mais de R$ 3 milhões referentes a uma das parcelas do subsídio ao passe do estudante. Ou seja, o serviço só voltou a funcionar quando o dinheiro público entrou para tapar mais um buraco.

Situação semelhante se repete na Saúde. A Santa Casa, há anos em crise, agora está sob determinação judicial para apresentar um plano capaz de enfrentar um deficit que parece não ter fim. No transporte coletivo, a Justiça foi além e determinou uma intervenção no consórcio responsável pelo serviço.

Quando decisões judiciais passam a ditar os rumos da gestão, fica evidente que algo falhou muito antes, seja na formulação dos contratos, seja na fiscalização ou na condução cotidiana desses serviços.

A raiz comum dessas crises é conhecida, embora frequentemente ignorada: mau planejamento, gestão ineficiente e falta de zelo por parte de quem executa e, principalmente, de quem deveria fiscalizar contratos milionários. Não se trata apenas de escassez de recursos.

Trata-se de como esses recursos são utilizados, de modelos que se mostram esgotados e de contratos que não resistem ao primeiro choque mais sério.

O mais preocupante é que, mesmo após a injeção de milhões de reais do poder público na Santa Casa e no Consórcio Guaicurus, o dinheiro continua insuficiente. Isso deixa claro que o problema é estrutural.

As verbas estão, de fato, mais apertadas neste ano, mas a crise não nasceu agora. Ela é fruto de anos de escolhas erradas, de ausência de transparência e de tolerância com resultados ruins.

A virada de ano conturbada serve, portanto, como um alerta. Não basta apagar incêndios com aportes emergenciais, é preciso rever modelos, refazer contas, cobrar responsabilidades e, sobretudo, planejar com seriedade.

Caso contrário, Campo Grande corre o risco de transformar crises excepcionais em rotina permanente, e isso, definitivamente, a cidade não pode mais aceitar.

ARTIGOS

O combalido Congresso Nacional

A prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um "orçamento secreto" que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite

18/12/2025 07h45

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Para falar sobre o tema, não poderia deixar de citar uma frase célebre do ilustre brasileiro Ruy Barbosa, que foi político, jurista, advogado, diplomata e jornalista, nascido em 1849 e falecido em 1923.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Uma frase com cerca de um século de sua criação nunca foi tão atual, se comparada com os mórbidos acontecimentos vividos neste último período pela Câmara dos Deputados.

Fica evidente a prática do corporativismo, dos conchavos, da legislação em causa própria, com um “orçamento secreto” que nada mais é do que um passaporte para a impunidade, aprovado na calada da noite, propiciando a prática de atos ilícitos e imorais, travestidos de legalidade.

Deputados processados pelos mais variados tipos de crime, inclusive de lesa-pátria, incitando nação poderosa a invadir nosso país e a causar enormes prejuízos às classes produtoras e trabalhadoras, que geram as receitas que proporcionam a força necessária ao bom funcionamento da roda da economia.

Pior: parece que tudo o que vem acontecendo é encarado como fato corriqueiro pelo comandante da Câmara dos Deputados, que até chegou a ser deposto de sua cadeira por um grupo de parlamentares desordeiros e, até o momento, sem qualquer punição.

As telecomunicações alcançaram níveis impensáveis em termos de transmissão de dados, como imagens e sons de alta precisão, e, com isso, o planeta Terra tem assistido às barbáries ocorridas no plenário da Casa de Leis, habitada por um seleto grupo de homens e mulheres escolhidos pelo voto e que lhes proporciona os mais variados tipos de privilégios, consumindo recursos bilionários oriundos de pessoas físicas e jurídicas pagadoras de impostos, que não veem o necessário retorno em obras e serviços essenciais, como saúde, segurança pública e transportes.

Um fator preponderante para a continuidade desses desmandos é a hereditariedade nos cargos políticos, em que os ungidos não precisam provar capacidade técnica ou profissional para exercer um mandato.

Basta ter QI de força para manter em cabrestos os seus apaniguados, com nomeações que os tornam fiéis aos seus patrões e que, quase sempre, só deixam o cargo aposentados, com gordos salários, diferentemente do trabalhador brasileiro aposentado pelo famigerado INSS.

No ano que vem, teremos eleições majoritárias. É evidente que quem está lá não quer sair, mas está passando da hora de o cidadão consciente valorizar o poder de sua arma, qual seja, o Título Eleitoral, para promover a varredura necessária no Poder Legislativo, tanto federal como estaduais.

Por uma questão de justiça, a exceção se faz em relação aos parlamentares que reconhecidamente prestam bons serviços à comunidade.

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