Artigos e Opinião

OPINIÃO

Luiz Fernando Mirault Pinto:
"Baleia azul e as reformas"

Físico e administrador

Redação

09/08/2017 - 01h00
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Notícias circularam na web sobre um “jogo” virtual que induzia os jovens  a um desafio, por meio de aplicativos de mensagens, sendo o nível máximo conquistado com o suicídio, uma autoeliminação real.   

Para alguns, a relação jogo-suicídio foi remotamente considerada e acreditam que não seriam comandados por pessoas reais; as ordens e o desenvolvimento das tarefas desafiantes seriam dirigidos por robôs, uma vez que existe um padrão na comunicação que se assemelha aos bots, programas viróticos, que simulam ações repetitivas de características dos humanos. Infectando a máquina e submetendo os usuários à orientação de invasores, eles a tornam um veículo de mensagens indesejáveis, anúncios, e passível de revelar códigos armazenados, senhas e informações confidenciais.

Especialistas admitem um padrão simples de ação que envolve um número pequeno de variáveis assemelhado aos existentes no mercado de consumo, utilizando-se basicamente de perguntas e respostas, no caso deste jogo, 50 tarefas.

Associar a possibilidade de automatização das relações sociais e o reflexo do comportamento patológico humano é uma ideia surreal, do mundo da ficção, uma história criada a partir da imaginação, irreal, mas absurdamente plausível porque a realidade cibernética já trata da robótica (máquinas vivas, direcionadas às tarefas produtivas dos seres humanos); da inteligência artificial (o uso de máquinas na execução autônoma de ações humanas), e da computação cognitiva (treinamento de um sistema operacional baseado na geração de conhecimento, da interpretação, extração do significado dos dados e do tratamento de informações relevantes).

Perscrutar as redes sociais em busca de lacunas, informações, identificar usuários fragilizados, massa de manobra insatisfeitas, promover conflitos e convulsões são possibilidades reais no campo virtualizado. Existe uma relação entre possível, real, virtual e atual que se apresentam diferentemente de acordo com o fenômeno em que atuam.

Os jovens com o acesso a web acreditam que podem se manifestar protegidos pelo anonimato ao se relacionarem com o desconhecido, embora movidos pela curiosidade, pela competitividade, pelo desafio desconhecem os riscos e a própria vulnerabilidade frente ao mundo insólito e passam a sentir-se excluídos dos grupos e suas virtudes.

Naturalmente, a preocupação inicial se dirige aos jovens, embora não devamos descartar a todos que têm atração e predisposição pela distopia, (contrario da utopia - filosofia de uma sociedade ideal, a ponto de ser fictícia). A distopia se caracteriza pela atração mórbida, pela destruição, enfermidade social coletiva produzida pela opressão, autoritarismo, e controle da sociedade que passa a se apresentar corruptível e anômica, sem organização e regras, levando ao adoecimento psíquico com o aumento crescente de psicopatas.

Os envolvidos com o jogo relatam que no seu decorrer, ameaças são prometidas caso haja desistência, levando-os a seguir em frente com medo de represálias, promessas e prognósticos negativos. Quem já tem experiência de vida sabe que o medo é a arma do controlador. 

Analogamente ao jogo, o cenário sociopolítico atual também estaria ameaçado pelo presságio negativo incutido na população, justificando a necessidade e a urgência das reformas administrativas, institucionais e estruturais propostas: risco do fim da aposentadoria num futuro próximo, onde deixaria de existir a manutenção de benefícios, em função de um suposto e duvidoso deficit previdenciário; a garantia do emprego ameaçada e o aumento do desemprego no porvir a exigir a reforma trabalhista; a terceirização como remédio para o desenvolvimento; o engodo do controle inflacionário beneficiando a população por meio do aumento de juros favorecendo bancos e rentistas; as medidas restritivas aos gastos públicos divulgados como independentes dos investimentos dos programas sociais. Numa escala maior que a do jogo, essas ameaças que sujeitam a sociedade a pressões negativas podem levar ao suicídio da democracia à semelhança do comportamento da baleia azul (mamífero) que escolhe morrer na praia e levando outras ao mesmo fim.

Da mesma maneira que os jovens podem ser envolvidos em desafios absurdos de um suposto jogo, a população vem sendo submetida a falsas propagandas e promessas incorrendo no mesmo perigo ao colocarem seu futuro nas mãos de políticos desacreditados. 

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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